Gastos com lácteos devem crescer com elevação da renda

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Estudo de especialista do IBRE FGV prevê que até 2027 o incremento será de 55 bilhões de reais

 

Uma projeção que soma dados sobre a evolução da renda dos brasileiros ao comportamento de compra indica que o gasto das famílias com alimentos no país poderá crescer 8% entre 2022 e 2027, chegando R$ 770 bilhões. Paralelamente, o desembolso com produtos lácteos também deverá aumentar, mas em um menor ritmo.

 

 

 

 

 

 

O levantamento do economista Daniel Duque, especialista em renda do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre FGV), elaborado para o periódico, mostra que o gasto com lácteos entre este ano e 2027 poderá subir 5,6%, para R$ 55 bilhões.

 

O gasto com alimentos cresce à medida que o poder de compra aumenta. Segundo a projeção, que usa dados atuais do Fundo Monetário Internacional (FMI), a renda média anual per capita no Brasil em 2022 é de US$ 14,799 mil, quase 1% a mais do que no ano passado. Para 2027, o avanço da renda média pode ser de 5,6%, alcançando US$ 15,634 mil.

 

Em geral, a cada ponto porcentual a mais na renda média, há acréscimo de 0,8 ao que já era gasto em alimentação. Hipoteticamente, portanto, se a renda sobe 10%, de R$ 2 mil para R$ 2,2, os gastos com alimentação saem de R$ 500 para R$ 540. O comportamento de compra é um retrato obtido com ajuda da Pesquisa de Orçamento Familiar, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

“A projeção sobre a relação de renda e do consumo de alimentos costuma ser estável. O ponto chave é a projeção do PIB per capta. Tudo pode acontecer com a renda no Brasil nos próximos anos”, diz Duque.

 

Migração de marcas

 

De acordo com o retrato, a participação do segmento de laticínios nos desembolsos com alimentos no período pode cair de 7,24% para 7,13%. Vale dizer que o levantamento considera constante de preços, com base de 2022, e, portanto, retrata avanço de poder de compra, que pode resultar em aumento de volume de produtos ou mudança de qualidade – migração de marcas.

 

Diante do horizonte nublado para a renda, os laticínios têm uma série de desafios ao longo dos próximos anos. Essas empresas trabalham de olho no potencial do consumo de leite per capita, mesmo que os avanços tenham sido fracos na última década – e com um cenário de inflação atual que esfria o consumo.

 

O brasileiro consome cerca de 172 litros de leite por ano, indica pesquisa recente do Departamento de de Agronegócio da Fiesp, volume ainda bem inferior ao absorvido no mercado americano, de 327 litros a cada ano. Na Europa, são 233 litros ao ano e, na Argentina, 265 litros.

 

Grandes indústrias, como o Laticínio Bela Vista, dono da marca Piracanjuba, líder em captação de leite no país, estão mantendo as estratégias de olho em médio e longo prazos. Entre as apostas da companhia estão os queijos, bebidas proteicas e itens de nutrição infantil.

 

Uma nova fábrica em construção no Paraná vai possibilitar que a companhia leve os queijos da marca a regiões onde a comercialização do item é ainda incipiente, como o mercado paulista por exemplo, diz Lisiane Campos, gerente de marketing da Bela Vista. A nova unidade deverá ficar pronta em 2024.

 

Por ora, os queijos Piracanjuba são vendidos em regiões do Centro Oeste, a partir da fábrica de Bela Vista de Goiás (GO). “Não temos condições ainda de expandir a atuação porque esses produtos exigem logística refrigerada”, explica. A intenção é atender o mercado nacional.

 

Como o leite líquido é commodity, a Piracanjuba, com receita de R$ 6,4 bilhões em 2021, vem diversificando bastante nos últimos anos para ganhar espaço e valor agregado. Nesse segmento, quanto mais variado for o portfólio que agrade o consumidor, melhor.

 

Em meio ao extenso portfólio setorial, os queijos são aposta já citada por outras companhias porque vêm ganhando fôlego, apesar dos preços. Trata-se do derivado que, na década passada, mais ampliou sua participação no volume de derivados produzido pela indústria e no valor faturado por esse elo da cadeia com as categorias de lácteos.

 

Segundo a pesquisa da Fiesp, em volume, a participação de queijos cresceu de 27,8%, em 2010, para 38,7% em 2019, enquanto em valor saiu de 21% para 27%. A Abiq, que reúne as indústrias do setor, já projetou que o consumo per capita pode sair de 6 quilos para 7,5 quilos em dez anos.

 

Fonte: Érica Polo, Valor


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