Chegou a vez de o Brasil produzir carne de ovelha

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A ovinocultura brasileira passa por uma transformação significativa. Se até a década passada a criação era para lã, agora é para corte. E com os investimentos em genética, o setor passa por outra mudança: a necessidade de expansão do plantel para abate. Segundo estimativas da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco) cerca de 60% do consumo nacional depende de carne importada. Ou seja, existe um mercado potencial.

 

"Existe uma lacuna entre a produção e o consumo", diz Antônio Augusto Coutinho, gestor de Ovinos e Caprinos da Tortuga. Pelas suas estimativas, o consumo per capta nacional é de 700 gramas por ano - na Nova Zelândia são 33 quilos per capita - enquanto o de carne bovina gira em torno de 36 quilos per capta.

 

"A carne sempre foi um segundo produto da ovinocultura", afirma o proprietário da VPJ Pecuária, Valdomiro Polisseli Júnior. Mas, nos últimos cinco anos, passou a ser "artigo de luxo". Uma arroba de cordeiro vale R$ 140, enquanto a bovina gira em torno de R$ 90. Na avaliação dele, a criação de ovino feita em um sistema profissional tem uma rentabilidade de 35% a 40% ano.

 

A decadência da produção de ovinos - por causa da queda no preço da lã - foi tão grande na década passada que o Rio Grande do Sul - maior rebanho nacional - tinha um plantel de 13 milhões de animais e atualmente é de apenas 4 milhões - de um total no Brasil de 14 milhões hoje.

 

O presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Textel (Abratextel), Luís Fernando Nunes - que é criador em Viamão (RS) - diz que quando o rebanho gaúcho era superior a 10 milhões de cabeças - a maior parte de raças produtoras de lã (chamadas de lanadas), o mercado árabe era demandador. "Teríamos de repor este rebanho se eles voltassem a comprar", afirma. Na sua avaliação, hoje, a tendência do mercado gaúcho é virar fornecedor de genética.

 

Mas a perspectiva de mercado para carnes fez muita gente entrar na ovinocultura. É o caso da VPJ Pecuária - que há dois anos tem a VPJ Beef - e do criador Luís Roberto Dias da Silva, de Atibaia (SP). Faz seis anos que ele iniciou a criação da raça santa inês. "Eu vi que a ovinocultura podia ser uma importante fonte de proteína para o futuro", argumenta. O produtor começou o plantel voltado para a genética, mas vem transformando a vocação de seus animais. "Os preços já estão ficando irreais nos leilões", avalia. Segundo ele, como houve uma evolução neste mercado, agora talvez o plantel de ovinos para abate comece a crescer.

 

Na VPJ Pecuária, o plantel é para a seleção genética, mas há dois anos a empresa abate ovinos em um sistema de integração - os produtores compram a genética da VPJ, que adquire o animal para o abate. Hoje o frigorífico abate em média entre 1 mil e 1,2 mil animais por mês. "Mas com necessidade de mais cordeiros". Nesta semana, o grupo adquiriu o ovino da raça dorper mais caro da Austrália: AU$ 34 mil - equivalente a R$ 48,8 mil. Trata-se do Supremo Grande Campeão Australiano da Raça Dorper, o animal Amarula Maverick, considerado o melhor reprodutor dessa raça..
Coutinho, da Tortuga, acredita no crescimento deste mercado. Tanto que há oito anos a empresa lançou os primeiros produtos de nutrição específicos para esta atividade e, neste ano, outros quatro. "A genética já está em um nível de desenvolvimento muito bom. Mas existem poucos grandes projetos para a produção de carne", afirma. Paulo Schwab, presidente da Arco, diz que se o setor quisesse ter um consumo equivalente a 20% da carne bovina, o rebanho nacional deveria ser de 100 milhões de animais. Schwab acredita na ovinocultura de corte como fornecedora de proteína animal pois, de acordo com ele, um ovino é equivalente a 0,2 unidades animais - ou seja, ocupa menos espaço no pasto que um boi.

 

Schwab diz que um dos problemas do setor ainda é o abate clandestino - ele acredita que 90% seja nesta modalidade - o que dificulta o crescimento do mercado. Segundo ele, o abate certificado pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF) é de 250 mil animais por ano. Para dar credibilidade ao setor, a Arco criou um projeto-piloto no Rio Grande do Sul de certificação da carne. O animal precisa ter até um ano de idade, com peso vivo entre 25 a 40 quilos e acabamento corporal de 2,5% a 4% de gordura. "A intenção é que o selo seja nacional". Ele lembra que o ovino é um "animal completo", pois além da lã, produzi a carne e leite.

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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