Crise pode abalar venda de bebidas gourmet

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O aumento no número de desempregados e a desaceleração da economia mundial provocados pela crise podem fazer com que o consumo de cafés do tipo gourmet (especiais) recue nos próximos meses. A expectativa de especialistas, no entanto, é que a procura por grãos convencionais, com preços mais acessíveis, continue estável e sustente o crescimento das vendas nos próximos anos. A virada inesperada na situação joga contra a campanha do setor, que tinha como objetivo promover o consumo de grãos especiais para agregar valor ao produto e aumentar a receita com as vendas. A indústria do café acredita que o setor de grãos gourmet vinha crescendo a taxas anuais médias de 15%.

 

Em algumas empresas especializadas nesse segmento, a crise realmente já reduziu o volume de vendas e há cancelamentos de pedidos. "A inadimplência de alguns compradores também cresceu", avalia Rafael Branco Peres, sócio-diretor da Café Centro, tradicional torrefadora brasileira com atuação no setor. Ele explica que a estratégia da empresa é atuar agressivamente nas novas janelas que a crise deve proporcionar. "A alta do dólar deixou o produto importado mais caro e abre espaço para o nacional, que em muitos casos é até melhor que o estrangeiro", ressalta. "Esse mesmo fator também tornou nosso produto mais atrativo lá fora, o que pode ampliar as exportações", completa.

 

Peres revela que já é sensível a busca dos compradores por produtos mais baratos e conta que já perdeu alguns negócios nos últimos meses. A companhia possui uma produção mensal de 80 toneladas de café gourmet e cerca de 3 mil clientes em todo o Brasil. No que diz respeito aos projetos no exterior, Peres diz que não haverá alterações. "Contamos com uma loja no Japão e outra deverá ser aberta nos próximos meses em Taiwan".

 

Gil Barabach, analista da Safras & Mercado, acrescenta que deve ocorrer pelo menos uma acomodação nas compras dos cafés especiais. "Países emergentes como Rússia e Ucrânia devem sentir mais a crise e diminuir a compra desse produtos. Já os mercados tradicionais como Estados Unidos e Japão o volume desses cafés deve sofrer, mas não na mesma proporção que os outros". Para ele, a procura deverá ter uma "acomodação". "Com certeza as taxas de 10% e 15% de crescimento serão menores".

 

A Organização Internacional de Cafés (OIC) estima que o consumo de café no mundo deve atingir 128 milhões de sacas (60 quilos) neste ano para uma produção avaliada em 131 milhões de sacas. Natan Herszkowicz, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), explica que os indicadores de consumo no Brasil não mostram queda no consumo. "Nos últimos 20 anos não há histórico que mostre redução em períodos de crise". Ele acredita que o produto convencional já foi incorporado ao consumo diário e não deve registrar redução. "A menos que a crise piore muito", avalia. Ele concorda que a demanda por cafés especiais pode cair, mas como se trata de um nicho muito pequeno, não deve ter grande impacto. Conforme os dados da associação, o Brasil deve consumir 600 mil sacas de cafés gourmet neste ano.

 

Peres diz que o número de clientes no setor gourmet mostra quanto o mercado é pulverizado no País, fato que reduz a possibilidade de problemas em caso de crise. "Vendemos muito para hotéis e restaurantes. Queremos ampliar para padarias e supermercados. A procura já existe, mas ainda é apenas uma tendência".

 

Para 2009, o diretor-executivo da Abic, diz que a instituição mantém a previsão de crescimento. "Continuamos perseguindo a meta de 21 milhões de sacas até 2010", declara. Ele observa que pesa a favor do café os preços bem acessíveis do produto. Nos últimos 14 anos, os cafés tiveram um reajuste de 30% ante uma alta de 260% da inflação no mesmo período. Herszkowicz acrescenta que a redução das compras por parte de algumas lojas não possui relação direta com a crise e pode ser uma mudança de estratégia para o momento.

 

Comercialização

 

As vendas de café arábica no mercado interno fecharam outubro com índice de 58% ante 57% do mesmo período do ano anterior, conforme a Safras & Mercado. Barabach explica que o fluxo nesse mês pode ser considerado ainda maior que o do ano anterior, pois a safra é maior que a do ano passado. O analista explica que os produtores venderam muito porque foram realizadas muitas vendas antecipadas no início do ano, período em que a saca atingiu o pico de R$ 292, conforme dados do Cepea/Usp. "Agora, mais capitalizado, o produtor deve esperar o melhor momento para vender".

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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