Na Argentina, InBev será rival de sua nova marca global

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A compra da cervejaria americana Anheuser-Busch pela multinacional belgo-brasileira InBev criou uma situação insólita na Argentina, segundo principal mercado cervejeiro na América do Sul e onde a InBev, dona da marca líder Quilmes, detém nada menos que 73% de participação. A marca Budweiser, carro-chefe da Anheuser-Busch, pertence na Argentina ao principal concorrente da InBev, o grupo chileno CCU. Donos de 22% do mercado, os chilenos têm um contrato de licença e distribuição exclusivas da Bud até dezembro de 2025 para a Argentina e o Uruguai e até 2015 para o Chile. 

 

Para o economista Alejandro Ovando, sócio da consultoria IES e analista que acompanha o setor, a fusão mundial entre a InBev e a Anheuser-Busch, implicará alguns movimentos no mercado local em médio prazo. "A marca Budweiser passaria da CCU ao novo grupo, o que determinaria uma maior concentração no mercado, perto de 80%", avalia Ovando. 

 

Procurados pela reportagem do Valor, nenhum dos dois grupos quis afirmar qual será o futuro da marca Budweiser na Argentina. "O 'deal' com a Anheuser-Busch ainda não está encerrado, foi aprovado pela InBev, mas ainda espera aprovação da Anheuser, portanto é muito prematuro dizer o que vai acontecer com as marcas e eu não vou fazer especulações", respondeu o vice-presidente para a área de comunicação da Quilmes, Mariano Botas. 

 

"Temos um contrato de longo prazo com a Bud, temos compromissos de investimento na marca que espero que não mudem com a venda para a InBev", disse Javier Trucco, gerente de marketing do grupo CCU. Ele afirmou que a CCU não foi procurada pela InBev para discutir a situação da Bud na Argentina e também preferiu não fazer comentários sobre o que pode acontecer no futuro. "Temos uma segunda posição mais sólida agora, somos competidores da primeira empresa e o que me preocupa hoje não é tanto a concorrência no mercado de cervejas, mas sim o cenário do país e no mundo", disse Trucco, referindo-se à crise financeira mundial. 

 

Com "posição mais sólida agora", o executivo da CCU se referia à mais recente aquisição do grupo na Argentina, realizada em março: as marcas Bieckert, Palermo e Imperial e uma fábrica na cidade de Luján (província de Buenos Aires). A operação está relacionada com a forte concentração de mercado de que falava Alejandro Ovando, da IES. 

 

A fábrica de Luján e as três marcas de cerveja também pertenciam à Quilmes em 2002 quando foi comprada pela AmBev - que posteriormente se juntou com os belgas para criar a InBev. Para evitar a formação de um monopólio no mercado de cervejas, a Comissão Nacional de Defesa da Concorrência (CNDC) do governo argentino decidiu condicionar a compra da Quilmes à venda das três marcas (cerca de 6% do mercado) e da fábrica de Luján. Em 2006, os ativos foram vendidos para a Icsa, uma empresa do grupo Corporación América S/A (Casa), que este ano revendeu para a CCU. 

 

Segundo Javier Trucco, a aquisição dos ativos da Icsa alavancaram as vendas da CCU em 25%. Em 2007 a CCU vendeu na Argentina 2,5 milhões de hectolitros de cerveja e a incorporação de Bieckert, Palermo e Imperial acrescentou 900 milhões mais, totalizando 3,5 milhões de hectolitros e posicionando a empresa com 21,22% do mercado. 

 

Mas agora, com a compra da Budweiser pela InBev, tudo volta à situação em que a CNDC encontrou o negócio, com a Quilmes dona de quase 80% do mercado, já que a Bud detém 5% de participação. Como a CNDC vai se posicionar? Procurada pelo Valor, a comissão orientou uma assistente a dizer apenas que "a informação não está disponível". 

 

Embora sejam movimentos expressivos para as empresas envolvidas, o mercado argentino de cervejas tem se movido pouco comparado com a intensa atividade econômica do país desde que saiu de sua pior crise econômica em 2002. Segundo dados da IES, o consumo per capita de cerveja ficou em 31,9 litros por habitante/ano no segundo trimestre de 2008, 2,5 litros mais que em igual período de 2007. Nos últimos 12 meses, o consumo per capita chegou a 41 litros por habitante/ano, o que situa a Argentina como 36º país consumidor, atrás do Brasil que consome 47,6 litros. 

 

O setor como um todo aumentou seu faturamento em 28% no segundo trimestre de 2008 comparado com o mesmo período de 2007, o que representou um crescimento muito maior que os 11,9% registrados no mesmo período do ano passado, graças a aumentos de preços e de quantidades vendidas. Segundo Ovando, a marca que mais vem apresentando crescimento junto ao público é a Salta e o nicho de maior expansão é o de cervejas artesanais. 

 

Em 2006, a mexicana Femsa tentou entrar no mercado argentino, através da compra das marcas que a Quilmes era obrigada a vender, mas perdeu a concorrência para os grupos locais. 

 


Veículo: Valor Econômico


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