Para dar conta da demanda reprimida de um mercado promissor, rede francesa foca em estratégia com expertise regionalizada
Para comprar os suprimentos semanais, Joana Bimpong passa quatro horas perambulando entre as bancas do agitado (e informal) mercado central de Acra. Esse é o sonho que, pelo menos por enquanto, está ao alcance dos ga- neses que querem fazer as com- pras em um só lugar. “Mas eu adoraria fazer tudo em um loja de supermercado”, diz Joana, de 40 anos, enquanto ajeita o bebê carregado nas costas para conse- guir equilibra dois sacos enor- mes e pesados em seus braços.
A demanda reprimida de africanos como Joana atraiu o Carrefour a entrar em uma região com um bilhão de pessoas e que deverá crescer em um ritmo três vezes mais intenso que os Estados Unidos no próximo ano. A rede francesa de varejo, que passou boa parte dos últimos anos fechando operações em mercados que não conseguiu dominar, estabeleceu uma parceria para abrir lojas em oito países africanos até 2015.
Após o boom de crescimento seguido de eventuais fracassos — no mais recente episódio, a empresa teve que pagar 220 milhões para deixar a Grécia no ano passado —, o Chefe Executivo Georges Plassat decidiu por um caminho aparentemente mais seguro. E para a África, através da parceria com a CFAO, a maior distribuidora de carros, caminhões e produtos farmacêuticos do continente. Através do feedback logístico local, que deverá ajudar a superar o tradicional gargalo na infraestrutura do continente além da África do Sul, os franceses esperam superar as tentativas de bloqueio que devem vir do Wal-Mart.
“O Carrefour está levando van- tagemao aproveitar um movimento crescente na África das pessoas que querem fazer as compras semanais em um loja capaz de ofere- cer produtos frescos mantidos por equipamentos modernos”, explica Michael Dennis, analista de mercado da consultoria Cantor Fitzgerald. “Você precisa configurar bons canais de distribuição e conectar companhias locais em sintonia com o governo para superar as barreiras de um continente extremamente difícil”. Nesse contexto, a Massmart, unidade sul-africana do Wal-Mart, tratou de anunciar que estabeleceu “vários parceiros importantes” no varejo do Quênia em sua estratégica de expansão para outros mercados.
Com o Carrefour, a CFAO terá 55% do empreendimento. A meta é gerar 1 bilhão em receitas por ano, em um ciclo previsto para os próximos 10 anos quando as lojas estiverem prontas.
Estabelecer uma rede de sucesso na África ajudaria Georges Plassat a recuperar uma empresa que vale menos de um terço em relação a seu valor no fim do último século, quando os supermercados apresentaram um promissor crescimento, que motivou uma corrida da Polônia até Cingapura. Desde que Plassat chegou ao Carrefour no ano passado, as ações da empresa subiram 70% motivadas pelas saídas de mercados pouco rentáveis para a empresa, casos de Colômbia e Grécia, além de um reposicionamento na própria França, onde a companhia regis- tra metade das vendas que já teve.
“O Carrefour não pode pagar o preço de ser ambicioso na expansão na África. Por isso, pode sair ganhando justamente por uma aposta de baixo risco”, avalia Gildas Aitamer, analista da consultoria Planet Retail. Com 126 anos de estrada, a CFAO, pretende iniciar as operações pela Costa do Marfim, seguindo para Nigéria, Gana, Camarões, Congo, Gabão e Senegal.
Veículo: Brasil Econômico
