Deflação abre espaço para ritmo maior de corte da taxa básica de juros

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São Paulo - O indicador oficial da inflação, o IPCA, teve o primeiro resultado negativo desde junho de 2006, o que, segundo especialistas entrevistados pelo DCI, abre espaço para um corte maior dos juros básicos.

 

O presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, já afirmou que o ritmo de 1 ponto percentual de diminuição da taxa Selic é uma opção do Comitê de Política Monetária (Copom) para a próxima reunião, que ocorre no final deste mês.

 

Contudo, entre os especialistas, um corte maior não é descartado. "Se o Copom entender que pode elevar esse ritmo de redução da Selic, ele tem espaço para fazer. Mas não haverá pressão do mercado para que isso aconteça", avalia Juliana Inhasz, professora de economia da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP).

 

O professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP), Joelson Sampaio, endossa a opinião de Juliana. "Há espaço para uma queda maior, mas a expectativa é de que o Copom mantenha o ritmo atual [de cautela], que a Selic diminua para 9,25% ao ano na próxima reunião, de modo a fechar 2017 em 8,5%", aponta.

 

Ambos os especialistas concordam também que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve apresentar ligeiras variações nos próximos meses.

Para eles, é possível que tenha deflação neste mês ou que o indicador fique próximo de zero. Já nos próximos meses, com os reajustes em tarifas, tal como de energia e pedágios, as variações podem ser mais positivas, mesmo assim, próximas à estabilidade.

 

Com o resultado de junho (-0,23%) divulgado na sexta-feira passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IBGE), o IPCA acumula taxa de 3% em 12 meses. No primeiro semestre, atingiu 1,18%. Na avaliação de Juliana, da Fecap, a depender da incerteza na economia devido à crise política, também é possível que o indicador oficial de inflação feche 2017 entre 3% e 3,5%, abaixo do centro da meta para este ano, de 4,5%.

 

O mercado financeiro, conforme o último relatório Focus, divulgado pela autoridade monetária, espera que o IPCA termine este ano em 3,46%. Porém, os analistas revisaram para baixo essa estimativa por cinco semanas seguidas.

 

Resultado de junho

 

"Os dados divulgados mostram claramente o desaquecimento da economia brasileira dos últimos tempos, e é reflexo além da sazonalidade e, principalmente, do grupo de preços das despesas domésticas", ressaltou o economista Pedro Afonso, em nota. "Para o Brasil, embora os dados mostrem que há controle sobre a inflação, devemos esperar ainda um 2017 fraco, tendo uma possível retomada de crescimento mais contundente em 2018 já se aproveitando do ciclo de queda de juros que vem sendo feito desde o fim de 2016", acrescentou o especialista.

 

De acordo com o IBGE, os três grupos de produtos e serviços que, juntos, concentram cerca de 60% das despesas domésticas - alimentação (-0,50%), habitação (-0,77%) e transporte (-0,52%) - foram os que apresentaram as quedas mais intensas em junho e colaboraram para a deflação no índice geral.

 

Por meio de nota, o Itaú Unibanco informou que, para julho, a projeção preliminar para o IPCA aponta variação de 0,18%, o que resultará em novo recuo na taxa em 12 meses, para 2,7%. "A principal contribuição de alta no mês virá da energia elétrica, em razão dos efeitos do acionamento da bandeira amarela e de reajustes em algumas concessionárias", apontam.

 

Por outro lado, os economistas da instituição financeira entendem que grupo transportes deve registrar taxa negativa, pelo quinto mês consecutivo, em razão de nova queda nos preços dos combustíveis.

 

Mais indicadores

 

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que se refere às famílias com rendimento monetário de um a cinco salários mínimos e também é divulgado pelo IBGE, apresentou variação de -0,30% em junho e ficou bem menor do que a taxa de 0,36% de maio.

 

No acumulado de 12 meses, o índice desceu para 2,56%, ficando abaixo dos 3,35% registrados no período imediatamente anterior. Os produtos alimentícios tiveram queda de 0,52% em junho. Em maio, o resultado havia sido de -0,44%. O agrupamento dos não alimentícios ficou com variação de -0,20%, ante 0,73% de maio.

 

 

Fonte: DCI São Paulo

 


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