Será que precisamos engolir o sapo do protecionismo?

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O pedido de salvaguarda contém um "programa de ajuste" proposto pelos peticionários que otimizaria o mercado de vinhos brasileiros. A questão fundamental é: então, precisamos de salvaguarda?


Tomemos dois modelos exemplares. O mercado norte-americano, nos anos 90, deparou-se com uma indústria vitivinícola bem estabelecida, mas com dificuldades de exportar. Criou-se o projeto Wine Vision, para melhorar a imagem do produto, torná-lo parte da cultura americana e posicioná-lo em mercados-alvo globais.


Em nenhum momento o vinho importado foi objeto de ataque, e os EUA continuam como um dos mais importantes mercados importadores.


Na Austrália, quando o vinho tomou força e o governo quis aumentar impostos, produtores apresentaram um plano chamado Strategy 2025 para fortalecer o mercado interno e as exportações, mas sem necessidade de mais impostos. E conseguiram.


O "programa de reajuste" e sua implementação efetiva não seriam suficientes para tornar o mercado brasileiro mais competitivo, sem necessidade da salvaguarda?


O argumento de que países da Europa despejaram seus vinhos no Brasil a baixos preços por causa da crise não é forte. Esse aumento evidencia o potencial de consumo no Brasil, de uma classe média sedenta por variedade. De brasileiros ou importados.


Em 2011, o consumo do vinho brasileiro cresceu 7% em relação ao ano anterior. Por que o medo da concorrência? Busquemos medidas para diminuir impostos. Por que não incluir os pequenos produtores no Simples ou derrubar o selo fiscal que onera a todos? Protecionismo não é uma fórmula saudável.


O consumidor escolhe um francês, um argentino ou um brasileiro porque quer beber histórias e culturas que tão bem se expressam na taça.


Limitar isso é vedar o acesso à cultura de troca universal que o vinho proporciona. É emburrecer o consumidor. É obrigá-lo a consumir um produto local que, mesmo que seja apreciado, não foi o escolhido naquele momento.


Independentemente das medidas dos países exportadores, os peticionários devem temer a repulsa e o boicote do consumidor brasileiro que, timidamente, começava a ter orgulho de seu vinho. Ele não vai engolir esse sapo.



ALEXANDRA CORVO

COLUNISTA DA FOLHA


Fonte: Folha.com.br (28.03.12)


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