De olho no consumidor consciente

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Na esteira da valorização da sustentabilidade ambiental e social, investir em produtos certificados como sendo de "comércio justo" é uma oportunidade para empresas de olho em consumidores conscientes. Para aproximar produtos brasileiros de compradores nacionais e internacionais, o Sebrae/RJ organizou o I Encontro Internacional de Comércio Justo e Solidário, encerrado ontem no Rio. Segundo a organização, cerca de 100 grupos produtores de dez estados participaram. A expectativa é gerar vendas de R$ 1,2 milhão nos próximos seis meses.


Relação comercial baseada em diálogo, transparência e respeito, que busca maior eqüidade no comércio internacional, o conceito de comércio justo é discutido e trabalhado na Europa há cerca de 30 anos. A idéia central é aumentar a remuneração de pequenos produtores com a eliminação de intermediários.


No comércio justo, geralmente a intermediação é feita por organizações não governamentais (ONGs), responsáveis também por certificar os produtores, fiscalizando a observação a critérios de sustentabilidade ambiental e social. Uma das principais ONGs é a FLO (Fair Trade Labelling Organizations International, criada em 1997, na Alemanha), que trabalha com 600 organizações de produtores, englobando cerca de 1 milhão de famílias na África, Ásia e América Latina.


Embora o comércio justo seja incipiente e responda por parcela ínfima das trocas comerciais internacionais movimenta US$ 2,3 bilhões por ano em todo o mundo, segundo dado levantado pelo Sebrae/RJ , além de enfrentar gargalos como dificuldades de se obter certificação e preços finais elevados, pode ser um diferencial perante consumidores conscientes. A maioria das lojas associadas a ONGs certificadoras ficam na Europa e nos Estados Unidos.


Presente no evento do Sebrae/RJ, a rede de lojas de produtos naturais Mundo Verde, com 130 unidades em todo o País, e já presente em Portugal e Angola, já vende produtos certificados e planeja investir mais. Para um dos sócios da rede fundada em Petrópolis, Jorge Eduardo Antunes, o ideal de comércio justo combina com a proposta da empresa. "Tenho observado que o consumidor cada vez mais procura produtos de comércio justo porque eles se tornam uma espécie de mensagem sobre a importância da sustentabilidade", conta.


Segundo Antunes, o retorno com produtos de comércio justo é satisfatório e receberá mais investimentos. O empresário conta que tem feito viagens à Amazônia com o objetivo de encontrar fornecedores de produtos locais de origem sustentável, produzidos por comunidades.


Adriano Nascimento Silva possui três franquias da rede no Rio (em São Cristovão, na Tijuca e um quiosque na estação de metrô Siqueira Campos, em Copacabana) e vê a iniciativa com bons olhos. "Na loja da Tijuca, para complementar as ações ligadas à sustentabilidade, fiz um projeto de recolhimento de óleo de cozinha. Clientes que levam um litro de óleo usado ganham 1% de desconto", conta.


Segundo o consultor francês Arturo Palmas Torres, associado ao Research and Information Center on Democracy and Autonomy (Crida), a venda final de produtos de comércio justo está mais solidificada na Europa. "Tem lojas que já funcionam há 40 anos. Alguns supermercados vendem alimentos com certificado de comércio justo também. Da produção brasileira, café, cacau, banana e laranja são os destaques", conta Torres. Segundo ele, a perspectiva é de crescimento. "O mercado ainda não é suficiente para todos os produtores, mas o segmento de alimentos cresce 40% ao ano na Europa e nos Estados Unidos e isso está vindo para o Brasil", completa.

 

França. A empresa francesa Fair Planet vende na Europa algodão e alimentos de comércio justo produzidos em comunidades do Rio de Janeiro e Petrópolis. Para vender roupas, a empresa cirou na França a marca "TudoBom?". Segundo um dos sócios dessa empresa, Thomas Favennec, a empresa compra algodão, máquinas e organiza o trabalho. "Nada é de graça. As compras de material e maquinas são pagas com trabalho", conta.


Em Paris, além da loja, as roupas são vendidas em várias multimarcas e fazem sucesso por serem feitas a partir desse trabalho. "Na produção, cada etapa tem uma perspectiva social e ambiental. A produção de algodão, por exemplo, é feita com pequenos agricultores organizados em cooperativa e as costureiras são de um grupo de Petrópolis. Assinamos um contrato anual com os grupos produtores, com um pagamento mínimo", conta Favennec.


As dificuldades decorrentes da falta de estrutura de produção são resolvidas com diálogo. "A partir do momento que você mostra que está pagando um preço justo e está dando possibilidades para eles crescerem, tudo muda. Não pagamos a mais, pagamos um preço justo para um produto diferente", acrescenta o empresário.


Para aumentar a produção dessas comunidades, a empresa trabalha também com microcrédito. "Além disso, os produtores ficam livres para trabalhar com outras empresas. Nosso papel é impulsioná-los, fazê-los crescer, mas sem dar nada de graça. Fazemos tudo, sempre na base de troca de trabalho", diz Favennec.


No Brasil, o Sebrae, que apóia 30 grupos produtores, incentiva pequenos comerciantes, a fazerem parcerias com grandes marcas para entrarem no sistema de distribuição de produtos de comércio justo. "O conceito do comércio justo tem crescido porque existem cada vez mais consumidores com consciência social. Os produtos alimentícios chamam atenção porque fazem bem à saúde, não tem agrotóxico, levam em conta o meio ambiente, fazendo bem para sociedade em geral", conta o diretor-superintendente do Sebrae/RJ, Sérgio Malta.

 

Veículo: Jornal do Commercio - RJ


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