Preço do leite vai ferver

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Produto longa vida deve sofrer alta no varejo de até 10% nas próximas semanas. Em BH, custos do alimento e seus derivados superam a média nacional no acumulado do semestre

 

A entressafra no campo atingiu em cheio o bolso dos consumidores da capital mineira. O valor do leite in natura, vendido diretamente pelo produtor, aumentou 6,45% na comparação de junho deste ano com o mesmo mês de 2010 – de R$ 0,81 para R$ 0,85. Em Belo Horizonte, o preço de alguns derivados do alimento avançou no primeiro semestre mais do que a inflação nacional do período, medida pelo Índice Nacional de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA), apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE -  veja quadro). Entretanto, o maior reajuste ainda estar por vir: o leite longa vida, aquele em caixinha, terá cifra no varejo ampliada em até 10% nas próximas semanas, segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida (ABLV), Laércio Barbosa.

 

 “O consumidor fica refém do preço do leite e de seus derivados. A possibilidade de (o in natura) voltar a subir nos próximos dias devido à entressafra vai refletir no valor do queijo, da manteiga e outros derivados do produto”, afirma a comerciante Terezinha das Dores Silva. O que ocorre com o mercado de leite in natura e derivados é acompanhado de perto pelos pecuaristas mineiros, pois o estado é dono da maior bacia leiteira do Brasil, com 7,9 bilhões de litros por ano: 27,2% da produção nacional. Nos últimos 12 meses, os fazendeiros aumentarem o preço do litro em 6,45% em razão da entressafra, iniciada em maio, e da disparada dos custos da produção.

 

Barbosa diz que foi observada valorização contínua da matéria-prima (leite in natura) em importantes regiões do país, o que obriga a indústria a rever as previsões e a repassar os custos ao comércio. Tal valorização, segundo ele, se deve ao período da entressafra “particularmente severa”. Em Minas, a queda no volume do in natura foi de 3% na comparação entre maio e abril. O recuo foi maior em São Paulo (5,3%) e em Goiás (5%). Esses percentuais eram esperados pela ABLV, mas a entidade acreditava que a produção do leite cru nos estados do Sul brasileiro iria compensar a entressafra no restante do país. Porém, a geada que castigou a região até permitiu que a produção crescesse (5%), mas ela foi incapaz de compensar a queda no restante do país.

 

Vacas magras “A produção de leite não cresceu como imaginávamos”, disse Rodrigo Alvim, presidente das comissões de Leite tanto da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg) quanto da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Para piorar, em Goiás, fabricantes do longa vida investiram pesado em equipamentos, mas as máquinas trabalham com ociosidade. “O parque industrial lácteo acumula ociosidade de 50%, há produtores que recebem mais de R$ 1. Os produtores não estão aumentando a produção em volume suficiente para atendê-la”, acrescentou Alvim. Mas não apenas o período de vacas magras no campo refletiram no aumento do preço do leite cru, o que acabou interferindo no valor do produto pasteurizado.

 

O custo da cadeia produtiva para leite cru e de alguns insumos subiu nos últimos 12 meses acima do reajuste de 6,45% valor do in natura. “O da mão de obra foi de 9%; o da ração, 14%. O dos volumosos (cana para picar, capim etc), 15%. Já o do sal, 44%”, informou João Ricardo Albanez, superintendente de Política e Economia Agrícola da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais. No caso do insumo, um dos grandes vilões foi o milho. A saca de 60 quilos, que custava R$ 18,19 em 12 de julho de 2010, foi vendida, ontem, exatamente um ano depois, a R$ 30,3, aumento de 66,5%.

 

Mais metal em açúcar

 

A suspeita do encontro de partículas de metal em pacotes de açúcar não se restringe a Divinopólis. O problema que levou à proibição da comercialização da marca Doce Mel no município do Centro-Oeste mineiro se repete também em supermercados de outras três cidades: Juiz de Fora, Ponte Nova e Barbacena. Novas denúncias de consumidores levaram a Secretaria Estadual de Saúde a recolher amostras de produtos de duas marcas e encaminhá-los para análise da Fundação Ezequiel Dias (Funed). Os resultados devem ser divulgados até amanhã. Caso se confirme tratar-se de metais ou pedacinhos nocivos à saúde, as empresas podem ser processadas criminalmente.

 

A suspeita do Procon e da Superintendência Municipal de Vigilância Sanitária de Juiz de Fora é que a repetição do problema se dá por causa do produtor do açúcar. Uma mesma usina paulista seria responsável por revender sacas para empacotadoras de Minas, segundo informação da Secretaria Estadual de Saúde. Ou seja, as empresas que embalam o produto já estariam recebendo o alimento com as partículas, o que teria causado a repetição do encontro das impurezas em marcas diferentes. “Vamos apurar com os representantes das marcas quem é o fornecedor. Se for o mesmo, a possibilidade de o erro estar concentrado num único lugar é grande”, afirma o superintendente do Procon-JF, Eduardo Schröder.

 

Cautela Na semana passada, duas marcas foram oferecidas a preços promocionais nos principais supermercados de Juiz de Fora e ambas foram denunciadas. Com isso, técnicos do Procon recolheram todas unidades encontradas – seis, ao todo – para analisá-las. “A orientação é cautela até que o laudo da Funed seja concluído. Orientamos os consumidores a não comprar produtos das marcas Manaçúcar e Bonzão até o resultado do exame”, diz o subsecretário de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Juiz de Fora, Ivander Mattos Vieira.

 

Apesar das recomendações do órgão sanitário de Juiz Fora, as vendas não foram proibidas judicialmente, como em Divinópolis. “Os laudos da Funed devem mostrar o que são as partículas e o grau de nocividade ao consumidor”, diz Schröder. O Procon espera a conclusão das análises para, se necessário, tomar medidas mais graves, como a proibição de vendas e, em caso de metais com alto grau de dano à saúde, as empresas podem ser processadas.

 

Alta também à vista nos preços do etanol e do açúcar. Num mesmo dia, os consumidores foram advertidos com duas surpresas negativas: o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) divulgou ontem alta de 8,55% no preço médio da saca de 50 quilos do açúcar cristal em relação à semana passada, e, para piorar, horas depois, a União da Indústria da ana-de-Açúcar (Unica) revisou a estimativa da safra 2011/2012. Em Minas, a previsão inicial era que fossem colhidos 34,58 milhões de toneladas, mas a nova projeção mostra que, ao todo, devem ser colhidos 32,33 milhões de toneladas, o que incide diretamente nos valores tanto do etanol quanto do açúcar. Segundo o Sindicato do Açúcar e do Álcool de Minas Gerais (Siamig), a elevação nos preços deve ser sentida imediatamente
 

 
   
Veículo: O Estado de Minas


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