Palavra-chave em qualquer discussão sobre vinho é "terroir". Esta expressão francesa sem tradução em português soa quase como uma palavra mágica, um "abre-te Sésamo" para a gruta encantada onde mora o deus Baco.
Terroir é o conjunto de fatores naturais que caracterizam um local, como seu solo, clima, exposição ao sol, chuvas, vento, altitude, inclinação do terreno etc. Um conjunto tão complexo que torna cada vinho único. Um destes locais privilegiados, em plena fase de descoberta, é o Vale de Apalta, no Chile. À convite da Viña Ventisqueiro fiz visita exclusiva ao belo vale e uma degustação fascinante, in loco.
O Vale de Apalta é parte do Vale de Colchagua, na sub-região do Vale de Rapel, a acerca de 160km a sudoeste de Santiago. Apalta é um pequeno vale na parte interior e mais fria de Colchagua, em formato de ferradura de frente para o sul, um paraíso para a Carménère e Syrah, de onde saem ícones Clos Apalta, Montes Alpha M e Neyen.
Apalta é um pouco mais úmida que a média de Colchagua, 650mm anuais, contra 592mm. O inverno é seco e frio, 2 graus e 15 graus Celsius, e os verões quentes, entre 12 e 31. A altitude é de 200 a 450 metros, e os solos variam bastante conforme a altitude, com granito com diferentes concentrações de argila. As castas mais plantadas são a Cabernet Sauvignon, Carménère, Syrah e a Merlot, embora existam inúmeras outras, plantadas como experimento. O estilo geral dos vinhos é de tintos de muita cor e concentração, mas também com frescor, elegância e mineralidade.
A Viña Ventisquero, para o padrão chileno é "média", com "apenas" 1.800 hectares próprios, que geram 14 milhões de litros de vinho ao ano, 65% dos quais são tintos. A Ventisquero está presente em 55 países e registrou um crescimento de 53% no valor de suas exportações em 2007 e projeta 20% para 2008.
Em Apalta pude conhecer o enólogo-chefe da empresa, Felipe Tosso, que junto com o viticultor-chefe, Ricardo Gompertz, me levou a conhecer cada parcela do terreno, examinando a constituição de cada solo. Depois fizemos uma prova de quatro amostras de Carménère, quatro de Cabernets Sauvignon e quatro de Syrah, todos de 2007. Estes vinhos, ainda inacabados, serão misturados para compor os vinhos "top" que a empresa lançará ano que vem.
Quanto maior a concentração de argila, mais vermelho o solo. Há outras variáveis também, como profundidade do solo e altitude, mas podemos dizer que, no geral, quanto mais argila no solo mais o vinho mostrou frutas negras e concentração, enquanto os solos mais graníticos e pedregosos geraram vinhos mais elegante, com mais acidez e mineralidade.
Cada uma destas parcelas é trabalhada como um vinho totalmente independente, colhida separadamente, vinificada separadamente e amadurecida em barris diferentes (todos franceses). Depois o trabalho dos enólogos é "montar" o vinho, no caso os tops da Ventisquero – Vértice e Pangea.
Estes dois vinhos foram criados a quatro mãos por Felipe Tosso, um especialista em Carménère, e John Duval, um especialista em Syrah. Duval, hoje um enólogo-consultor internacional, entre 1974 e 2002 esteve à frente da equipe da australiana Penfolds, assinando o mais prestigioso Syrah do Novo Mundo, o Grange.
Desta parceria nasceram o Vértice (Carménère-Syrah) e o Pagea (Syrah), ambos em destaque com outros dois grandes nomes de Apalta.
Veículo: Gazeta Mercantil