São Paulo - As categorias de trabalho por conta própria e sem carteira assinada puxaram a recuperação do emprego nos últimos meses, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) mensal.
Divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o levantamento mostrou que o número de funcionários sem carteira assinada chegou a 10,910 milhões no terceiro trimestre deste ano, um acréscimo de 288 mil pessoas na comparação com os três meses anteriores. Já a quantidade de trabalhadores por conta própria chegou a 22,911 milhões, com a incorporação de 402 mil pessoas.
Com isso, a taxa de desemprego registrada entre julho e setembro caiu para 12,4%, depois de chegar aos 13% entre abril e junho. Entretanto, a fila da procura de trabalho continuou grande no terceiro trimestre, com 12,961 milhões de pessoas em busca de vagas. No segundo trimestre, 13,486 milhões de pessoas estava desempregadas.
"Temos uma melhora grande no emprego, mas ela é causada por um comportamento pouco favorável, já que vemos a criação de vagas de menor qualidade, muitas delas informais", afirma Cimar Azeredo, coordenador de trabalho e rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Com registro
O trabalho com carteira assinada, por outro lado, seguiu próximo dos níveis mais baixos da série histórica, que teve início em 2012. No terceiro trimestre, 33,3 milhões de pessoas estavam registradas, uma queda de 0,1% no confronto com os três meses anteriores e de 2,4% em relação ao terceiro trimestre de 2016.
O recuo é ainda maior na comparação com os anos que antecederam a crise econômica. Entre julho e setembro de 2014, 36,653 milhões de pessoas estavam registradas, o que indica uma perda superior a 3,3 milhões de postos com carteira nos últimos três anos.
Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), Bruno Ottoni diz que a recuperação do mercado formal deve ficar para 2018. "A atividade econômica está começando a se recuperar e essa retomada acontece lentamente". Segundo ele, o País ainda deve demorar alguns anos para retomar o nível de emprego com carteira visto em 2014. "Isso só deve acontecer na próxima década", indica.
Rendimento por atividade
Na comparação com o segundo trimestre deste ano, as atividades com melhores desempenhos foram: alojamento e alimentação, com a entrada de 175 mil trabalhadores; informação, comunicação e atividades financeiras, com o acréscimo de 241 mil pessoas; e administração pública, com a adição de 249 mil empregos.
Já no confronto com o terceiro trimestre de 2016, alguns grupos tiveram perdas, como agricultura e pecuária (-400 mil pessoas), mas foram vistos avanços em atividades como o comércio (+410 mil pessoas).
Os dados sobre o rendimento médio dos trabalhadores mostraram que os salários no País mudaram pouco no último ano. Entre julho e setembro, os ganhos mensais ficaram em R$ 2.115, pouco acima dos dados vistos entre abril e junho (R$ 2.108) e no terceiro trimestre de 2016 (R$ 2.065).
Reforma a vista
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) também divulgou ontem uma série de análises sobre o mercado de trabalho. Os estudos trouxeram perspectivas sobre a reforma na CLT, que entra em vigor no mês que vem.
Segundo um dos textos, assinado por André Gambier Campos, a Justiça do Trabalho julgou 3,9 milhões de reclamações em 2015, 66,3% do total de ações que estavam pendentes naquele ano. Entre as que foram apreciadas, 38,9% resultaram na conciliação entre empregadores e funcionários, 27,6% tiveram vitória parcial dos empregados e apenas 2,2% foram consideradas totalmente procedentes pelos juízes.
Já o estudo escrito por Sandro Sacchet de Carvalho traz críticas à reforma. Ao abordar a questão do trabalho intermitente, o autor destaca que não foi determinado um tempo mínimo de serviço para aqueles que exerçam essa função. "Pode-se argumentar que a maior parte dos que realizam esse tipo de trabalho hoje operam na informalidade, mas não fica claro qual o efetivo ganho de bem-estar social em se legalizar a precariedade."
Fonte: DCI São Paulo