Projeção da CNC é que vendas cresçam 2,3%, o pior desempenho desde 2004. Saara prevê queda de 15%
POR BRUNO ROSA / CÁSSIA ALMEIDA
Apesar de mais de dois milhões de consumidores terem ido aos principais shoppings do Rio e ao Saara no último fim de semana antes do Natal, as vendas devem ter o menor crescimento em dez anos. A Confederação Nacional do Comércio (CNC) projeta alta de apenas 2,3% neste fim de ano. No Natal de 2013, o avanço foi de 5,1%.
Com a desaceleração da economia, os lojistas estão fazendo de tudo para animar as vendas, buscando compensar ao menos em parte o ano fraco. As ações incluem promoções e parcelamentos mais longos. Segundo pesquisa da consultoria GSGroup, 90% dos 192 shopping centers pesquisados no país estão sorteando prêmios, alta de 16% em relação ao ano passado.
— A promoção de Natal do RioSul, que este ano sorteia carros, já superou em 10% sua expectativa inicial. Este mês, os clientes aumentaram sua permanência no shopping em cerca de 40%. Também buscam pesquisar mais as ofertas — disse Ana Gabriella Affonso, gerente de Marketing do RioSul.
O BarraShopping, que recebeu cerca de 500 mil pessoas no fim de semana, também aposta no sorteio de carros — mas só para quem comprar mais de R$ 500. Entre as lojas, muitas ofertas. A Cacau Show esticou o número de prestações, de duas para três. Na RiHappy, do Shopping Grande Rio, o parcelamento no cartão subiu de três para dez vezes. Já na loja da Oi no Pátio Alcântara, em São Gonçalo, em vez de cinco, pode-se pagar em 12 vezes. E a Maria Filó do Botafogo Praia Shopping, que parcela em até oito vezes, criou outra oferta: na compra de três peças, a de menor valor sai de graça.
— Para atrair o consumidor, estamos sorteando um relógio para quem comprar qualquer valor — explicou Flora Carvalho, gerente da loja Victor Hugo no Shopping Nova América.
A Mercatto do NorteShopping registra aumento de 5% este ano. E a gerente Débora Couto espera que o número suba ainda mais, graças a uma promoção:
— A cada R$ 200 em compras o cliente ganha um cupom para participar do sorteio de carro e tablets.
‘O PIOR NATAL QUE JÁ TIVEMOS’
Na Saara, tradicional centro de comércio popular do Rio, lojistas reclamam do movimento e projetam queda de 15% nas vendas. Do fim de semana até a véspera do Natal, a expectativa é que mais de 600 mil pessoas passem pela Rua da Alfândega e adjacências, quase a metade do fluxo de 2013, segundo Enio Bittencourt, presidente da Saara há 25 anos.
— Acho que é o pior Natal que já tivemos. Estamos torcendo para ficar igual ao ano passado. Desde a Copa, a situação está ruim. As ruas estão cheias, mas ninguém compra — afirmou Bittencourt, que tem loja na Saara desde 1962.
Além de fatores estruturais, como a criação de outros polos populares de venda, o comércio no Centro tem sofrido com as obras na região. A falta de estacionamento afasta os clientes habituais e diminui o fluxo de consumidores.
— O próprio prefeito (Eduardo Paes) pede para o povo não descer para o Centro da cidade, onde ficam as 1.200 lojas da Saara. E a economia não ajudou — disse Bittencourt.
Dono de uma loja de enfeites natalinos, Maiko Riche também reclama do movimento menor:
— É claro que as vendas estão duas a três vezes maiores que em um fim de semana comum. Mas há dez anos, eram 20 vezes maiores. A especulação imobiliária foi acabando com os estacionamentos ao redor da Saara e agora, com as obras, não há mais onde parar. O fluxo diminuiu muito.
Fazendo compras no Saara, a empresária Aline Godoy e sua mãe, Marinete, estavam com cerca de 80 presentes:
— Além da família grande, compro para meus clientes. Mas este ano estou gastando 30% menos. As coisas estão mais caras — disse Aline.
GENEROSIDADE COM CRIANÇAS
A assistente social Vanessa Abe, no entanto, contou ter gasto 20% a mais que no ano passado. A chegada do filho Felipe, de quatro meses, a deixou generosa:
— Depois que temos filhos, ficamos com mais vontade de dar presentes para as crianças. Estou gastando no máximo R$ 60 por presente. Mas só compro aqui na Saara. No shopping, nem passo, porque é mais caro.
Segundo o professor de Varejo da Fundação Getulio Vargas Daniel Plá, as queixas não se limitam ao comércio popular:
— Os shoppings de classe média alta devem ter queda de até 20% nas vendas — garantiu.
Veículo: Jornal O Globo