Varejo popular se prepara para volta do consumidor da classe C

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Com o poder de compra reduzido com a crise econômica, a classe C teve de se reeducar financeiramente e reduzir gastos. Quem pode se beneficiar dessa mudança é o comércio popular, que começa a se preparar para receber de volta esse novo velho consumidor.

Uma pesquisa recente da Boa Vista Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) revelou que 88% dos consumidores brasileiros tiveram de adotar hábitos de compra diferentes para economizar. Na classe C, que compõe boa parte da população, 65% das famílias assumiram que seu poder de compra foi reduzido neste ano.

Ansiosos pelo retorno de velhos clientes, comerciantes populares em São Paulo e no Rio de Janeiro afirmaram ao DCI que poderão se beneficiar de alguma forma da crise, mas assumem que ainda carecem de infraestrutura para oferecer conforto aos compradores.

No Rio de Janeiro, o Uptown, inaugurado este ano na Barra da Tijuca, bairro nobre da cidade, marcas populares que antes atuavam apenas na zona norte e Baixada Fluminense iniciaram sua operação no empreendimento e já sentem a mudança econômica nos consumidores.

"Se a crise tivesse me abalado eu não teria expandido este ano. Abri uma nova loja na Barra - a outra unidade fica em Vigário Geral - e já estou observando que as clientes daqui que compravam lá estão trazendo novas clientes", comenta a proprietária da Decorando com Arte, loja de artigos artesanais para casa e móveis rústicos, que atua no Uptown, Cláudia Abreu.

A estimativa é que no Natal as vendas cresçam 30% nas duas lojas em relação a dezembro de 2014, segundo a empresária.

A mudança também é observada pelos lojistas que formam o Feirão Moda Rio. Com o aumento do movimento de clientes provenientes da região da Barra e Jacarepaguá, o Feirão investiu R$ 12 milhões em uma área de 6 mil metros quadrados, na Barra da Tijuca. Serão construídas cerca de 40 lojas e 80 boxes com 850 vagas de emprego, o que representa um efeito contrário ao que está acontecendo nos shoppings convencionais. "Nosso mercado está crescendo. Reunimos no Feirão Moda Barra confecções de roupas feminina, masculina, infantil, lingerie e plus size que concorrem facilmente com lojas de departamentos nacionais e estrangeiras", afirma o dono do Feirão, José Eloy. A estimativa do empresário é que as vendas aumentem em 20% com a abertura do novo ponto na Barra.

Para Celso Cordeiro, proprietário da atacadista Primu's Rio, a crise não afetou o comércio popular. A marca, que tem lojas em Vigário Geral, Rio das Ostras (RJ) e Cabo Frio (RJ), também inaugurou uma unidade no Uptown para angariar os consumidores de maior poder aquisitivo. "A nossa ida para lá (Uptown) tem como objetivo fidelizar e conquistar novos públicos e ampliar o nosso faturamento em 20%, com um tíquete médio entre R$ 50 e R$ 80", afirma Cordeiro.

A aposta no "Natal popular" se reflete também na contratação de funcionários temporários. A nova loja vai contratar 50 profissionais nessa modalidade para a temporada de final de ano.

Em São Paulo, a Associação de Lojistas do Brás (Alobrás), que reúne cerca de cinco mil comerciantes da região central da capital paulista, espera que a crise possa ajudar a elevar as vendas em 5% no ano que vem.

A esperança de melhora também é, em parte, depositada pelos empresários que atuam no local devido ao anúncio de que até 2018 seja construído um novo centro de compras na região.

Apoio do BNDES

De acordo com o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), autor do projeto de remodelação do local, o objetivo com o novo empreendimento é retirar os ambulantes da informalidade e oferecer um serviço de qualidade ao consumidor que frequenta as regiões que abrangem o Circuito das Compras. Entre elas estão o Brás, a Vinte e Cinco de Março, Bom Retiro, Santa Ifigênia e Sé. O shopping, segundo o projeto, ficará onde hoje acontece a Feira da Madrugada e terá no mínimo 4 mil boxes com 5 metros quadrados cada, ar condicionado, serviço de informação ao turista, praça de alimentação, áreas para depósito e armazenagem, 63 salas comerciais e 12 salas de reunião, hotel com pelo menos 148 quartos, serviço de despacho e recebimento de compras, guarda-volumes, áreas de conveniência e estacionamento para 2 mil veículos.

"Há uma previsão de que 15 mil empregos sejam gerados no centro de compras", diz o gerente de Estruturação de Projetos do BNDES, Bruno Malburg.

O custo estimado da obra foi orçado em R$ 300 milhões.

O consórcio formado pelo ex-camelô mineiro Elias Tergilene, do Grupo UAI, venceu a licitação da Prefeitura de São Paulo para implantação, operação, manutenção e exploração do espaço por 35 anos.

"O empreendimento vai contribuir para tornar a região mais forte competitivamente, além de valorizar bairros do entorno", afirmou o comerciante e conselheiro executivo da Alobrás, Jean Makdissi Jr.

Para ele, o centro de compras a ser erguido às margens da Avenida do Estado vai ajudar o comércio da região a enfrentar a concorrência com shoppings tradicionais, ainda mais em um período econômico mais difícil, quando o consumidor opta por produtos mais baratos.

 



Veículo: Jornal DCI


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