Crise econômica faz indenização de seguros para inadimplência disparar

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Empresas estão endividadas e com dificuldade de gerar caixa, o que pressiona os calotes junto a fornecedores; percepção de riscos das firmas, contudo, está aumentando a contração da apólice


São Paulo - O volume de indenizações pagas pelas seguradoras de crédito a empresas que tomaram calotes em vendas de produtos a prazo disparou nos primeiros meses de 2015 em relação ao início de 2014

Segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep), enquanto foram pagos R$ 22,9 milhões em sinistros entre janeiro e maio de 2014, no mesmo período deste ano foram desembolsados R$ 122,5 milhões, um avanço de quase cinco vezes.

 

Impulsionadas pela crise econômica vivida pelo País, as transações no mercado doméstico foram as principais responsáveis pela alta das indenizações - foram R$ 114,4 milhões em sinistros de operações internas em 2015, contra R$ 15 milhões em 2014. Os sinistros nas exportações, por sua vez, saltaram de R$ 2,3 milhões R$ 3,6 milhões. no período

"Muitos dos devedores de nossos clientes têm sofrido com a pressão econômica, com a queda das vendas e a restrição de crédito junto aos bancos", observou Kiyoshi Watari, líder das práticas de risco político e crédito da corretora Marsh Brasil.

 

"Aumentou muito também o volume de companhias que entraram em recuperação judicial", completou.

O seguro de crédito pode ser acionado quando uma empresa credora leva calote em operação comercial ou quando a companhia devedora entra em concordata - nesse caso, a seguradora paga o valor da dívida e entra como parte interessada no processo na Justiça.

De acordo com Marcele Lemos, presidente da seguradora Coface, em 2014, uma empresa entrava em recuperação judicial a cada três meses, hoje são sete por mês.

 

Ela explicou que a baixa atividade econômica está prejudicando a geração de caixa de muitas empresas alavancadas, o que está pressionando a inadimplência. "O endividamento de muitas empresas é de curto prazo, que é um dinheiro mais caro, pois tem juros maiores", observou a presidente.

Os especialistas afirmaram que, embora a crise esteja afetando todos os setores da economia, as empresas mais prejudicadas são aquelas ligadas, de alguma forma, à construção civil ou a Petrobras e sua cadeia de fornecedores.

 

No caso da construção civil, Watari disse as companhias mais prejudicadas são as que fornecem materiais para construtoras, que amargam queda de venda de imóveis - dados do Secovi-SP, o sindicato do mercado imobiliário, apontam que o número de imóveis novos encalhados subiu 18,54% entre dezembro de 2013 e março, para 43.768 unidades.

"Quanto maior a dependência da empresa do setor de construção civil, maior a dificuldade enfrentada", analisou Watari, da Marsh.

 

A cadeia produtiva envolvendo a Petrobras também afeta companhias de vários ramos. "Uma empresa criada exclusivamente para consertar sondas da Petrobras e que tem 300 funcionários, por exemplo, contrata uma empresa de vale refeição. Se a Petrobras deixa de pagar essa empresa, ela também deixa de pagar a empresa de cartão alimentação", exemplificou a presidente.

 

Percepção de riscos

 

De acordo com os especialistas, com o cenário econômico, a percepção de riscos das empresas está aumentando, o que faz com que não apenas os sinistros sejam impulsionados, mas também os prêmios.

As cotações junto às corretoras e seguradoras aumentaram até 45% neste ano, segundo eles. "Muitos clientes que já cotaram em ano anteriores, e acabaram não fechando por conta de preços, este ano estão mais inclinados a considerar o seguro", contou Watari.

 

O crescimento da sinistralidade, no entanto, está pressionando os preços das apólices, que vinham em trajetória de queda de anos anteriores, por conta do aumento da concorrência das seguradoras de crédito. "As seguradoras estão aproveitando o momento para recompor os prêmios. Os aumentos variam entre 10% e 30%", disse Watari.

Marcele disse que, com a crise, há uma janela de oportunidade para crescer no Brasil. "Atualmente, cerca de 60% dos nossos clientes são empresas multinacionais, que têm filiais aqui no Brasil", disse. "O seguro ainda é pouco conhecido aqui e, normalmente, é contrato pelas matrizes europeias ou americanas, que já conhecem melhor", completou.

 

De acordo com dados do setor de seguro de crédito levantados pela Marsh, o mercado brasileiro possui de 700 a 800 apólice emitidas, número considerado baixo pela corretora, comparado ao número de potenciais clientes. Atualmente existem 9 seguradoras com autorização da Susep para operar a modalidade.

 

Taxa de sinistralidade

 

A taxa de sinistralidade - que mede a relação de sinistros (indenizações) com os prêmios (receita) -, por sua vez, mostra que os custos das seguradoras está avançando em ritmo maior que a receita. O índice saltou de 28% entre janeiro e abril de 2014, para 84% no mesmo período deste ano, segundo a Susep.

 

Pedro Garcia

 

 

Fonte: DCI (15.07.2015)


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