Novos setores lideram produção industrial em setembro, aponta IBGE

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A produção industrial chegou ao nono mês consecutivo de crescimento puxada por novos setores. Liderada pelo segmento de consumo até agosto, a indústria registrou uma maior contribuição do setor de bens de capital no crescimento de setembro, que foi de 0,8% sobre o mês anterior na série com ajuste sazonal. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados ontem apresentam elevação de quase 6% na produção de máquinas e equipamentos na mesma comparação, sinalizando que a capacidade instalada das fábricas deve aumentar em 2010. A produção de bens intermediários subiu mais vagarosamente (0,8%), mantendo o ritmo verificado ao longo do ano, enquanto as empresas produtoras de bens de consumo duráveis e semi-duráveis registraram resultados menores que em agosto.

 

Em nota, o IBGE afirmou que a redução no setor de duráveis "ocorreu após oito meses de crescimento, que significaram um aumento de 82% no período; já a queda na produção de bens de consumo semi e não duráveis interrompeu sequência de dois resultados positivos consecutivos". Assim, a pequena queda em setembro não reverte a evolução positiva dos meses anteriores, quando a produção do setor de bens de consumo praticamente sustentou a produção industrial geral. Há, no entanto, demora na resposta dos bens intermediários, que cresceram 0,7% em agosto e 0,8% em setembro.

 
 
Para Rogério César de Souza, economista do Iedi, a produção de bens intermediários funciona como termômetro da situação geral, ao indicar como estão as relações intra-indústria. "Em crises passadas, sempre que os intermediários pegavam velocidade, a indústria como um todo deslanchava. É um setor importante e, até agora, está patinando", diz Souza, para quem as compras entre setores, que caracterizam a reativação de cadeias produtivas, foram mais fortes no mês passado do que em setembro.

 

De acordo com Paulo Miguel, economista da Quest Investimentos, a retomada dos investimentos em bens intermediários está sujeita, em parte, à taxa de câmbio. Dados do Ministério do Desenvolvimento mostram que mais de 55% das importações são bens intermediários. "Com o aumento da demanda interna que tivemos neste ano e o que devemos ter em 2010, é inevitável que as importações aumentem em volume e valor", diz.

 

Segundo Fábio Romão, analista da LCA, a recuperação dos bens intermediários virá, e pode ser mapeada pelas oscilações do mercado de trabalho. Enquanto no segundo trimestre os produtores de bens intermediários, como material elétrico, comunicações, metalurgia e material de transporte ainda estavam tímidos em recontratar funcionários, a partir do terceiro trimestre já demonstravam maior apetite para aumentar pessoal. "O setor de metalurgia, que engloba também bens de consumo final, contratou 6 mil trabalhadores em agosto e mais 8 mil em setembro, sinalizando que o investimento em diferentes cadeias produtivas está voltando", diz.

 

A melhora da liquidez externa, combinada com a persistente elevação da demanda doméstica, serve à indústria como garantia para a realização de investimentos. Ao mesmo tempo, os estoques foram queimados durante o momento de ajuste de produção, quando a demanda permanecia elevada e a oferta construída antes da crise era capaz de suprir o mercado interno. "São dois ciclos produtivos", explica Cristiano Souza, economista do Santander, "num primeiro momento há consumo de estoques e, em seguida, a reconstrução, por meio do aumento de produção". Para ele, o Brasil já passou pela primeira fase. "Entramos, entre setembro e o começo deste quarto trimestre, para a reconstrução de estoques", afirma.

 

A menor contribuição dos bens de consumo na produção industrial em setembro não preocupa, dizem os analistas. Para combater os efeitos da turbulência econômica mundial, o governo concedeu desoneração de impostos para montadoras e fábricas de eletrodomésticos da linha branca, contrabalançando a menor demanda externa e o corte na concessão de crédito. Assim, o consumo de bens duráveis e semiduráveis reagiu rapidamente - em setembro, o setor automotivo registrou vendas recordes de veículos, 14,9% acima do mesmo mês do ano passado, quando o setor estava no auge.

 

A produção nesses setores acompanhou o consumo, ainda que em menor escala, devido aos estoques elevados. "A tendência é termos um ritmo mais fraco nos bens de consumo, até porque quem ia adquirir carro e geladeira já o fez, não tínhamos como crescer naquele ritmo por muito mais tempo", diz Souza, do Santander. Para ele, a expansão esperada de 5% no PIB em 2010 fará com que a importação aumente, aproveitando o câmbio valorizado. Segundo Thaís Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg & Associados, o desafio para a retomada da indústria está na competição com importados. "A indústria terá de fazer um grande esforço para contornar a queda de competitividade que o câmbio valorizado traz. A competição chinesa tem sido fatal para o setor manufatureiro."

 

Veículo: Valor Econômico


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