Vinho - A elegância do Barbaresco tem origens ancestrais

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A DOCG Barbaresco fica na parte sul do Piemonte, a sudoeste da cidade de Alba, bem nas comunas de Barbaresco, Treiso e Neive e em uma zona da região chamada de San Rocco Seno d’Elvio. O coração da região é a belíssima e minúscula vila de Barbaresco, com cerca de 600 habitantes (pouco mais do que o prédio onde moro, em Copacabana).

 

A história do Barbaresco tem origens ancestrais, embora o prestígio só tenha sido alcançado na segunda metade do século XX. Seu "primo-irmão", o Barolo, ficou famoso antes, depois que tropas de Napoleão Bonaparte ocuparam a região. Os franceses trouxeram para o Piemonte o gosto por vinhos finos e elegeram o Barolo como "o vinho dos reis e o rei dos vinhos", nas palavras de Voltaire.

 

A trajetória do Barbaresco começou a mudar quando Domizio Cavazza, agrônomo proprietário do Castello di Barbaresco e de vinhedos, tornou-se o primeiro diretor da Regia Scuola Enologica di Alba, em 1882. Ele pregava o valor dos vinhos de Barbaresco e começou a trabalhar para torná-los de tanto prestígio quanto o Barolo.
Em 1894 Cavazza criou a Cantina Sociale di Barbaresco, cooperativa de produtores, e propôs ampliar a região do Barolo para englobar a região Barbaresco. Politicamente a iniciativa não vingou e Cavazza e seus seguidores decidiram seguir com o Barbaresco em "carreira solo". A proposta, então, foi criar um vinho similar ao Barolo, mas "de mais elegância, mais fácil digestão e mais fácil de combinar com comida" (o Barolo seria mais "forte" exigindo pratos mais pesados).

 

Assim, em 1908 foi constituído o Sindicato do Barbaresco, "para produção e comércio do genuíno Nebbiolo di Barbaresco". O reconhecimento veio mais tarde, com a obtenção da Denominazione di Origine Controllata (DOC) em 1966 e a elevação à Denominazione di Origine Controllata e Garantita (DOCG) em 1980. Finalmente, em 1986 foi criada a Enoteca Regionale del Barbaresco, para promover os vinhos da região. A sede da entidade fica na vila de Barbaresco, antigo prédio da igreja de São Donato.

 

Entre 1966 e 2007 o Barbaresco galgou muitos degraus: a área de vinhedos foi de 190 para 699 hectares; a produção foi de 1,2 para 4,3 milhão de garrafas; o número de produtores cresceu de 40 a 185. A paisagem dos vinhedos do Barbaresco é de colinas baixas, de 150 a 450 metros de altitude. Podemos dividir a região em dois tipos de solo e vinhos: 1.° – comunas de Treiso, S. Rocco Senodelvio e a parte sudeste da comuna de Neive, com terrenos argilo-calcários pedregosos, medianamente compactos, que proporciona vinhos elegantes de estrutura mediana e menos propensos ao envelhecimento. 2.° – comuna de Barbaresco e a parte oeste da comuna de Neive, com terreno "Tortoniano", de rocha calcária mais compacta, proporciona vinhos de grande estrutura e potencial para longa guarda.

 

Todo Barbaresco é elaborado 100% com a uva Nebbiolo, de deficil cultivo e ciclo longo (primeira a brotar e última a ser colhida). Com a Filoxera no final do século XIX e as guerras mundiais no XX, a Nebbiolo teve a área replantada com Dolceto e Barbera, castas de cultivo menos exigentes, de vinhos mais baratos e fáceis de comercializar.

 

Nos últimos anos os melhores clones foram estudados, análises de DNA feitas e hoje a fama de "defícil" da Nebbiolo está se tornando coisa do passado. Como é proibido o aumento da área plantada, muitos produtores já arrancam a Dolceto e Barbera para replantar com a mais rentável Nebbiolo.

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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