Fusão pode sair em sessão de amanhã, prevendo suspensão da marca Perdigão
O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e a Brasil Foods (BRF) estão muito perto de fechar um acordo que vai permitir aprovar a fusão entre Sadia e Perdigão. O esboço do acordo começou a ser escrito ontem, segundo fontes envolvidas na negociação, e a apreciação pelo órgão antitruste se dará na sessão de amanhã.
Conforme antecipou o Estado no sábado, a proposta prevê a suspensão temporária da marca Perdigão nas categorias em que existe maior concentração de mercado, além de um pacote de venda de ativos que inclui marcas populares, fábricas e centros de distribuição.
A BRF deve vender ativos equivalentes a 20% da produção total. Se consideradas só as unidades que atendem o mercado interno, o porcentual sobe para cerca de 40%. A marca Sadia não deve sofrer restrições.
Apesar de o acerto entre as partes ser um fato praticamente consumado, ainda não há 100% de certeza de um entendimento . Verbalmente, Cade e BRF já chegaram a um consenso. A questão agora é a redação do documento. "Uma coisa é fechar um acordo com base em algumas premissas. A outra é colocar os pontos no papel", disse uma fonte.
Até ontem ainda estavam em negociação pontos importantes como o prazo de suspensão da marca e o número de categorias afetadas, além do mecanismo que o Cade vai adotar para impedir que a BRF lance uma marca que ocupe o lugar da Perdigão, mantendo sua fatia de mercado.
O processo de negociação registrou momentos tensos e quase acabou em impasse na semana passada. Superada essa fase, o Cade está participando da elaboração da proposta de acordo, que é escrita pela BRF. Estão engajados nesse processo o conselheiro Ricardo Ruiz, que pediu vistas dos autos e esteve à frente das discussões, e o procurador da autarquia, Gilvandro Araújo.
Ontem pela manhã, representantes da empresa estiveram mais uma vez na sede do conselho, em Brasília. É provável que eles voltem ao Cade hoje para ajustes finais. As reuniões têm sido "ininterruptas", como salientou um integrante do órgão.
As ações da Brasil Foods subiram 1,1% ontem na expectativa de um acordo, em meio a uma queda de 2,1% do Ibovespa. Segundo um analista que preferiu não se identificar, a suspensão da marca Perdigão está sendo bem vista pelo mercado, porque "é melhor ninguém ter (a marca) do que estar nas mãos do seu inimigo".
Ação orquestrada. O acordo pode soar como um recuo na posição do Cade, mas a avaliação do órgão é que a empresa "até se dispôs a ceder mais do que falava no início das conversas". Parte dessa reação da companhia teria sido em função de uma ação orquestrada do Cade.
O primeiro passo foi o voto do relator Carlos Ragazzo, que afirmou que o negócio era inviável e rebateu todos os pontos da primeira proposta da BRF. Na sequência, Ruiz pediu vistas, adiantando que poderia acompanhar o voto do colega. Nesse cenário, a empresa se prontificou a negociar e o julgamento foi adiado por duas sessões.
A expectativa é que Ruiz vote amanhã relevando pelo menos o resumo do acordo. É sobre essa proposta que os conselheiros passarão a emitir suas opiniões. Como se trata de um proposta costurada com a empresa, dificilmente as sugestões serão recusadas pelos demais conselheiros. Ragazzo, o único a ter votado até o momento, pode ratificar o acordo ou manter sua posição.
Hoje, os conselheiros se reúnem em seminário interno para discutir os principais pontos do julgamento de amanhã. Além de BRF, o Cade deve apreciar a compra da Sendas pelo Grupo Pão de Açúcar e o cumprimento de sua determinação para que a Shell venda os ativos da Jacta, braço da Cosan que atua na área de combustíveis de aviação.
Veículo: O Estado de S.Paulo