Ministro defende nova elevação do aperto fiscal

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PAULO DE ARAUJO

 

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, cogitou ontem elevar novamente a meta de superávit primário -economia do governo para o pagamento dos juros da dívida- como medida de combate à inflação. Em junho, o governo já havia anunciado a intenção de criar uma poupança fiscal extra de 0,5% do PIB (Produto Interno Bruto) para capitalizar o fundo soberano. Com isso, a economia feita passará para 4,3%.


"Se for necessário, usaremos a política fiscal. Esse é um instrumento mais eficiente e menos danoso do que o instrumento monetário", afirmou. O ministro ressaltou, porém, que não vê, por enquanto, necessidade para um aperto maior.


No primeiro semestre, a economia do setor público (União, Estados, municípios e estatais) para o pagamento dos juros da dívida chegou a 6,19% do PIB (Produto Interno Bruto).


O discurso de Mantega serve como resposta à crítica de que o combate à inflação parte apenas do Banco Central, com o aumento dos juros, enquanto o governo continua a expandir os gastos públicos, alimentando pressões inflacionárias. O ministro rechaçou a tese de que há em curso um descontrole de gastos por parte do governo. "A participação das despesas no PIB está caindo", disse no seminário "Diálogos Capitais para o Desenvolvimento do Brasil", promovido pela revista "CartaCapital", em São Paulo.


No mesmo evento, os ex-ministros Luiz Carlos Bresser-Pereira e Antonio Delfim Netto criticaram a atuação do BC.


"A autoridade monetária tem usado um expediente que já foi usado várias vezes e que nos fez terminar mal", disse Delfim Netto, referindo-se à política de alta de juros e apreciação cambial no combate à inflação.


"Não acredito que, com essa política, o Brasil esteja em ciclo de crescimento sustentado", disse Bresser-Pereira.

 

Para Meirelles, alta dos juros não surtiu efeito

 

Os aumentos na taxa de juros anunciados pelo Banco Central neste ano ainda não surtiram efeito na inflação, na avaliação do presidente da instituição, Henrique Meirelles.


Apesar de a pesquisa semanal feita pelo BC com analistas de mercado mostrar um pequeno recuo nas projeções do IPCA (índice referência para o governo) de 2008, Meirelles diz que ainda é cedo para creditar isso à elevação dos juros.


"É um pouco prematuro ainda dizer até que ponto existe reflexo da política adotada neste ano."
Para Meirelles, o ambiente é de incertezas e também não é possível considerar que o preço internacional de commodities como alimentos, petróleo e minério chegou a um teto e recuará a partir de agora.


"Achamos um pouco prematuro ainda fazer uma previsão da evolução dos preços das commodities nos próximos meses ou no próximo ano", disse, em oposição a economistas que alegam que o valor desses produtos chegou a um limite.


Em discurso no seminário organizado pelo BC, ontem na sede do banco no Rio de Janeiro, para comemorar os dez anos do regime de metas de inflação no Brasil, Meirelles fez questão de destacar que, nesse sistema, "existem limites no emprego da política monetária".


Para o presidente do Banco Central de Israel, Stanley Fischer, o regime de metas de inflação enfrenta atualmente o seu maior desafio. Convidado especial para o seminário, ele enfatizou a necessidade, no atual cenário, de perseguir com vigor o centro da meta, embora existam margens de tolerância para acomodar choques. No Brasil, a meta para o IPCA (índice de referência para o governo) é de 4,5%, com tolerância de dois pontos percentuais.


"O sistema de metas flexível não é meta. Não se deve alterar a meta", afirmou.
"Os modelos do BC não são confiáveis porque tudo pode mudar a qualquer momento.


Ele [Fischer] pregou que não sejamos tão apegados a esses modelos. Devemos olhar mais no dia-a-dia", comentou Carlos Thadeu Filho, economista-chefe da administradora de recursos SLW. "O que está acontecendo com o preço dos alimentos não é bem captado pelos modelos [dos BCs]. São choques particulares", destacou Frank Smets, representante do Banco Central Europeu.

 

Veículo: Folha de S.Paulo


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