Exportações de industrializados devem cair 37%, prevê Fiesp

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Na esteira da crise financeira, que afeta a corrente mundial de comércio, as exportações brasileiras de industrializados devem recuar 37,5% no primeiro semestre deste ano, em comparação com o último semestre de 2008. A projeção está no indicador de perspectivas de exportação de produtos industrializados, elaborado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) com dados compilados até o mês de março. Para os 12 meses que se encerram em julho próximo a pesquisa aponta uma queda de 14,1% das exportações de industrializados.

 

Segundo o diretor do departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon) da Fiesp, Paulo Francini, essa "freada" nas exportações brasileiras não acontece pela composição da pauta de exportações do País, mas sim porque há uma queda generalizada na corrente comercial global. Ele cita dado da Organização Mundial de Comércio (OMC) que prevê queda de 10% na corrente de comércio mundial, "fato que não acontece há muito tempo".

 

Os produtos industrializados correspondem a 60,5% do total exportado pelo País, e o recuo de 37,5% neste segmento, representa uma queda de 20% sobre a totalidade de exportações nacionais. Nos produtos básicos, que compõem os 40% restantes da pauta, e que não são necessariamente só commodities mas podem ser também insumos industrializados, Francini acredita em queda de 5%, o que projetado sobre o valor total das exportações deve representar recuo de 2%.

 

Com isso, a "o valor total das exportações em 2009 deve ser 20% a 25% menor do que o verificado em 2008, carregado especialmente pela retração dos industrializados", avalia o diretor da Fiesp, acrescentando que desde o acirramento da crise as commodities obtiveram quedas menores do que os industrializados, seja no aspecto volume ou no preço. "A questão fundamental se refere à fortíssima redução do nível de demanda e consumo de países ricos, e isso não essencialmente nas commodities, mas sim sobre produtos industrializados", detalha Francini. Esta análise é corroborada por Julio Gomes de Almeida, professor de economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que lembra a dificuldade dos países em desenvolvimento, alguns dentre os maiores compradores de produtos manufaturados do Brasil, em vender seus produtos no mercado internacional. "Um dos problemas é que os países que são nossos compradores de manufaturas, muitos da América do Sul, e alguns em outros mercados como África, México, estão sofrendo bastante com a crise. A maioria deles exporta produtos que se desvalorizaram muito no mercado internacional, e estão demandando pouco ou muito menos produtos manufaturado brasileiros", avalia o economista.

 

Perdendo mercado e preço

 

Almeida ressalta ainda que, com a crise, "estamos perdendo mercados que já havíamos conquistado, e também perdendo preço". Ele destaca que a queda nos básicos também é forte, mas é menor que nos produtos manufaturados. Entretanto, o fato de o País ter uma pauta diversificada de exportação de produtos básicos confere uma certa "proteção", segundo o professor da Unicamp. Ele acrescenta que essa diversificação "é uma vantagem, exportamos uma grande pauta que vai de soja até petróleo, passando por minério, café, madeira, dentre outros, e muitos países em desenvolvimento não contam com essa característica, e sofrem mais com a crise".

 

A influência do câmbio, que já foi um dos principais empecilhos para as exportações brasileiras, foi minimizada por Almeida. A taxa de câmbio parece ter se estabilizado no patamar de R$ 2,20 por dólar, que seria favorável se não houvesse crise global. "Com a crise ele não impede o assédio de importações predatórias, não se configura uma barreira contra vendas a custo marginal no Brasil. E também não é um indutor de exportações, porque não tem mercado lá fora. Esse dólar é bom para a competitividade do produto brasileiro, mas não há para quem vender", sentencia. .

 

Novo patamar

 

Já Francini salienta que a mudança de patamar do câmbio beneficia o País, tanto nas exportações quanto no mercado interno, conside-rando que se não houvesse esse movimento de desvalorização do real, o cenário seria pior do que o verificado até agora. Entretanto, ele pondera que "na crise o apetite de vender aumenta muito, e hoje, por exemplo temos calçados cujo preço, em dólar, estão inferiores ao patamar de preços atingido antes da crise, e muitas vezes esse preço não compensa a desvalorização do real."

 

O Brasil é relativamente pouco dependente do comércio externo, com cerca de 12% de seu Produto Interno Bruto (PIB) diretamente relacionado às exportações, mas isso não o impede de ser afetado pela crise econômica internacional. "A exposição externa do Brasil é ainda menor do que de outros países, e por isso ele fica menos impactado por fatores que acontecem no comércio mundial. Mas o País não vai escapar ileso da crise, ele não é uma ilha", atesta o diretor da Fiesp.

 

Francini ressalta que a projeção para o saldo da balança comercial neste ano não será negativa, "e deve ficar próximo dos US$ 20 bilhões, que são os eventuais US$ 24,7 do ano passado, menos 25% de queda na pauta de importação e exportação", consequentemente o saldo deve se reduzir na mesma proporção. Segundo o economista, esse recuo do saldo da balança "não é de todo mal, se considerarmos que houve períodos na história brasileira em que aconteceram mudanças bem rápidas de superávit para déficit, e isso não esta acontecendo agora."

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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