Calote atinge mais lojas de calçados e vestuário

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Conjuntura: Falta de controle e baixa renda são as principais causas de inadimplência da pessoa física no varejo


   
Descontrole financeiro, vaidade, baixa renda. Estes são os motores da inadimplência no crédito de pessoa física, segundo três pesquisas que detalham o perfil médio das pessoas que deixaram de pagar seus carnês, faturas de cartões de crédito ou têm cheques devolvidos.

 

A conclusão está relacionada aos setores que têm apresentado, individualmente, a maior taxa de inadimplência. Pelos cálculos do Clube dos Diretores Lojistas do Rio (CDL-RJ), 60% dos que deixaram de pagar os financiamentos fizeram compras nos segmentos de calçados e vestuário, e 30% no setor de eletrodomésticos. Já pelos dados da Telecheque, empresa especializada em gestão de riscos de crédito com cheques, lojas de roupas e calçados, somadas, registram 22% de calote, o maior índice entre os pesquisados. Refinando a pesquisa, a Telecheque descobriu que no vestuário, o sub-ramo que mais sofre com inadimplência é o chamado "surfwear", ou seja, moda jovem.

 

José Antonio Praxedes Neto, vice-presidente da Telecheque, acha que se pode falar em "vaidade e descontrole financeiro" como motivos centrais, já que as mulheres foram identificadas como predominantes entre clientes do ramo. De maneira geral, o descontrole financeiro responde por 70% da inadimplência em cheques, segundo a pesquisa.

 

Quando as pessoas são mais velhas, o problema não é vaidade nem descontrole, mas doenças, acidentes e desemprego. Praxedes vê a baixa renda da maioria dos brasileiros como denominador comum na equação do calote involuntário e um fator preocupante para a continuidade da expansão do crédito. "O orçamento da família brasileira é muito apertado, as pessoas estão sempre com a corda no pescoço."

 

É o que acontece com Marli da Silva. Casada, mãe de três filhos, ela tem 53 anos, não concluiu nem o primeiro grau, trabalha como diarista e ganha menos de R$ 800 por mês. Mesmo com renda tão baixa, conseguiu ter cinco cartões de crédito, que praticamente quintuplicaram sua capacidade de compra. Em todos eles acabou atrasando o pagamento das faturas e por isso foi punida com multas, juros e o corte dos limites do financiamento. "Para mim não deu certo. Me enrolei, não pude pagar e cortaram meu crédito", diz Marli, que hoje, garante, está fugindo do crédito.

 

Os cartões da Marli - emitidos pela C&A, Riachuelo e a financeira Taií - revelam que ela "se enrolou" nas redes de varejo de vestuário e calçados. Com números diferentes, as empresas que monitoram a inadimplência revelam que esses são os setores que mais financiam seus clientes e, consequentemente, registram maiores taxas de inadimplência, tanto em cartões quanto em cheques e carnês.

 

Os números do CDL foram compilados a partir de uma pesquisa realizada no fim do ano passado com 600 consumidores que procuraram a instituição para regularizar sua situação no comércio. Segundo o economista do CDL, Fernando Mello, a inadimplência atinge mais esses setores pelo fato de que são os maiores e mais expressivos do comércio, pelo menos no Rio de Janeiro.

 

Mello identificou o descontrole financeiro como a segunda maior causa da falta de pagamento nas lojas, apontado pelos próprios pesquisados. O primeiro é o desemprego. "Talvez por inexperiência, imprudência ou excesso de otimismo, as pessoas gastam por conta", diz Mello
 


Veículo: Valor Econômico


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