Dólar atinge o menor nível desde setembro

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Depois de quatro recuos, dólar chega a R$ 1,823, perto do nível pré-crise

 

O dólar comercial atingiu ontem o menor nível desde 25 de setembro de 2008. A moeda americana encerrou a terça-feira cotada a R$ 1,823, com queda de 0,65%, depois de quatro recuos consecutivos. Com isso, o dólar encostou no nível pré-aprofundamento da crise, antes da quebra do banco Lehman Brothers, em 15 de setembro. No pregão anterior à derrocada do banco de investimento, a moeda valia R$ 1,781. Depois disso, atingiu R$ 2,50, em dezembro, e oscilou na casa de R$ 2,30 a R$ 2,40 até o fim do primeiro trimestre deste ano.

 

O movimento mais consistente de queda da moeda americana ante o real teve início logo no começo de maio, com os sinais de recuperação da economia nacional e menor pessimismo com o cenário externo. Até ontem, a queda no ano era de 21,93%, com tendência declinante, segundo analistas do mercado financeiro. A expectativa deles é de que a moeda feche o ano próxima a R$ 1,70.

"Acredito que ainda tem alguma valorização (do real frente ao dólar) para ocorrer nos próximos meses, especialmente se o mundo voltar à normalidade", disse o economista da Opus Investimentos, José Marcio Camargo. Ele afirma que, depois do pânico do ano passado, em que os investidores correram para se refugiar em ativos em dólar, considerados mais seguros, agora eles retornam às moedas mais arriscadas, como é o caso do real.

 

Exemplo disso pode ser observado no desempenho do Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa), que ontem fechou acima dos 56 mil pontos, com alta de 0,7%, no maior nível desde 28 de agosto de 2008, antes do aprofundamento da crise internacional. No ano, a bolsa brasileira acumula expressivos 49,24% de valorização ante 27,54%, do índice Nasdaq; 6,2%, do Dow Jones; e 8,09% da bolsa de Paris.

 

Até o dia 30 de julho, o fluxo de investimento estrangeiro na BM&F Bovespa estava positivo em R$ 11,8 bilhões no ano. Com isso, a participação do capital externo na bolsa paulista subiu de 34,1% em janeiro para 38,1% em julho. Na opinião do economista sênior do BES Investimentos, Flávio Serrano, a explicação está na recuperação mais rápida da economia brasileira diante dos países desenvolvidos.

 

Segundo ele, o movimento dos estrangeiros tem reforçado a confiança das empresas no lançamento de novas ações no mercado e de emissões de títulos no exterior. Na tarde de ontem, por exemplo, a Cosan confirmou que encerrou uma captação de US$ 350 milhões por meio da emissão de bônus no mercado internacional. "Aos poucos, o mercado de capitais está voltando a funcionar."

 

O gerente da mesa de câmbio da Souza Barros, Luiz Antônio Abdo, concorda com Serrano. Ele destaca que o preço está ficando muito atrativo, o que tem criado uma demanda mais forte por parte de empresas que têm compromissos vencendo nos próximos meses. "Além de todos o recursos que ingressaram na bolsa, esse movimento também tem pressionado o câmbio e deve continuar pesando na cotação."

 

A queda do dólar, porém, deve provocar reclamações por parte do setor exportador, já que o real valorizado tende a reduzir a competitividade do produto brasileiro no exterior. Por enquanto, os economistas não acreditam em revisão dos números da balança comercial por causa da queda do dólar. "Até porque o atual nível do câmbio está acima dos R$ 1,56 verificado em julho do ano passado. A valorização do real trará novos problemas, mas não tão graves como os do passado ", observa o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, destacando que as empresas fizeram ajustes no passado e aprenderam a ser mais eficientes. Na opinião dele, a maior preocupação hoje é a atividade econômica mais fraca no mercado internacional.

 

Para Agostini, um dos principais efeitos positivos do câmbio será o controle da inflação, que permitirá manter os juros em níveis reduzidos por um tempo maior.

 

"O dólar permitirá que o Banco Central adote uma política monetária menos restritiva", avalia José Marcio Camargo. Na opinião dele, outro ponto benéfico ao País será a entrada maior de investimento direto no setor produtivo.

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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