O Brasil e a freada chinesa

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O governo brasileiro tem motivos especiais para se preocupar com o menor crescimento chinês. Há preocupações em todo o mundo, porque a China, segunda maior potência econômica, gigantesca na exportação e na importação, tem sido uma das locomotivas da economia global. Mas o interesse brasileiro em relação ao ritmo da expansão chinesa é muito particular. Mesmo com redução do valor importado, o mercado chinês ainda é a principal fonte da receita comercial do Brasil: US$ 28,90 bilhões entre janeiro e setembro deste ano, 20% dos US$ 144,49 bilhões faturados com as vendas ao exterior no período. A excessiva dependência desse mercado, a natureza do comércio bilateral e a escassa participação brasileira em acordos internacionais são tópicos importantes dessa história.

O valor das vendas à China, de janeiro a setembro, foi 16,1% menor que o de um ano antes. As exportações brasileiras para todo o mundo têm ido mal, há mais de um ano, e nesses nove meses ficaram 16,3% abaixo do valor de igual período de 2014.

As duas variações, -16,1% e -16,3%, são muito parecidas. Por que dar importância especial à redução do valor vendido ao mercado chinês? Um pouco mais de atenção à composição dos números tornará mais claro o problema.

Neste ano, até setembro, as exportações de produtos básicos ficaram em US$ 67,54 bilhões, 21,9% abaixo do valor de um ano antes. No caso dos industrializados a redução foi muito menor, de 10%. A variação foi assim distribuída: queda de 7,9% no faturamento obtido com semimanufaturados e de 10,7% na receita contabilizada com manufaturados.

O Brasil vende à China principalmente produtos básicos. A receita proporcionada pela exportação de matérias-primas, nesses nove meses, correspondeu a 82,8% do valor vendido ao mercado chinês. Os básicos destinados ao mercado chinês equivaleram a 16,56% do total das exportações brasileiras. É uma enorme dependência de um único mercado e, mais que isso, de exportações de matérias-primas a um país. No mesmo período, a receita conseguida com as vendas a países compradores de maiores volumes de produtos industrializados caiu bem menos - com exceção dos embarques destinados a mercados da Europa, ainda com baixo ritmo de expansão.

Até setembro, o País enviou aos Estados Unidos produtos no valor de US$ 18,32 bilhões, com redução de 8,7% em relação ao faturamento de um ano antes. Mais de metade do faturamento - US$ 10,36 bilhões, ou 56,87% - veio dos manufaturados. Os semimanufaturados renderam US$ 3,26 bilhões, ou 17,88% do total. A receita das exportações industriais correspondeu, portanto, a 74,75%, três quartos, praticamente, do total conseguido com as vendas ao mercado americano.

Os produtores de bens industriais são normalmente menos afetados pela desaceleração mundial - hoje, especialmente da China - do que os exportadores de primários. Isso ocorre apesar do baixo poder de competição da maior parte da indústria, menor que o da agropecuária. Os preços dos primários são em geral mais prejudicados quando pioram as condições internacionais.

Não há nada errado em exportar produtos primários, especialmente quando o país é competitivo nessa classe de produtos, como o Brasil. Mas o País poderia exportar um volume bem maior de bens industrializados e, além disso, ser muito menos dependente do mercado chinês. Mas para isso seria preciso mudar a política econômica e a diplomacia comercial. Seria preciso criar melhores condições de competitividade e cuidar do acesso a mais mercados. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, disse estar correndo atrás do tempo perdido nessa política e buscando novos acordos comerciais. A troca de ofertas entre Mercosul e União Europeia deve ocorrer até o fim de novembro, segundo ele. Mas isso dependerá, seria bom acrescentar, da disposição do governo argentino, um dos entraves principais à maior inserção do bloco no mercado global.

 



Veículo: Jornal O Estado de S. Paulo


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