Crédito e bens duráveis puxam recuperação da economia

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De dezembro de 2008 a maio, a produção de produtos de consumo, de carros a máquinas de lavar, cresceu 92%

 

O movimento de recuperação da economia, puxado pela dobradinha crédito/bens de consumo duráveis, já está nítido nos resultados da produção industrial. Entre dezembro de 2008 e maio deste ano, a produção industrial de bens de consumo duráveis, que inclui de automóveis a geladeiras e máquinas de lavar, por exemplo, aumentou 92%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

"Os bens de consumo duráveis puxaram a produção da indústria e vão continuar sendo o motor da recuperação da economia no segundo semestre", afirma o diretor da RC Consultores, Fabio Silveira. Ele aponta que no mesmo período a produção de bens de consumo semiduráveis e de não-duráveis, isto é, roupas e alimentos, basicamente, aumentou apenas 1,2%. Já a produção de bens intermediários cresceu 18% e os bens de capital tiveram queda de 1,4%.

 

Silveira aponta uma série de fatores para o excelente desempenho da produção dos bens de consumo duráveis: a renda dos trabalhadores recua, porém lentamente; os benefícios fiscais, como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); a maior oferta de crédito, sobretudo dos bancos públicos; juros menores e prazos mais longos de financiamento.

 

"Está se desenhando um segundo semestre muito favorável para o crédito voltado para o consumidor", afirma Adalberto Savioli, presidente da Acrefi, entidade que representa as financeiras. Ele calcula que o volume de empréstimos destinado a pessoas físicas termine 2009 com alta de 15% ante 2008. "O pior momento para o crédito já passou", diz ele.

 

Pesquisa da Serasa Experian de Expectativa Empresarial revela que 73% das instituições financeiras acreditam que a oferta de crédito vai crescer no terceiro trimestre deste ano, em relação ao segundo trimestre. E somente 5% delas apostam na queda dos volumes.

 

Além do impulso do crédito, Silveira, da RC Consultores, ressalta a importância de se eleger um setor líder, nesse caso os bens de consumo duráveis, na retomada do ritmo de atividade. "Os bens de consumo duráveis têm uma cadeia de produção longa e contribuem positivamente para impulsionar outros setores", argumenta.

 

MULTIPLICADOR

 

O efeito multiplicador dos bens de consumo duráveis combinado com a maior oferta de crédito já tem impacto em outros setores. Após dois meses consecutivos de queda, as consultas para vendas à vista registradas pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP) cresceram 3% em junho na comparação com 2008. Nas vendas a prazo, o ritmo de queda nas consultas na comparação anual é menor a cada mês.

 

Se continuar nesse ritmo, Marcel Solimeo, economista da entidade, acredita que será possível fechar o ano zerando as perdas do comércio varejista, de cerca de 8%, acumuladas no primeiro semestre.

 

Os efeitos do consumo de bens e do crédito farto também atingem os fabricantes de papelão ondulado, setor que funciona como termômetro da produção industrial e das vendas na ponta. Em maio, por exemplo, a média diária de expedição de papelão ondulado atingiu 7.464 toneladas e superou pela primeira vez no ano a média diária alcançada no ano inteiro de 2008, que foi de 7,431 toneladas.

 

"Alguns setores que são importantes para nós no consumo de embalagens estão retomando o nível de produção e de compras de papelão", a firma o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Papelão Ondulado (ABPO), Paulo Sérgio Peres. Ele evita fazer previsões para o ano, mas acredita que o segundo semestre será melhor que o primeiro.

 

De toda forma, o setor acumula queda de 7% de janeiro a maio nos volumes ante 2008. "Mesmo que haja melhora, os números serão negativos ante 2009 no resultado mensal." Em outubro do ano passado, o setor vendeu 208 mil toneladas de papelão ondulado e bateu o recorde histórico.

 

Os efeitos positivos no ritmo de atividade também foram sentidos pelos supermercados. De janeiro a maio, as vendas do setor cresceram 5%, em relação a igual período de 2009, segundo pesquisa da Associação Brasileira de Supermercados. "Dependendo do resultados de junho, vamos rever para cima a perspectiva de encerrar 2009 com crescimento de 2,5% nas vendas", diz o presidente da entidade, Sussumu Honda. Em 2008, o setor cresceu 9%.

 

Apesar do impulso dado à economia pelo aumento da oferta de crédito e pelos incentivos à compra de bens de consumo duráveis, há duas travas no desempenho da atividade: uma é o fraco ritmo das exportações, especialmente de manufaturados, e a outra é a perda de ímpeto para o investimento.

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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