Queda de 4,4% da produção industrial confirma recessão

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A produção industrial nacional caiu 4,4% no primeiro trimestre, na comparação com igual período de 2008, por causa da queda de 26% nas exportações da indústria de transformação. Os setores de veículos, madeira, petróleo e couro e calçados são os mais prejudicados pela retração das vendas externas. Os dados são do estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Radar: Produção, Tecnologia e Comércio Exterior, divulgado ontem.

 

Os técnicos do Ipea prevêem que a redução do PIB da indústria deve levar a uma retração do PIB do país neste primeiro trimestre. Por isso, o Ipea já confirma uma recessão "técnica" do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, mesmo sem precisar de quanto seria a queda, já que também houve redução do PIB no último trimestre do ano passado. O resultado é reflexo dos efeitos da crise econômica mundial que derrubou a demanda externa e, consequentemente, as exportações brasileiras.

 

O recuo dos embarques da indústria de transformação superou a média das exportações totais que caíram 19% no trimestre. Se o atual cenário se mantiver ao longo deste ano, o IPEA calcula que as exportações poderão encerrar o ano com redução de 26%, em média, o que geraria impacto na produção industrial de até 4,5%.

 

A perda da produção industrial poderá ser menor este ano se for confirmada a previsão do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) de redução das vendas externas de 20% para US$ 160 bilhões este ano, ao invés dos 26% previstos pelo instituto, estimou a coordenadora de Política Industrial do instituto, Fernanda De Negri.

 

O instituto trabalha com perspectiva de crescimento para o PIB em 2009. O diretor de Estudos Setoriais do Ipea, Márcio Wohlers de Almeida, assegura que a economia nacional terá crescimento entre zero e 1%, apesar de o Fundo Monetário Internacional (FMI) prever queda de 1,3% para o PIB do Brasil. As expectativas do instituto, ligado ao Ministério do Planejamento, são menos otimistas do que a do governo que mantém a previsão de aumento de 2%. Na opinião de Almeida, a previsão do FMI é muito pessimista porque as estimativas do organismo "são muito voláteis" e são alteradas a cada semana.

 

Almeida afirmou que a economia brasileira começa a mostrar sinais de reaquecimento por causa das medidas anticíclicas adotadas pelo governo. Almeida acrescentou que os dados previstos para a economia brasileira "não são tão alarmante" se comparados com as previsões para o Japão e Coréia, que devem reduzir o PIB em 6% e 4%, respectivamente.

 

A assessora econômica do Mdic, Joana Mostafa, acredita que o mercado interno poderá absorver a oferta de produtos que seria destinada este ano ao mercado externo. E assim, evitar uma queda de 4,5% da produção industrial este ano. Joana disse também que o País está mais "armado" para o enfrentar a crise do que os parceiros da América Latina, graças aos investimentos previstos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e dos empréstimos concedidos ao setor produtivo pelo Banco Nacional de Desenvolvimento e Social (BNDES).

 

Já o economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato da Fonseca, avaliou que a falta de crédito é um dos principais problemas enfrentados pelo setor exportador, principalmente para as médias e pequenas empresas. Ele lembrou que a crise começou a interferir nos resultados das grandes empresas diante da falta de crédito internacional e pela falta de confiança nos mercados. "Depois que a crise começou a prejudicar as empresas de menor porte", disse o economista.

 

No boletim, os técnicos do Ipea sublinham que a redução das vendas externas tem tido impactos significativos na produção doméstica, que se agrava com a restrição ao crédito ao setor produtivo. "Mesmo com a desvalorização do real, as expectativas para 2009 não são boas", descrevem. Os técnicos do Ipea sugerem ao governo a manutenção da política de incentivos econômicos para aquecer o mercado interno. Pois a redução da taxa Selic provavelmente surtirá efeito nos investimentos apenas em 2010.

 

Dentre os 22 setores analisados entre janeiro e março, os mais prejudicados são os que possuem forte correlação com o comércio exterior. O primeiro da lista é o de veículos para o qual o estudo do Ipea mostra queda de 51% nas exportações no primeiro trimestre e recuo de 7,7% sobre igual trimestre do ano passado. Logo em seguida vem o de madeira, que apresenta retração de 48% nas exportações entre janeiro e março e recuo de 16,6% na produção industrial do setor, na comparação com o primeiro trimestre de 2008. O segmento de petróleo e combustíveis ocupa o terceiro lugar da lista ao registrar perda de 41% nos embarques externos e de decréscimo de 9,9% na produção. Depois vem couro e calçados com declínio de 40% nas vendas externas e de 14,3% na produção.

 


Veículo: Gazeta Mercantil


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