Proposta quer tabelar tarifas de cartões

Leia em 2min 50s

Um projeto de lei sobre o mercado de cartões reacendeu o temor de intervenção do governo no setor. A proposta, de autoria do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) traz medidas que põem em xeque o modelo de funcionamento da indústria desenvolvido por bancos, credenciadoras (como Cielo e Redecard) e bandeiras (Visa e Mastercard).

 

Entre as determinações, está o tabelamento de tarifas cobradas de lojistas em transações eletrônicas, seja no débito ou no crédito, ou em operações de adiantamento de recebíveis do cartão.

 

Embora a visão de analistas e de executivos da indústria ouvidos pelo Valor seja de que o projeto tem pouca chance de vingar num curto ou médio prazo, a proposta toca em temas que têm causado polêmica mundialmente. Na terça-feira, a Visa Europa propôs cortar algumas das taxas que cobra pelo uso de seus cartões, num movimento que pode resolver uma longa investigação antitruste dos reguladores da União Europeia.


"As conversas com lojistas deram origem ao projeto. A indústria de cartões é uma atividade que cresce muito, mas de forma extremamente concentrada", afirma Nunes, que diz ter baseado o projeto em regulações semelhantes na Austrália e EUA. O senador diz não ter consultado instituições financeiras na elaboração da proposta.


Um dos pontos mais polêmicos envolve tabelar a taxa de intercâmbio, que é a parcela da taxa de desconto cobrada do lojista transferida para o banco emissor do cartão. Quem a define é a bandeira. O projeto também limitaria o valor máximo que credenciadores podem cobrar em transações de débito.


"O objetivo [do tabelamento] é limitar a capacidade de os sistemas de cartão de crédito e débito impor preços opacos, ou seja, preços não visíveis aos usuários dos cartões, mas que acabam sendo transferidos aos usuários indiretamente pelos próprios comerciantes", traz o texto do projeto.


Representantes da indústria de cartões discordam que tabelar as tarifas de transações trará benefícios aos lojistas. "É uma medida contrária à economia de mercado. O setor de cartões cresce a taxas médias de 20% ao ano. Não cresceria tanto se não trouxesse benefícios", afirma um executivo de um grande banco. Ele argumenta que, por mais que reclamem das tarifas, a perda dos lojistas era mais significativa com a inadimplência de cheques pré-datados.


Em um relatório produzido após a regulação de tarifas de cartão de débito, o Federal Reserve, banco central americano, conclui que as regras deixaram mais caras transações em pequenos comércios. "Antes da regulamentação, para uma transação no cartão de débito de US$ 5 em uma lanchonete, por exemplo, a MasterCard avaliava uma taxa de cerca de 12 centavos de dólar. Após a regulamentação, (...) a taxa é agora de cerca de 22 centavos sobre cartões emitidos por bancos regulamentados."


"Nós acreditamos que quaisquer mudanças propostas pelo projeto de lei são remotas no curto e médio prazos. Ainda assim, o projeto reforça nossa visão que o risco regulatório na indústria de cartões é alto e não deve ser ignorado", escreveram os analistas do Deutsche Bank, em relatório.


Tanto que a notícia pesou sobre os papéis da credenciadora de cartões Cielo. As ações da companhia caíram 4,41%, maior queda do pregão, ante alta de 0,7% do Ibovespa.


Por Felipe Marques | De São Paulo

 


Fonte: Valor Econômico (20.05.13)

 


Veja também

Quem reduzir consumo de energia terá bônus na conta, diz secretário

Bônus será para quem economizar 10% de energia com relação a 2020   O Brasil passa pel...

Veja mais
Confaz prorroga até 31 de dezembro a isenção de ICMS sobre transporte no enfrentamento à pandemia

Convênios prorrogados também amparam empresas, autorizando que os estados não exijam o imposto por d...

Veja mais
Mapa estabelece critérios de destinação do leite fora dos padrões

PORTARIA Nº 392, DE 9 DE SETEMBRO DE 2021   Estabelece os critérios de destinação do le...

Veja mais
Empresa não deve indenizar por oferecer descontos apenas a novos clientes

Não há vedação legal para que fornecedores de serviços ofereçam descontos apen...

Veja mais
Justiça do Trabalho é incompetente para execução das contribuições sociais destinadas a terceiros

A 9ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região (TRT/RJ), ao julgar um agravo de petiç&...

Veja mais
Corte Especial reafirma possibilidade de uso do agravo de instrumento contra decisão sobre competência

A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) acolheu embargos de divergência e reafirmou o entend...

Veja mais
Partidos questionam MP sobre remoção de conteúdo das redes sociais

Seis legendas buscam no STF a suspensão dos efeitos da norma assinada pelo chefe do Executivo federal.   O...

Veja mais
Consumo das famílias cresce 4,84% em julho, diz ABRAS

Cebola, batata e arroz foram os produtos com maiores quedas no período   O consumo das famílias bra...

Veja mais
Lei que prorroga tributos municipais na epidemia é constitucional, diz TJ-SP

Inexiste reserva de iniciativa de projetos de lei versando sobre matéria tributária, a teor do dispos...

Veja mais