Lula faz esforço para elevar investimento da China no Brasil

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A China já investiu US$ 18 bilhoes no exterior este ano, em plena crise financeira global, conforme levantamento do provedor de dados Dealogic, de Londres, mas nem um centavo tomou o rumo do Brasil. Do montante, US$ 3,4 bilhoes foram destinados à América Latina para compra de participação da mina chilena Escondida, a maior produtora de cobre do mundo.

 

Em cinco anos, os investimentos chineses somaram US$ 129 bilhoes no exterior, mais em aquisição e compra de participações do que em projetos novos. Com relação ao Brasil, enquanto o comércio bilateral cresce em ritmo veloz, as inversões chinesas representam um mísero 0,3% do estoque aplicado pelas companhias estrangeiras na economia brasileira como investimentos estrangeiros diretos.

 

As autoridades chinesas não cessaram de acenar com participações, especialmente na área de commodities, mas dois grandes projetos da Baosteel no Espírito Santo, no montante de US$ 6 bilhoes, e da Chalco, com US$ 2 bilhoes no Pará, foram cancelados.

 

É nesse cenário que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca hoje em Pequim para uma rápida visita, na qual a "dinamização" dos investimentos está no centro da agenda com o líder chinês Hu Jintao. No papel, a ideia é ambiciosa. Os dois presidentes vão anunciar um plano de ação para 2010-2014 para multiplicar comércio, investimentos e cooperação em outras oito áreas.

 

"Desta vez esperamos que os investimentos fluam para o Brasil", afirmou ontem o embaixador brasileiro em Pequim, Clodoaldo Hugueney. Ele disse que vem sendo procurado com frequência por companhias chinesas interessadas em investir no país. Exemplificou com o caso da San-y, construtor de equipamentos pesados, como guindastes, que quer abrir fábrica em São Paulo, mas sem mencionar local ou valor dos investimentos.

 

Boa parte das autoridades brasileiras diz a mesma coisa. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, contou recentemente que tem recebido um número importante de empresários chineses dispostos a investir em etanol, agricultura, mineração, etc. Se algum negócio vai ser fechado, é outra coisa.

 

Marcos Caramuru, o cônsul brasileiro em Xangai, diz que "todo dia" vê empresa chinesa querendo ir para o Brasil. No meio da crise e sentado em reservas de US$ 2 trilhões, o governo chinês quer internacionalizar as empresas diversificar mercados.

 

Para os dois diplomatas, os investimentos chineses no Brasil já são bem mais importantes do que as cifras indicam. Isso por duas razões: primeiro, o BC não tem registro de investimento estrangeiro, e sim apenas de transferência de recursos. E boa parte do investimento seria feita via paraísos fiscais, que apareceriam como a origem dos recursos. No entanto, um estudo do Ministério do Desenvolvimento fez um levantamento apenas com base em anúncios feitos por companhias. E o montante a que chegou não passou de US$ 400 milhões, desde 2004.

 

Globalmente, o grosso dos investimentos chineses tem sido na área de commodities. Este ano, o maior negócio foi na Austrália, de quase US$ 10 bilhoes. Mas onde Pequim joga pesado é na África.

 

"O Brasil perde investimentos chineses para a África", diz um empresário. "Eles não querem respeitar o ambiente, querem levar chineses para trabalhar em seus projetos, não respeitam leis trabalhistas e tudo isso complica seus planos no Brasil. Na África, não."

 

Em 2007, a China financiou 300 projetos na África, sendo visto como franco atirador. Somente no Congo, são US$ 9 bilhões de investimentos que lhe dão garantia de acesso a reservas de cobre e cobalto, entre as maiores do mundo. Na semana passada, o Fundo Monetário Internacional (FMI) condicionou empréstimo ao país à revisão de acordo com os chineses.

 

Anfitriões hesitam em liberar carne suína


  
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva antecipou para hoje cedo sua chegada a Pequim, pelo horário chinês. A visita oficial só começará amanhã (terça-feira), às 17h, quando se encontrará com o presidente Hu Jintao. Mas antes ele encerrá um encontro empresarial. Na quarta-feira, Lula pega o avião de volta para Brasília.

 

A diplomacia brasileira tentava ontem contestar interpretações de que a visita foi esvaziada, em meio a mudanças no programa, sua curta duração, ministros que não apareceram e expectativa menor sobre os resultados concretos.

 

Um seminário sobre a economia brasileira em Shenzen foi cancelado por falta de participantes, na semana passada. Outro em Xangai, hoje, terá bem menos empresários, depois que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, desistiu de aparecer. De 500 previstos, até agora a expectativa é de que 100 estarão presentes.

 

Alguns temas da agenda brasileira - liberação da entrada da carne suína brasileira, venda de aviões da Embraer, financiamento para o BNDES - pareciam ontem ainda sem solução. A questão da carne está no topo da agenda bilateral. Os chineses importaram 400 mil toneladas em 2008, principalmente dos EUA e do Canadá. Agora, estariam reticentes em dar o sinal verde para o produto brasileiro, alegando que o consumo caiu com o surgimento do vírus H1N1.

 

Indagado sobre informações de que Pequim não vai liberar a entrada da carne suína brasileira, um representante do Ministério da Agricultura, Inacio Kroetz, retrucou: "Vamos ver isso amanhã (hoje)."

 

Quanto ao financiamento de US$ 800 milhoes do Banco de Desenvolvimento da China para o BNDES, o embaixador Clodoaldo Hugueney disse que o contrato deve ser assinado. No entanto, continuavam as negociações sobre as condições, como prazo e taxa de juro, que pareciam pouco atrativos para os brasileiros.

 

O Banco do Brasil vai assinar acordo de cooperação com o Banco da China. Com isso, terá mais linhas de financiamento para comércio e investimentos. Também sera fechado um contrato do Itaú com o Banco de Desenvolvimento da China, com a instituição brasileira tendo acesso a US$ 100 milhoes em linhas de crédito. (AM)
 


Veículo: Valor Econômico


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