Multinacionais "made in Brasil"

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Em apenas uma década e meia, algumas grandes empresas brasileiras se transformaram em verdadeiras multinacionais. Em 15 anos de Plano Real, companhias como Petrobras, Vale, Itaú, AmBev, Bradesco e Gerdau, saíram às compras, no Brasil e no exterior. Cresceram, ganharam prestígio, firmaram parcerias e se consolidaram no mercado mundial. Tudo isto está refletido em seus balanços. A AmBev, por exemplo, apresenta um crescimento de quase 800% em seu patrimônio líquido na última década.

 

E o que permitiu a este seleto grupo toda esta evolução em tão pouco tempo? Os especialistas são unânimes em apontar como principal fator para o sucesso a estabilidade econômica promovida pelo Plano Real. "O fator primordial foi o efeito da estabilidade, que fez a inflação desaparecer", afirma o economista Ruy Coutinho, ex-presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e ex-titular da Secretaria de Direito Econômico (SDE), ambos do Ministério da Justiça. "Pela primeira vez, os empresários puderam fazer um planejamento de longo prazo", avalia Luis Afonso Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet). "Antes, o horizonte de longo prazo das empresas não passava de seis meses, mas as bases para que as empresas aproveitassem as oportunidades surgidas com o real foram oferecidas antes, na avaliação de Francisco Barone, professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). "O primeiro passo, e que criou o ambiente ideal para a evolução e o surgimento das grandes corporações brasileiras, foi a abertura do mercado nacional à concorrência externa, iniciada em 1990", destacou. "Isto fez com que o setor produtivo, para sobreviver, passasse por um acentuado processo de re-estruturação. Só faltava realmente a estabilidade."

 

Com os preços estáveis e a redução da inflação, as empresas criaram, pela primeira vez, lembra o presidente da Sobeet, departamentos de planejamento estratégico e passaram a planejar investimentos de longo prazo. "Com a estabilidade, houve uma imediata melhora na distribuição de renda". Ele ressalta que só nos últimos cinco anos houve aumento real de 35% na massa de salários. "O mercado interno cresceu puxado pelos consumidores situados na base da pirâmide, aqueles que não tinham capacidade de consumo e que passaram a comprar", explica o professor da FGV.

 

PRIVATIZAÇÃO. Para Ruy Coutinho, há ainda um outro fator: a privatização das empresas estatais, iniciada em 1991 com a venda da Usiminas. "Com isso, assistimos à intensificação das fusões e aquisições", lembra. Neste período, na área bancária, por exemplo, houve a incorporação em massa da população de baixa renda, conta o presidente da Sobeet. E acrescenta: "As grandes instituições, então, percebendo que o mercado estava prestes a ter crescimento apenas vegetativo, olharam para o mercado externo. É o caso do Itaú".

 

"Não podemos deixar de ressaltar que o mundo passou por um período de grande prosperidade, o que facilitou a ida das empresas brasileiras para o exterior", diz o professor da FGV. Toda esta prosperidade representou a facilidade de acesso a fontes de financiamento. "Criaram-se grupos econômicos fortes, tecnologicamente equipados, com liquidez e capacidade de endividamento", destaca Ruy Coutinho. "Desta forma, foram preservadas cadeias produtivas no mercado interno, fortalecendo também a rede de fornecedores."

 

Para o ex-presidente do Cade, é importante que alguns setores tenham escala internacional, caso contrário, serão absorvidos pelo capital estrangeiro. É o que explica a consolidação de setores como bancário, papel, supermercado, petroquímico, siderúrgico e de fertilizantes. "Assistimos agora à consolidação na área de carnes, com a Perdigão comprando a Sadia", conclui ele.

 

Veículo: Jornal do Commercio - RJ


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