Juro menor e prazo maior turbinam Natal

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Indústria e comércio preveem um dos melhores finais de ano dos últimos tempos; demanda deve crescer de 5% a 20%

 

O consumidor vai gastar mais, comprar mais a prazo e ter mais acesso a artigos importados neste final de ano. O aumento na demanda, previsto entre 5% e 20% em relação a igual período de 2008, quando o mundo viveu o auge da crise financeira, pode levar até à falta de modelos e de marcas de produtos, como é o caso de televisores de LCD e de plasma.

 

Esse é o cenário previsto por representantes da indústria e do comércio e por economistas para este último trimestre.
E o que proporciona esse ambiente mais favorável ao consumo são a melhora na confiança do consumidor e do empresariado na economia, o crescimento do emprego e da renda, a inflação sob controle, taxas de juros menores, além da perspectiva de o Brasil estar entre os países com mais potencial para crescer no ano que vem, ficando atrás da China e da Índia.

 

A oferta de importados será maior porque caiu a demanda mundial e as sobras da produção devem ser direcionadas para os países com maior potencial de consumo, como o Brasil.

 

O comércio e a indústria se preparam para dar conta do crescimento nas vendas. As lojas elevaram em até 15% as compras da indústria para este fim de ano. E as fábricas aumentaram a produção -desde abril, o uso de capacidade da indústria de transformação vem subindo e alcançou 82,9% em outubro, segundo levantamento do Ibre, da FGV.
Casas Bahia, Magazine Luiza, Lojas Cem, Pão de Açúcar, PB Kids e Armarinhos Fernando elevaram estoques de mercadorias em até 20% para dar conta de uma demanda maior.
"Este será um dos melhores finais de ano dos últimos tempos. O principal gatilho dessa melhora substancial do ambiente foi a tendência declinante dos juros reais desde o ano passado", afirma Fábio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores. Em 2008, a taxa média real de juros no país era de 7,2% ao ano. Neste ano, foi a 6%, e a previsão é ficar em 4% em 2010.

 

Neste último trimestre do ano, segundo previsão da RC Consultores, a produção industrial deve crescer 6,2%; o volume de vendas do comércio, 5,1%; e a massa real de rendimento do trabalhador, 1,4%, sobre igual período de 2008. A LCA Consultores já estima expansão de 6,5% nas vendas do varejo e de 4,9% na produção industrial nesse período.

 

Ânimo para comprar

 

Novo indicador da Fecomercio-SP -o Índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF)- revela o ânimo do consumidor para comprar no final de ano. Em setembro, o índice atingiu 127,8 pontos, representando alta de 6% sobre agosto. Em outubro, ficou em 131,6 pontos, o que significou 3% de aumento sobre setembro. O ICF considera percepção das famílias sobre consumo, orçamento, renda e emprego.

 

"Por dois meses consecutivos o ICF está em alta, o que revela que o consumidor decretou o fim da crise", diz Fabio Pina, assessor econômico da Fecomercio-SP. Para ele, a segurança que o consumidor sente ao estar empregado é o ponto mais importante para manter a intenção de comprar.

 

Diferentemente do que ocorreu no ano passado, o consumidor deve priorizar as compras de bens de maior valor, como eletrodomésticos, produtos eletrônicos e veículos.
"Considerando o mesmo número de lojas, a expectativa é vender 15% a mais neste mês e em dezembro do que em igual período do ano passado. A venda pela internet, que cresceu 40% sobre 2008, também puxará a expansão da rede", diz Frederico Trajano, diretor do Magazine Luiza.

 

"A prorrogação da redução de IPI para alguns produtos da linha branca deve favorecer ainda mais o consumo", afirma Valdemir Colleone, diretor da Lojas Cem.
A Casas Bahia trabalha com a perspectiva de aumento de 20% nas vendas -principalmente de televisores (plasma e LCD) e computadores (PCs, notebooks e netbooks)- neste final de ano em relação ao mesmo período de 2008. "Se houver produtos disponíveis na indústria", informa a rede, que considera que a indústria está mais preparada hoje do que estava meses atrás, uma vez que retomou turnos e contratação.

 

"Quando as manchetes dos jornais não dão mais destaque para o desemprego e melhora a oferta de crédito, o consumidor tem mais confiança para comprar", diz Maria Cristina Mendonça de Barros, economista da MB Associados, que prevê para este ano aumento de 5,5% nas vendas do comércio e queda de 8% na produção industrial, na comparação com 2008. "A indústria está se recuperando, mas no ano ficará abaixo de 2008", afirma a economista.

 

Em outubro do ano passado, o nível de utilização da capacidade da indústria estava perto de 85%, segundo o Ibre.

 


Consumo deverá crescer e incluir mais supérfluos

 


Crise já não assusta tanto neste fim de ano como em 2008; por isso, intenção de gastar mais é maior

 

Além de gastar mais neste ano, o consumidor deve comprar mais itens supérfluos do que comprou no ano passado, quando temia os efeitos da crise econômica internacional em seu emprego e na sua renda.


Na Armarinhos Fernando, por exemplo, as vendas de itens como enfeites de Natal já cresceram cerca de 5% sobre igual período do ano passado.
"Mesmo quem podia gastar mais, segurou o 13º salário no ano passado porque temia o que poderia acontecer. Neste ano, o cenário é outro. E a disposição para gastar também", diz Ondamar Antonio Ferreira, gerente da loja matriz da rede, que atualmente conta com 13 unidades na Grande São Paulo. "Se ele gastou R$ 50 na árvore de Natal de 2008, neste ano pode gastar R$ 100", diz.

 

No Pão de Açúcar, a expectativa é que a venda de enfeites natalinos seja 30% superior à do ano passado. Nas prateleiras dos supermercados do grupo está 1,3 milhão de peças à disposição dos clientes.

 

Os prazos maiores e a estabilidade nos preços dos produtos devem levar o consumidor a comprar mais neste ano, segundo avalia José Roberto Tambasco, vice-presidente executivo do Grupo Pão de Açúcar. "Em 2008, o parcelamento era de 10 a 12 vezes, sem juros. Neste ano, são 15 meses, o que facilita a compra de itens de maior valor, especialmente de eletroeletrônicos."

 

Nas 450 lojas do Ponto Frio, o pagamento foi estendido para 18 meses, sem juros, no cartão da rede desde o último sábado.Com a maior oferta de crédito e melhores condições de pagamento, o Pão de Açúcar estima que as vendas de eletroeletrônicos e de computadores deva crescer até 30% no fim deste ano em comparação a igual período de 2008.

 

"Vai ser um Natal mais gordo para o consumidor, com uma ceia mais gorda, já que os preços de produtos importados como bacalhau, frutas secas e vinhos estarão menores neste ano do que estavam em 2008", afirma Tambasco.
No setor de brinquedos a tendência é a mesma: o consumidor deve gastar mais, comprando itens de valor mais elevado, segundo avalia Celso Pilnik, diretor comercial da PB Kids. "Desde outubro, já notamos que os clientes têm gastado um pouco mais. Para o final deste ano, acreditamos que cada consumidor deve gastar entre 5% e 10% mais do que gastou nas compras de 2008", afirma. No ano passado, o gasto por pessoa foi de R$ 122.

 

Os destaques deste ano nas lojas, importados pela PB Kids, devem ser a linha exclusiva de bonecas Anne Geddes, com preços que variam de R$ 39,90 a R$ 120, e a Fashion Doll Only Hearts Club, com preços de R$ 59 a R$ 229, dependendo da quantidade de acessórios.

 

A rede, que espera vendas 20% maiores neste Natal do que as de 2008, também se preparou para o final deste ano e contratou 56 funcionários temporários em outubro e deve admitir mais alguns neste mês.

 

Estoques mineiros

 

A forte alta esperada para as vendas no comércio neste Natal já leva 26% de 150 lojistas consultados pela Fecomercio Minas a enfrentarem problemas de reposição de estoques.

 

Os principais motivos alegados pelos fornecedores para justificar os problemas de abastecimento são o acúmulo de pedidos e as dificuldades de negociar prazos de entrega.

 

Cerca de 75% dos lojistas, entretanto, preveem compor seus estoques até dezembro. Outros 19% acreditam que irão receber neste mês os produtos encomendados, enquanto 6% já receberam em outubro."Poderá ocorrer a falta de alguns modelos. São apenas quatro fabricantes no mundo que produzem a matéria-prima básica para recepção desses aparelhos [televisão] e com a alta demanda que deve acontecer no final do ano a falta é inevitável", afirma Valdemir Colleone, diretor da Lojas Cem.

 


Veículo: Folha de S.Paulo


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