O cerco às sacolinhas de plástico

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A relação custo/benefício das sacolinhas de plástico não existe em nenhum outro tipo de embalagem

Tão populares quanto nocivas ao meio ambiente, as sacolinhas de plástico podem estar entrando em contagem regressiva como uma das embalagens mais utilizadas no varejo brasileiro. Não que possam ser totalmente banidas, mas pelo menos ser utilizadas e manipuladas de maneira mais responsável e controlada.

 

Calcula-se que 14 bilhões delas circulem, anualmente, por todo o país, representando uma ameaça que ganha a atenção de um número cada vez maior de pessoas, até mesmo por aquelas diretamente envolvidas com sua produção. Por não ser biodegradável, esse produto resiste por até quatro séculos na natureza, onde um de seus malefícios mais visíveis é a impermeabilização do solo, impossibilitando sua drenagem e tornando-o infértil.

 

“São necessários apenas 4 gramas de plástico para a fabricação de uma sacola que atenda às normas de qualidade. E o custo desse processo é o mais viável economicamente quando comparado a qualquer outro”, explica Miguel Bahiense, diretor do Plastivida — Instituto Socioambiental dos Plásticos. Ao ser reutilizada no âmbito doméstico, tanto como embalagem como para descarte do lixo, revela uma relação custo/benefício não encontrada em nenhum outro tipo de embalagem.

 

Como o atrativo econômico torna-se o principal o fator de sua disseminação pelas mil fábricas que a produzem, a saída proposta por autoridades ambientais aos supermercados—onde são mais utilizadas — é o uso de campanhas educativas que resultem no chamado uso consciente. “Não queremos simplesmente proibir sem explicar por quê”, justifica Orlando Morando, deputado estadual e vice-presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas).

 

É o que pretende fazer a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), que vai criar um manual de boas práticas para conscientizar funcionários e consumidores. É o primeiro passo para cumprir a meta de reduzir o consumo dos atuais 14 bilhões de sacolinhas para cerca de 10 bilhões em 2015. ■

 


Na capital paulista, este pode ter sido o último Natal dos sacos grátis nos supermercados

 

Nas compras de final de ano, elas estiveram presentes em abundância — quem sabe pela última vez. Numa época em que o consumo consciente e a preocupação sobre o que fazer com o excesso de lixo deram origem a muita discussão, as sacolas plásticas passaramde símbolo da prosperidade a vilãs do meio ambiente.

 

Em algumas cidades, como São Paulo, correm o risco de serem escorraçadas. Em novembro, a Câmara Municipal adiou para o próximo ano a votação do projeto de lei que proíbe a sua distribuição no comércio. No Rio, a lei das sacolas plásticas (5.502/2009), em vigor, determina que os estabelecimentos comerciais devem oferecer ao consumidor sacolas retornáveis.

 

Agora, a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) firmou pacto setorial como Ministério do Meio Ambiente (MMA) para reduzir em 30% as sacolas plásticas nas lojas de todo o país até 2013 e 40% até 2014, tendo como base os números de produção de 2010, estimados em algo como 14 bilhões. “A meta é nacional, assumida pelo conjunto dos varejistas”, diz Samyra Crespo, secretária de Articulação Institucional e Cidadania do ministério. Ela explica que o objetivo não é simplesmente proibir as sacolas, mas diminuir o seu uso mediante a conscientização do consumidor e sem onerá-lo. “A ideia é que a comunidade se organize sem a obrigatoriedade de uma legislação”, diz Fernanda Daltro, responsável pela campanha Saco é um Saco, também do ministério, citando algumas cidades que tomaram a dianteira e fazem isso, como Jundiaí e Sorocaba, em São Paulo.

 

Aprovação

 

Pesquisa realizada pelo próprio ministério aponta que 60% dos brasileiros aprovariam uma lei que proibisse a distribuição gratuita das sacolinhas, 69% adotariam outro tipo de saco ou sacola para carregar suas compras e 47% voltariam a usar latas, lixeiras e latões para acondicionar seu lixo. Mas, considerando a realidade, uma porcentagem bem menor de pessoas mudou seu comportamento no dia a dia. A maioria ainda não incorporou a cultura da sacola retornável.

 

O vice-presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas), deputado estadual Orlando Morando, autor de umprojeto de lei nesse sentido que corre na Assembleia Legislativa de São Paulo, compara a discussão do uso das sacolas plásticas à proibição do fumo. “Não se muda a cultura do consumo descontrolado das sacolinhas sem o apoio do governo”, diz. “Antes de proibir o fumo em locais públicos, foi preciso mostrar os malefícios do cigarro à saúde.” Damesma forma, afirma, “nós defendemos o uso responsável das embalagens, entendemos que o plástico é nocivo ao meio ambiente, mas não queremos simplesmente proibir sem explicar porquê”.

 

Morando aborda uma outra questão que envolve as sacolinhas, o pagamento. Segundo ele, o valor das sacolas chega a 0,5% do faturamento bruto do estabelecimento e está embutido no valor da mercadoria. “Quem paga é o consumidor”, afirma. “Consequentemente, havendo a redução ou o chamado uso responsável, haverá redução também no preço dos produtos, uma vez que o estabelecimento será desonerado de uma despesa.”

 

Grandes redes de supermercados que aderiram a campanha de uso responsável das sacolas oferecem alternativas retornáveis que passaram a ser vendidas. No Rio de Janeiro, a lei obriga a oferecer gratuitamente para o consumidor sacolas retornáveis ou desconto de R$ 0,03 para cada cinco itens ao cliente que não utilizar as sacolas plásticas; ou postos de coleta para que os consumidores possam devolver 50 unidades desses sacos plásticos e receber um quilo de arroz ou feijão.

 

Para cumprir a meta estabelecida no acordo com o Ministério do Meio Ambiente, a Abras pretende criar um manual de ações de boas práticas nos pontos de venda para conscientizar funcionários e consumidores dos benefícios da redução do uso das sacolinhas, produzir uma campanha publicitária aberta à adesão voluntária de todas as redes de varejo e deverá acompanhar mediante pesquisas o sucesso dessa operação. A iniciativa deverá constar do Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis do ministério como pacto setorial para o varejo. ■

 

“O consumo excessivo de sacolas plásticas é que traz problemas ambientais. Ao usar essas embalagens só para lixo de cozinha e de banheiro e acondicionar outros resíduos em caixotes (lixo seco), por exemplo, já é possível reduzir bastante o descarte

 


Veículo: Brasil Econômico


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