Restrição a linhas de crédito do BNDES persiste, diz CNI

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O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, disse, ontem, que o setor produtivo enfrenta dificuldade em acessar os recursos da linha de capital de giro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Depois de se reunir com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em Brasília, Monteiro Neto atribuiu a demora no ritmo dos empréstimo, em parte, ao sistema financeiro que se tornou mais seletivo nos repasses do banco de fomento em decorrência do agravamento da crise financeira mundial.

 

Ainda assim, o representante da indústria destacou que Mantega adiantou que as vendas e a produção do setor automotivo já mostram reação positiva nos primeiros 11 dias de fevereiro em relação a igual período de janeiro, depois da forte retração em dezembro.

 

Monteiro Neto disse que a demora na liberação dos empréstimos do banco de fomento afeta principalmente as médias e pequenas empresas. "Os agentes estão mais avessos ao risco e mais seletivos. É evidente que essas linhas não estão sendo operacionalizadas na velocidade desejada", prosseguiu. "Quando os empréstimos são feitos diretamente pelo BNDES as operações são mais concentradas com empresas maiores. Aí sim o processo é mais ágil." Para Monteiro Neto, é "preocupante" a retração na liberação de empréstimos pelo sistema financeiro, porque poderia travar o setor produtivo e inviabilizar o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) este ano.

 

Procurado, o BNDES, por meio de sua assessoria de imprensa, disse que não "se pronunciaria" sobre as declarações do presidente da CNI que se referiu ao chamada Programa Especial de Crédito. O PEC é uma linha de crédito de capital de giro no valor de R$ 6 bilhões, lançada no fim do ano passado para socorrer as empresas afetadas pelos impactos da crise financeira internacional. Desde o lançamento da medida, o BNDES já elevou o teto dos empréstimos de R$ 50 milhões para R$ 200 milhões para beneficiar, também, empresas maiores. Foi elevado ainda o prazo de amortização do empréstimo de 24 para 36 meses, com carência 12 meses. Fora isso, o banco de fomento reduziu a taxa de juros de 16,55% ao ano para 14,50% anuais.

 

Ex-presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Roberto Troster, sócio da consultoria Integral Trust, concorda que há represamento de crédito no sistema financeiro. E disse que os bancos estão dando prioridade às grandes empresas. O economista lembrou dos últimos dados revelados pelo Banco Central sobre as operações de crédito que mostram que no último trimestre de 2008 os empréstimos concedidos em até R$ 5 mil cresceram apenas 3,9%. Enquanto isso, os empréstimos acima de R$ 10 milhões subiram 23%. "Isso mostra que o crédito está indo para as grandes empresas", avaliou.

 

Monteiro Neto disse que na conversa com Mantega falaram sobre os setores mais prejudicados pelos impactos da crise financeira mundial. "Diria que os setores mais atingidos são os de complexo mineral-siderúrgico, por causa das exportações, papel e celulose e as indústrias que dependem mais do mercado externo". O dirigente não descarta a possibilidade de o Brasil enfrentar uma recessão este ano. "Nessa avaliação que fizemos (ele e Mantega), também, converge que o ambiente externo não melhorou. A crise lá fora se acentuou. O comércio exterior está muito contraído e há queda das exportações em todos os países", analisou.

 


Veículo: Gazeta Mercantil


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