Boicote da Barnes & Nobles afeta Amazon

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Considere um dos títulos mais importantes da Amazon para a atual temporada, a autobiografia da atriz e diretora Penny Marshall "My Mother Was Nuts" (Minha mãe era maluca, em tradução livre). Foram vendidas apenas 7 mil cópias da versão em capa dura nas quatro primeiras semanas depois da estreia, segundo a Nielsen BookScan. Em comparação, a autobiografia do ator Rob Lowe, de 2011, "Stories I Only Tell My Friends" (Histórias que só conto aos amigos), publicada pela Macmillan Henry Holt & Co., vendeu 54 mil cópias de capa dura em suas primeiras quatro semanas.

Nem todas as memórias de celebridades são um sucesso, é claro, e Marshall não está entre as estrelas mais conhecidas de Hollywood. Mas um provável fator para as fracas vendas do livro nos Estados Unidos é que ele é bem difícil de achar. Os volumes não foram estocados nas lojas da rede de livrarias Barnes & Noble, ou das gigantes varejistas Walmart ou Target, o que já elimina 689 pontos de venda. E a versão digital não foi colocada à venda em lojas de livros eletrônicos operadas pela Sony, Apple ou Google.

No caso da maior rede de livrarias dos EUA, a ausência foi resultado de um boicote. A Barnes & Noble anunciou em janeiro que não iria estocar títulos publicados pela Amazon, citando a decisão desta de assinar com alguns autores e editoras contratos pelos quais seus livros só ficariam disponíveis para clientes da Amazon. Mas o livro de Penny Marshall está disponível a todos os varejistas. E também é o primeiro grande título da Amazon desde que o boicote começou.

Os outros varejistas dizem que não estão boicotando a editora Amazon Publishing, embora a posição da companhia como concorrente seja um fator para alguns. "Eu não quero ser uma vitrine para a Amazon", diz Mitchell Kaplan, dono de três livrarias Books & Books na Flórida. Ele diz que suas lojas vão atender a encomendas de clientes de livros da Amazon, assim como fará a Barnes & Noble.

Russ Grandinetti, vice-presidente da Amazon de conteúdo para o Kindle - o leitor de livros eletrônicos da Amazon -, diz que as vendas de e-books têm sido "muito maiores" que as da versão capa dura, embora a empresa não dê detalhes. O livro de Marshall foi o 3º, por duas semanas, na lista do "The Wall Street Journal" de e-books de não ficção mais vendidos. O agente literário de Marshall não quis comentar.

O boicote da Barnes & Noble prejudicou os esforços editoriais da Amazon de outras maneiras.

O número de grandes autores que assinaram com a Amazon Publishing New York caiu bastante este ano, depois de uma leva de contratos com autores do porte de Timothy Ferriss, Deepak Chopra e seu irmão Sanjiv, e James Franco, assinados por Larry Kirshbaum, um veterano do mercado editorial que entrou para a Amazon no começo do ano passado.

Embora a editora ainda esteja em busca de sucessos, ela está pondo mais ênfase em obras como a nova biografia de Benjamin Anastas "Too Good to Be True" (Bom demais para ser verdade), que tendem a ter contratos mais baratos e o potencial de gerar mais lucros se venderem bem.

O boicote destaca as crescentes tensões no mercado livreiro conforme cresce a concorrência. Amazon, Barnes & Noble, Apple, Google e Sony estão competindo para vender e-books, leitores eletrônicos e tablets.

À medida que a Amazon se torna mais forte em vendas de todos os tipos de produtos, inclusive itens de supermercado, outros varejistas também começam a tomar partido. Walmart e Target recentemente pararam de vender o Kindle, embora continuem a vender o concorrente Nook, da Barnes & Noble. Walmart disse apenas que a decisão "é consistente com nossa estratégia geral de mercadorias". A Target disse a analistas que a decisão era apropriada "para nós".

"É hora de pânico", disse Siva Vaidhyanathan, professor de comunicação social na Universidade de Virginia. "A ideia de que uma companhia poderosa como a Amazon tenha uma quantidade tão tremenda de influência sobre o que a gente lê, quanto os autores ganham e em qual formato o livro vai sair é mesmo assustador para o setor livreiro e outras indústrias."

A Amazon entrou no mercado editorial discretamente em 2009, inicialmente contratando autores independentes cujos livros tinham vendido bem e republicando essas obras com bastante marketing através de uma nova editora chamada AmazonEncore.

Um ano mais tarde, ela começou a publicar traduções por meio de uma editora chamada AmazonCrossing. Entre seus sucessos esta o escritor alemão Olilver Pöotzsch.

A Amazon esquentou a disputa ao contratar Kirshbaum para dirigir um novo negócio editorial de interesse geral em Nova York. Ex-diretor da editora de livros do grupo Time Warner, ele era conhecido por gastar generosamente para contratar escritores.

Sua contratação foi um sinal de que a Amazon Publishing queria concorrer pelos grandes escritores de ficção e de não ficção.

A Amazon pagou cerca de US$ 800 mil por "My Mother Was Nuts", dizem executivos do setor.

Pelas medidas tradicionais, ela precisa vender cerca de 75 mil exemplares em capa dura e de 30 mil a 40 mil cópias digitais para recuperar o adiantamento e os custos de marketing. Ou ela pode vender 100 mil e-books e cerca de 25 mil capas duras.

Nos EUA, é hábito lançar o livro em capa dura por um preço mais alto, antes de pôr à venda versões em brochura ou formato de bolso.

Se a Amazon vai conseguir recuperar força com os autores depende de como ela responda ao boicote. "A questão é se a Amazon Publishing conseguirá compensar as vendas de outras maneiras", diz o agente literário Scott Waxman. "Se os agentes tiverem confiança de que as mercadorias da Amazon vão cobrir a diferença, a Amazon vai conseguir grandes livros."



Veículo: Valor Econômico


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