Lei seca eleva venda de cerveja sem álcool

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Empresas aumentam investimento em marketing no segmento e lançam produtos como o chope não-alcoólico.Venda de cerveja sem álcool da AmBev e da Femsa cresce mais de 65% após nova lei; participação da categoria no mercado é de 0,75% do total


ANDRÉ PALHANO

 

A lei seca vem impulsionando um produto até então relegado ao segundo plano nas estratégias de venda e marketing das grandes companhias de bebida: a cerveja sem álcool.


Somente no mês de julho, a AmBev aumentou em 66% as vendas da principal cerveja do segmento, a Liber, em comparação com o mesmo mês do ano anterior. As vendas da Bavaria sem álcool, da Femsa, cresceram 69,5% no mesmo período.


Segundo as empresas, a tendência é que os números cresçam ainda mais. Atualmente, a participação desse segmento de cervejas -com teor alcoólico abaixo de 0,5%- no mercado brasileiro ainda é tímida, em torno de 0,75% do total, bem abaixo da média de países como Espanha, Estados Unidos e Alemanha, acima de 5%.


"Esse é um mercado com oportunidades muito interessantes de crescimento. A Liber é agora uma prioridade de nossas equipes de venda", diz Sérgio Eleutério, gerente de marketing da AmBev.


"O que mudou no segmento com a nova lei é que a cerveja sem álcool era um produto para quem, por motivos diversos, não tinha a opção de consumir a cerveja com álcool. Agora passa a ser uma alternativa para quem tem essa opção."


A importância estratégica do produto motivou a AmBev a incluir a Liber nas vinhetas de patrocínio do Campeonato Brasileiro de Futebol, assistido por milhões de espectadores.


Mais do que reforçar as vendas, o impulso do segmento de cervejas sem álcool com a lei seca também se reflete em uma verdadeira corrida pela criação de novos produtos. A cervejaria Petrópolis, que produz a cerveja Itaipava desde 1994, anunciou recentemente a criação da Itaipava sem álcool. Nos próximos dias, a AmBev também chega aos bares com o primeiro chope sem álcool produzido no país: o chope Liber.


A Femsa também pretende lançar em breve uma versão de chope Bavaria sem álcool. "O investimento no chope sem álcool é uma tendência natural do mercado cervejeiro e das cervejas sem álcool", diz a gerente de relações institucionais da Femsa, Renata Zveibel.


O objetivo é alcançar consumidores que gostam do produto e ainda não têm uma alternativa sem álcool. Choperias e restaurantes (os maiores prejudicados pela nova lei) nas grandes capitais serão os alvos dos novos produtos.


No futuro, a tendência é que cervejas sem álcool saborificadas e de tipos diferentes (hoje existem apenas as do tipo pilsen no mercado local) sejam oferecidas aos consumidores.


"Em um primeiro momento, é preciso apresentar a própria cerveja sem álcool, um produto ainda desconhecido por grande parte dos consumidores brasileiros", explica Eleutério, da AmBev. A partir do momento em que se torna um produto estratégico, essa cerveja tende a melhorar em termos de qualidade e sabor, como ocorreu com os refrigerantes diet, diz.


A preparação das empresas de bebidas para a lei seca, segundo apurou a Folha, vem acontecendo há mais de um ano, desde as primeiras sinalizações sobre a nova lei. Como o impacto sobre as vendas dos produtos com álcool tende a ser negativo -as empresas afirmam que é prematuro estimar a dimensão-, a saída foi buscar novas oportunidades. E o segmento de cerveja sem álcool surgiu como a melhor opção.
Segundo a Femsa, o efeito de queda nas vendas com a nova lei é ainda específico no segmento chope, que corresponde de 2% a 4% do total de vendas, dependendo da empresa.


Ao mesmo tempo, as vendas de cervejas nos supermercados cresceram, como resultado da preferência pelo consumo da bebida em casa.


"Vale ressaltar que as empresas que contam com portfólios amplos de produtos, como a Femsa, têm a vantagem de não sofrer tanto com o impacto da lei, pois o consumidor migra de bebidas alcoólicas para não-alcoólicas que também são oferecidas por essas empresas", pondera Zveibel.


Quem também está de olho nessa mudança são as grandes redes varejistas. O Grupo Pão de Açúcar, por exemplo, decidiu reposicionar as gôndolas e elevar a quantidade de todas as cervejas sem álcool ofertadas.


"A importância desse produto passou para outro patamar. Era um produto de nicho que, com a nova lei, passou a ser prioritário nas estratégias de venda", diz o gerente comercial da rede, Fábio Rodrigues.


Segundo ele, a queda no preço da cerveja sem álcool é uma conseqüência da mudança de escala. "Era um produto em média 50% mais caro que as similares do tipo pilsen. Hoje, essa diferença caiu para 25%."


Veículo: Folha de S.Paulo


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