Fabricantes de cama, mesa e banho tentam se reestruturar

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Após um primeiro semestre de vendas fracas, as fabricantes de cama, mesa e banho moderam o otimismo para a segunda metade do ano, tradicionalmente a época mais movimentada para o setor. Passados os tropeços com a alta no preço do algodão em 2011, boa parte das empresas depende ainda do sucesso de operações de capitalização e renegociação de dívidas para sair do vermelho.

Na Karsten, as vendas no primeiro semestre ficaram "empatadas" em relação a um ano antes, segundo o diretor comercial da companhia, Ademar Bublitz. Ele crê num melhor desempenho na segunda metade do ano, o que levaria a companhia a encerrar 2012 com um modesto crescimento de um dígito.

Consciente de que a economia ainda não está aquecida, ele diz que a Karsten vive uma fase de "otimismo com os pés no chão". O pior momento, diz Bublitz, já passou.

Em 2011, a empresa apostou que o mercado iria absorver os maiores preços do algodão, mas isso não aconteceu. A rentabilidade da operação ficou comprometida e, em alguns momentos, a Karsten chegou a dar férias coletivas para os seus funcionários. "Foi um ano em que não conseguimos nos preparar para a demanda do Natal e até deixamos de vender", explica.

Com a cotação do algodão agora em patamares normais, a Karsten voltou a dar lucro operacional. Mas ainda carrega o peso do alto endividamento. "Compramos algodão a um preço muito elevado", diz Bublitz.

A consequência disso é que as linhas financeiras do balanço da empresa passaram a consumir todo os ganhos da operação, fazendo com que a companhia entregasse uma sucessão de resultados negativos nos últimos 18 meses. Nesse período, o patrimônio encolheu de R$ 101 milhões para R$ 32,6 milhões.

O tamanho do prejuízo, no entanto, vem diminuindo. No primeiro semestre foi de R$ 6,2 milhões - no mesmo período do ano passado ficou em R$ 24 milhões.

Bublitz prefere não dar detalhes sobre as negociações para o alongamento da dívida da companhia. Ao fim de junho, a dívida bruta total era de R$ 255,5 milhões. Diz apenas que a empresa aposta na sua recuperação operacional, com forte controle de despesas administrativas, para ganhar credibilidade no mercado. "No mês de agosto, as vendas cresceram 10% em relação a agosto do ano passado", acrescenta.

Vice-presidente da Teka, Marcello Stewers, diz que sentiu que as fontes de crédito para o setor se retraíram. Além disso, o executivo está pessimista em relação as vendas e acha que, ainda que o segundo semestre seja melhor, não conseguirá recuperar o desempenho "péssimo" do primeiro. "Esperamos que 2012 seja um ano sem crescimento", diz.

Após vencer uma ação judicial sobre tributos, a Teka registrou R$ 251,5 milhões em receitas extraordinárias, o que fez a companhia apresentar um lucro de R$ 77 milhões no primeiro semestre, contra prejuízo de R$ 96 milhões um ano antes. Mas antes desse efeito, a receita com vendas da empresa foi totalmente consumida pelos seus custos e despesas.

Depois da Buettner, que está em recuperação judicial, a Teka tem provavelmente uma das situações financeiras mais delicadas entre as companhias do setor de cama, mesa e banho listadas na bolsa. Alguns ajustes operacionais têm sido realizados pela empresa. Entre eles, o recente encerramento das atividades da fábrica de cobertores de Itapira, em São Paulo, e a demissão de 800 funcionários para adequar a sua capacidade de produção à demanda. "Além disso, estamos saindo de alguns clientes problemáticos e focando em margem, não mais em volume", disse Stewers.

Ao fim do primeiro trimestre, a empresa acumulava um passivo a descoberto de R$ 780,89 milhões, contra R$ 870 ao fim de 2011. O executivo prefere não comentar o andamento da complexa operação de capitalização da empresa com o fundo Global Emerging Markets (GEM), anunciada no ano passado. Diz apenas que a primeira "tranche" foi concluída com sucesso.

Após a divulgação de resultados do segundo trimestre, o presidente da Coteminas, Josué Gomes da Silva, comentou que o inverno ameno e a desaceleração prejudicaram a companhia no período. As vendas, disse o empresário, não cresceram conforme o esperado. A empresa é dona das marcas Santista, M.Martan, Artex e Casa Moysés.

Silva espera um desempenho melhor da empresa, principalmente dos pontos de venda M.Martan e Artex. Com prejuízo de R$ 42,5 milhões no semestre, a companhia está corrigindo erros de mix nas lojas próprias. Segundo o empresário afirmou em agosto, esse movimento deve coincidir com um maior ritmo de expansão da economia, níveis de inadimplência em queda e taxa de juros mais baixas.

No momento, a Coteminas está se reestruturando operacionalmente e o no mercado de capitais, com anúncio de migração para o Novo Mercado. Seu braço com maior exposição ao varejo, a controlada Springs, terá um aumento de capital de R$ 169 milhões.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Aguinaldo Diniz Filho, acredita que a maturação de medidas como a desoneração da folha salarial e o afrouxamento monetário deve promover um segundo semestre mais confortável para as empresas.

No entanto, o setor ainda amarga perda de mercado para concorrentes internacionais, principalmente chineses, afirma Diniz. "O aumento da competitividade do produto local depende de uma queda drástica do custo de produção no Brasil, que só será possível a partir de reformas tributária, trabalhista, melhoria da infraestrutura e barateamento de transporte e energia".


Com caixa, Döhler cresce e vê 2013 forte

Exposta aos mesmos desafios setoriais que Coteminas, Buettner, Karsten e Teka, a Döhler se diferencia dessas empresas por apresentar uma situação financeira mais confortável. A companhia não encerra um exercício com prejuízo desde 2007.

Capitalizada, a Döhler conseguiu driblar os problemas com algodão, estocando a commodity antes da alta até abril. "Já estocamos de novo para os próximos 12 meses", diz Carlos Alexandre Dohler, diretor comercial.

A receita líquida da companhia no primeiro semestre avançou 5%, para R$ 145 milhões. O executivo credita esse desempenho a uma coleção acertada e a uma postura "agressiva" em vendas. O resultado poderia ter sido melhor, diz, caso o governo tivesse liberado a verba de fornecimento de tecidos para as Forças Armadas, cuja licitação foi vencida pela Döhler.

Segundo o executivo, a companhia não está perdendo mercado para os importados, mas os produtos asiáticos têm forçado os preços para baixo. Além disso, a empresa enfrenta dificuldades de contratação e tem 140 vagas em aberto.

Com perda de margem, o lucro líquido da companhia caiu 19,4%, para R$ 7,77 milhões, no primeiro semestre.

Se considerada só a área de cama, mesa e banho - a Döhler também fornece para a indústria de colchões -, o diretor crê numa alta entre 15% e 20% nas vendas no segundo semestre e numa forte retomada em 2013.

A Döhler encerrou 2011 com receita líquida de R$ 301 milhões, em alta de 22%. Em 2010, a receita também cresceu mais de 20%.

Ao fim de junho, registrava patrimônio de R$ 409 milhões, o maior desde 1998, e caixa líquido de R$ 54,7 milhões. (MF)




Veículo: Valor Econômico


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