Exportação de manufaturados reage no 3º tri

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Comércio exterior: Vendas crescem em volume e preço com recuperação dos EUA e países da América Latina

 

Um conjunto de fatores, como a forte demanda chinesa e a recuperação da economia dos Estados Unidos e da América Latina, além da tentativa dos exportadores brasileiros de compensar a valorização do real, permitiu uma reação das exportações brasileiras. O movimento ainda é tímido, mas também atinge o embarque de manufaturados.

 

A reação dos preços aconteceu ao longo do terceiro trimestre deste ano. No total das exportações, o preço médio em dólar nos meses de julho e agosto ficou 3,41% maior que o do segundo trimestre e 2,27% acima do preço do primeiro trimestre, segundo dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). A elevação foi puxada pelos básicos, que apresentaram crescimento de 3,41% no acumulado de julho e agosto em relação ao segundo trimestre, mas também começou a chegar aos manufaturados, cujos preços ficaram 1,4% maiores no mesmo período. A queda ainda é grande em relação a 2008, mas diferentes analistas identificam uma reversão do movimento anterior.

 

O terceiro trimestre também deve marcar um ganho, também na ponta, da representatividade dos manufaturados nas exportações. Segundo cálculos do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), os dados dessazonalizados de exportação mostram que os valores de embarques de manufaturados cresceram 4% em relação a julho, variação maior que o registrado para o total, que ficou em 2,9%. No mesmo período, os básicos cresceram 2,7%.

 
 
Os números até a terceira semana de setembro apontam o mesmo caminho, ainda que sem ajuste sazonal. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, a média diária de valores exportados em relação a agosto cresceu em 2,1%, alta puxada principalmente pelos produtos manufaturados, cuja média diária aumentou em 8,8%, enquanto os básicos tiveram queda de 4,4%, levando em conta os mesmos critérios. As vendas ao exterior de manufaturados também cresceram em termos de volume. O quantum médio embarcado em julho e agosto ficou 6,5% em relação ao segundo trimestre e 17,2% na comparação com janeiro a março, segundo dados da Funcex.

 

Para o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, o início de recuperação dos manufaturados foi provavelmente resultado das vendas maiores aos EUA. Os manufaturados representam cerca de 70% do que os americanos compram do Brasil. De julho a agosto, o valor da exportação média diária para os EUA aumentou em 27,7% em relação ao mês anterior. Foi uma elevação acima do total, que cresceu 7,2%.

 

Para Julio Callegari, economista do JP Morgan, a retomada de espaço dos manufaturados nas exportações é "inevitável". Para ele, o fenômeno deve se fortalecer até o fim do segundo semestre, influenciado principalmente pela retomada das economias dos EUA e da América Latina. "Esses mercados representam cerca de três quartos das vendas brasileiras de manufaturados", lembra. Segundo ele, a reação dos manufaturados neste momento está ancorada no desempenho econômico da América Latina. "O terceiro trimestre deve ser o trimestre da virada para esses mercados."

 

Levando em conta os trimestres anualizados, a economia dos EUA está em queda há dois anos na comparação sequencial. Pelos cálculos do JP Morgan, o terceiro trimestre deve quebrar o ciclo. Usando os mesmos critérios, o período de julho a setembro deverá apresentar crescimento de 4% em relação ao trimestre anterior. A América Latina também vinha em queda sequencial desde o último trimestre de 2008. O bloco deve apresentar no terceiro trimestre de 2009 crescimento de 7,7% em relação ao segundo trimestre, diz Callegari.

 

"Temos um sinal, só não temos a intensidade", analisa o economista, que ainda considera uma incógnita a parcela das exportações que os manufaturados poderão voltar a tomar. "Isso dependerá da competitividade dos exportadores", diz.

 

Barral tem uma análise semelhante. Para ele, a consolidação dos manufaturados nas exportações acontecerá no próximo ano, mas dependerá da competitividade de preços dos exportadores. "A desvalorização cambial deve atrapalhar um pouco."

 

O que pode ser um ponto a favor dos exportadores, diz o economista Rogério César de Souza, do Iedi, é que a desvalorização do dólar é generalizada e, por isso, não acontece apenas com a moeda brasileira. Souza também acredita na tendência de reação dos manufaturados. Ele lembra, porém, que dentro dessa classe, os produtos de maior intensidade tecnológica já vinham perdendo espaço antes mesmo da crise. "Trata-se de um problema estrutural, para o qual é preciso dar atenção."

 

Por enquanto, o fortalecimento da moeda brasileira está ajudando a elevar os preços médios de exportação, diz Callegari. Isso acontece por conta da tentativa do exportador de compensar a perda de rentabilidade das exportações em função do câmbio. Assim, o embarque fica mais caro em dólar para tentar manter o preço na conversão para o real. Callegari explica que a elevação de preços veio primeiro nos produtos básicos e agora já começa a chegar nos manufaturados, em produtos mais simples, como o açúcar refinado e o suco de laranja, que sofrem mais rapidamente o impacto do aumento dos básicos. "Não se trata de um movimento trivial. É uma recuperação importante", diz.

 

Pelos dados da Funcex, os segmentos de confecção, calçados e material eletrônico apresentaram na ponta uma recuperação de preços. Vestuário e acessórios apresentaram média de preços de julho e agosto 8,95% maior que a do segundo trimestre, embora ainda 5,04% menor que a do primeiro trimestre. Na mesma comparação, preparação de couros e calçados tiveram elevação de preço médio de 5,03% em relação ao segundo trimestre e queda de 3,54% no acumulado de janeiro a março. Já os preços do material eletrônico e de comunicações aumentaram em 2,67% na comparação com o segundo trimestre e 3,44% na comparação com o primeiro.

 

O preço médio dos produtos básicos aumentou por conta da forte demanda da China, que aproveitou os bons preços no início do ano para se estocar durante todo o primeiro semestre. "A elevação de preços na ponta veio mais forte nos metálicos, seguido pelos básicos de energia e depois, alimentos", diz. Segundo Callegari, são mercadorias cujos preços afetam toda a cadeia e, por isso, há uma tendência ainda de alta, na margem, nos preços dos manufaturados, até o fim do segundo semestre. A perspectiva, diz, é que o preço dos básicos se acomode mais, já que houve muita antecipação de compras dessa classe de produtos no primeiro semestre e a demanda da China, por exemplo, deve cair até o fim de 2009.

 

Lia Valls, coordenadora do Centro de Estudos do Setor Externo da Fundação Getulio Vargas também diz que a China contribuiu para a recuperação dos preços dos básicos na ponta. "Não é espetacular, mas é um início de recuperação", pondera. Levando em conta índice de preços de commodities, que atualmente abarca 54% da pauta de exportações, diz, os preços desses produtos caíram 31% em agosto de 2009, na comparação com o mesmo período de 2008. É preciso levar em consideração, porém, diz, que no ano passado os preços dispararam. Em relação a 2007, há uma elevação de 5%. Os volumes exportados de commodities tiveram aumento em agosto: de 8% na comparação com o mesmo mês de 2008 e de 14% levando em conta agosto de 2007.
 


Veículo: Valor Econômico


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