Quase 17 mil empresas já importam da China

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Comércio exterior: Em 4 anos, perfil dos grandes compradores mudou

 


O avanço da China no fornecimento de produtos diversos ao Brasil fez triplicar o número de grandes importadores do país asiático. Em 2005, apenas 12 empresas compravam mais de US$ 50 milhões dos chineses. No ano passado, a quantidade de compradores nessa faixa de valor subiu para 41 empresas. O perfil de quem mais importa da China também traz novidades. O topo da lista continua dominado pelas empresas de eletroeletrônicos e informática, mas começam a despontar como grandes clientes dos chineses as varejistas brasileiras.

 

De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento (MDIC), na faixa entre US$ 10 milhões e US$ 50 milhões, o volume de empresas que importam da China também triplicou - de 73 para 226. Além de aumentarem o valor comprado no país asiático, mais empresas passaram a se abastecer por lá. No total, 16,8 mil empresas compraram produtos chineses em 2009 - 135% mais em apenas quatro anos. No conjunto, o total de importadores cresceu 50% e passou de 22,6 mil empresas em 2005 para 34 mil no ano passado.

 

O aumento do número de grandes importadores da China é um reflexo da maior participação daquele país nas importações totais do Brasil. Em 2005, os chineses vendiam 7,3% do valor total importado pelos brasileiros. Hoje, essa fatia é de 12,5%. No mesmo período, a participação dos Estados Unidos caiu de 17,2% para 15,7%.

 

A elevação veio acompanhada de uma diversificação das empresas que aumentaram as compras feitas na China. Em 2005, as 12 empresas que mais compravam naquele país se dividiam entre tradings, fabricantes de eletroeletrônicos e siderúrgicas. As indústrias de tecnologia dominavam a lista, com oito fabricantes.

 

Em 2009, a lista das que importam mais de US$ 50 milhões da China ainda contava com boa participação das tradings e indústrias de tecnologia. Foram seis empresas especializadas em importação e exportação e 26 companhias de eletroeletrônicos, telecomunicações e informática. Com forte corte na produção em 2009, as siderúrgicas reduziram a importação de insumos chineses, principalmente carvão, e acabaram saindo dessa faixa de valor no ano passado. Elas deram lugar para empresas de outras áreas, como grupos varejistas, indústrias têxteis e empresas do setor químico.

 

A ST Importações, por exemplo, é a importadora controlada da varejista Lojas Americanas, ao lado da B2W Companhia Global do Varejo, que reúne os sites Americanas, Submarino e Shoptime. A ST comprava da China entre US$ 1 milhão e US$ 10 milhões em 2005 e no ano passado ficou entre as que desembarcaram mais de US$ 50 milhões.

 

Outros grandes varejistas, como Carrefour, Companhia Brasileira de Distribuição - das marcas Pão de Açúcar e Extra - e Lojas Riachuelo, não chegaram a comprar mais de US$ 50 milhões, mas aumentaram o valor comprado dos chineses, segundo dados do MDIC. Em 2005 essas redes importavam da China entre US$ 1 milhão e US$ 10 milhões. No ano passado ficaram na faixa das empresas que trouxeram entre US$ 10 milhões e US$ 50 milhões daquele país asiático.

 

Ao mesmo tempo em que aumentaram o valor comprado dos chineses, algumas empresas também entraram na lista das 250 maiores importadoras do país. É o caso da fabricante de tecidos Adar e da trading Stile. Em 2009 as duas empresas se abasteceram em mais de US$ 50 milhões em produtos da China e também passaram a integrar a lista dos maiores importadores do país. Levando em conta todas as origens, a Adar comprou um total de US$ 100,58 milhões de fios e tecidos, e a Stile, US$ 84,4 milhões em mercadorias.

 

A paranaense Positivo Informática também ficou em 2009 entre as que importaram mais de US$ 50 milhões dos chineses. Em 2005, ela já estava entre as 250 maiores importadoras brasileiras, em 119 º lugar, com compras totais de US$ 73,37 milhões. No ano passado saltou para 51ª posição, com importação total de US$ 336,7 milhões.

 

José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), acredita que o número de grandes importadores da China cresceu no período em que a taxa cambial favoreceu as compras do exterior. "O dólar baixou a partir de 2005 e tornou mais atraente as importações, que ficaram mais baratas em real", diz Castro. "Ao mesmo tempo, o crescimento interno nos últimos anos elevou a demanda e os chineses aproveitaram a oportunidade."

 

Mesmo no ano passado, lembra Castro, em que a crise financeira bateu na economia real brasileira, a demanda interna continuou alta. Como evidência do aquecimento do mercado nacional, diz, o valor total importado em bens de consumo em 2009 caiu menos do que o de bens de capital e de intermediários na comparação com 2008.

 

Em relação à China não foi diferente. Enquanto o total das compras de produtos chineses desembarcados no Brasil caiu 20,6%, o de bens de consumo não duráveis recuou 4,36%, e os bens de consumo duráveis chegaram a apresentar pequena elevação de 1,64%. Os dados são da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex). O aumento na importação de bens de consumo duráveis ajuda a explicar o aumento nos valores importados pelos varejistas, além da própria importação de itens de maior valor agregado.

 

A compra de produtos de maior valor agregado, porém, não se restringe aos bens de consumo. A Adar, que tem fábrica em Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, importa seus principais insumos da Ásia. Cerca de 80% deles vêm da China. Em 2005, a indústria têxtil comprava entre US$ 10 milhões e US$ 50 milhões em fios e tecidos chineses. No ano passado, a empresa passou para a lista das que desembarcam acima de US$ 50 milhões por ano de produtos "made in China".

 

Marcelo Camarozano, gestor administrativo da empresa, diz que a mudança de faixa de valor ocorreu porque a fabricante de tecidos vem aumentando o volume de importação a cada ano em função da própria elevação de produção, principalmente para o mercado interno. A empresa conseguiu terminar o ano passado com a mesma receita de vendas de 2008, mas aumentou em 10% o volume de importações da China. Segundo Camarozano, os desembarques também aumentaram em valor porque a empresa trouxe insumos de maior valor agregado. "Houve uma mudança de 20% no mix de importações da China, com mais tecidos diferenciados, de gramatura mais alta ou com acabamento refinado, que tiveram preços mais altos", conta.

 

Para 2010, a expectativa é que as importações continuem aumentando. A China ainda deve continuar a ser o principal fornecedor da Adar nos próximos anos. A alteração de 20% no mix de insumos deve ser mantido e, além disso, a empresa planeja aumentar o volume de produção interna de 500 toneladas mensais de malhas em 2009 para 600 toneladas/mês até o fim de 2010. "Estamos trabalhando com ganho de escala e produtos de maior valor agregado, seguindo tendências da moda." Camarozano explica que Taiwan e Índia começam a despontar como fornecedores, mas ainda não oferecem a mesma variedade e volume oferecidos pela China.

 

A mudança de nível de valor importado também está relacionada ao ganho de qualidade do produto chinês, diz o gestor. "No começo havia muitos lotes com defeito, que vendíamos a empresas que aceitavam esse tipo de produto. Agora isso é muito raro."
 

 

Veículo: Valor Econômico


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