Para BC, juro mais baixo vai começar a afetar atividade só no 2º semestre

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O Banco Central refez seus estudos sobre os mecanismos de transmissão da política monetária e descobriu que, agora, cortes de juros levam mais tempo para chegar à atividade econômica e à inflação, em virtude do alongamento dos prazos dos contratos da economia, após vários anos de estabilidade de preços.

 

A conclusão, divulgada no relatório de inflação, publicado na sexta-feira, tem implicações diretas no atual ciclo de afrouxamento monetário, em que o BC já promoveu um corte acumulado de 4,5 pontos percentuais na taxa Selic, que caiu de 13,75% para 9,25% ao ano.

 

Como a transmissão da política monetária se tornou mais lenta, a distensão monetária ainda não teve tempo de chegar à atividade e à economia - o que aumenta os riscos de superdosagem nos cortes de juros. O estudo reforça as indicações já dadas pela autoridade monetária de que, daqui por diante, o afrouxamento monetário será residual e implementado com parcimônia.

 

Até então, os estudos do BC indicavam que cortes de juros chegavam à atividade econômica com uma defasagem entre três e seis meses. Ou seja, o afrouxamento feito a partir de janeiro, por esse raciocínio, já estaria sendo transmitido à economia a partir do segundo trimestre. Os novos cálculos do BC mostram, porém, que a defasagem da política monetária sobre a atividade econômica é, na verdade, entre seis e nove meses. Ou seja, o juro menor vai bater na economia apenas no segundo semestre.

 

Os novos estudos do BC revelam ainda que, agora, os efeitos dos cortes de juros demoram entre seis e doze meses para chegar à inflação. Antes, os cálculos indicavam uma defasagem entre seis e nove meses.
"A propósito, considerando que o atual ciclo de afrouxamento monetário teve início em janeiro de 2009, seus efeitos máximos sobre a atividade ocorrerão no próximo trimestre e, sobre os preços, por volta do final deste ano e início de 2010", afirma o relatório de inflação do BC.

 

As incertezas sobre como a política monetária chega à inflação são o principal obstáculo à uma redução mais forte e rápida da taxa de juros. As projeções de inflação do BC para 2009 e 2010, divulgadas no relatório de inflação, mostram um cenário relativamente tranquilo, com os índices bem abaixo da meta.

 

No chamado cenário de referência, o relatório de inflação projeta para 2009 uma inflação de 4,1% e, para 2010, índice de 3,9%, tomando como base uma taxa Selic estável no nível atual, de 9,25%, e uma taxa de câmbio de R$ 1,95. Os percentuais estão abaixo do centro da meta, definido em 4,5% para ambos os anos. Inflação abaixo da meta significa, em tese, que há espaço para cortar os juros básicos para patamares inferiores ao atual.

 

O BC divulga outra projeção, o chamado cenário de mercado, que dá indicações do quanto a Selic pode ser reduzida. Nesse segundo exercício, que toma como base uma Selic em 9% ao ano no fim de 2009 e no fim de 2010, a inflação ficaria em 4,2% em ambos os anos - também menor que as metas. Ou seja, em tese há espaço para a Selic cair abaixo de 9% e ficar nesse patamar durante o ano que vem.

 

A questão é como, nas suas próximas reuniões, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC vai pesar os chamados fatores de risco. O BC constrói suas projeções inflacionárias tomando como base uma série de pressupostos sobre variáveis como a demanda, taxa de câmbio e preços de commodities. Os fatores de risco podem fazer com que a inflação fique acima - ou abaixo - do projetado no cenário traçado pelos modelos do BC.

 

Os mecanismos de transmissão da política monetária são o principal fator de risco, mas no relatório de inflação o BC aponta outros. Um deles são os "mecanismos institucionais que inibem uma resposta mais intensa da inflação à maior ociosidade de recursos na economia". Em outras palavras, há o risco de os preços serem reajustados sem levar em conta o fraco nível de atividade econômica, mas sim a inflação passada. Um outro fator de risco é a uma eventual recuperação dos preços das commodities pressionar a inflação.

 

O diretor de política econômica do BC, Mario Mesquita, lembra que há também fatores de risco que podem levar a inflação para abaixo do estimado. "A inflação pode cair, também", afirma Mesquita. "Os riscos podem afetar as projeções de inflação para os dois lados." Uma preocupação, segundo o relatório de inflação, é a duração e a magnitude da crise financeira mundial e seus impactos na atividade econômica doméstica. Se a economia mundial se recuperar num ritmo mais lento do que o previsto, a expansão da atividade dentro do Brasil tende a ser mais lenta também, jogando a inflação para baixo. "Em particular, no curto prazo, um risco desinflacionário consiste em uma recuperação da atividade econômica em velocidade menor do que a considerada no cenário principal", diz o relatório. No relatório, o BC também reviu, de 1,2% para 0,8%, sua previsão para a expansão do PIB em 2009.

 

Do ponto de vista da demanda agregada , a revisão se deve basicamente a um desempenho menos favorável dos investimentos. Antes, o BC previa expansão de 0,7% e, agora, recuo de 5,1%. A projeção do BC para o consumo das famílias foi reduzido de 1,6% para 1,5%, e o consumo do governo foi elevado de 2,4% para 2,8%.

 

Na ótica da oferta, o principal fator foi o menor dinamismo da indústria. Antes, o BC projetava recuo de 0,1% e, agora, de 2,2%. Entre as atividades industriais, o cenário se tornou mais favorável apenas para a extração mineral, cuja projeção foi elevada de 2,4% para 2,9%. A projeção para a agropecuária recuou de queda de 0,1% para queda de 0,8%. Os serviços, pelos cálculos do BC, devem se expandir 2,1% em 2009, mais do que os 1,7% projetados no relatório de março.

 

Veículo: Valor Econômico


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