Mercado interno deve atrair investimento

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Depois de se tornar o quarto emergente que mais recebeu investimentos estrangeiros diretos (IED) em 2007, o Brasil continua neste ano a ser o destino de um volume expressivo de capital externo para atividades produtivas, mantendo perspectivas promissoras para 2009 - mesmo após o agravamento da crise financeira internacional. O país obteve US$ 34,6 bilhões de investimentos diretos no ano passado, galgando quatro posições no ranking dos países em desenvolvimento e oito na lista geral, na qual passou da 22ª para a 14ª colocação, segundo relatório divulgado ontem pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad, na sigla em inglês). Os EUA apareceram na liderança, com US$ 232,8 bilhões, enquanto a China foi o melhor emergente, com US$ 83,5 bilhões.

 

Responsável pela divulgação do estudo no Brasil, a Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização (Sobeet) aposta que o país deve receber entre US$ 35 bilhões e US$ 40 bilhões neste ano e US$ 35 bilhões no ano que vem. As perspectivas positivas para os setores ligados a commodities, o fato de o Brasil ter se tornado grau de investimento, o tamanho e o ritmo do crescimento do mercado interno e as oportunidades em infra-estrutura justificam a previsão, a despeito da desaceleração global e da crise financeira, segundo integrantes da Sobeet. Uma pesquisa da Unctad com 226 grandes empresas transnacionais sobre as intenções de investimento no período de 2008 a 2010 também mostrou um quadro favorável ao Brasil: o país aparece como o quinto destino preferido para as inversões produtivas no período, atrás apenas de China, Índia, Estados Unidos e Rússia. 

 

O presidente da Sobeet, Luís Afonso Lima, acredita que o fato de o Brasil ser um grande produtor de commodities é um trunfo importante para que o país continue a receber volumes expressivos de investimentos diretos. O professor Antônio Corrêa de Lacerda, da PUC-SP, acredita que, mesmo com a crise externa, os preços desses produtos vão se acomodar num nível alto em termos históricos, ainda que devam ficar abaixo dos patamares do primeiro semestre. 

 

Lima também destaca o fato de o país ter se tornado grau de investimento (ou seja, um país cujos títulos são considerados mais seguros) neste ano. Segundo ele, um estudo da Sobeet com nove países emergentes mostra que, nos dois anos anteriores à obtenção da classificação, o volume de investimentos diretos cresceu, em média, 45% em relação aos dois anteriores. Nos dois anos posteriores, o aumento chegou a 174%. Num cenário de turbulência internacional, é provável que o Brasil não repita esse desempenho, mas deve permanecer como um dos destinos privilegiados para as inversões produtivas estrangeiras, diz ele. 

 

O economista ressalta também o forte volume de dinheiro recebido pelo Brasil neste ano: de janeiro a agosto, o fluxo atingiu US$ 24,6 bilhões, e a previsão do Banco Central (BC) é de que em setembro o número fique em US$ 5,8 bilhões. "A nossa previsão feita no ano passado, de um fluxo de US$ 35 bilhões em 2008, pode ser superada", afirma ele, que considera possível um número de até US$ 40 bilhões. Com esse desempenho, o Brasil pode ganhar mais posições no ranking deste ano, uma vez que o fluxo total deve diminuir. 

 

O presidente do conselho da Siemens e da Sobeet, Hermann Wever, também traça um quadro otimista, destacando o forte ritmo de crescimento da demanda doméstica e as oportunidades nos setores ligados a commodities e de infra-estrutura. Esses fatores tornam o país um destino atrativo, ressaltou ele. Lacerda enfatiza que o Brasil mudou de patamar de crescimento a partir de 2004, deixando para trás o período em que a expansão do PIB ficava na casa de 2,5% ao ano. Todos esses fatores, que levaram o fluxo de investimento direto a crescer 83,2% de 2006 para 2007, continuam valendo segundo os analistas, o que justifica a projeção de que o país possa receber US$ 35 bilhões no ano que vem. Bancos e consultorias ouvidos pelo Banco Central (BC) projetam US$ 30,4 bilhões. 

 

Em 2007, o fluxo global de investimentos diretos atingiu o recorde de US$ 1,833 trilhão, 29,9% a mais do que no ano anterior. Para este ano, porém, o quadro já deve ser diferente. Em Genebra, a Unctad estimou que o fluxo deve sofrer uma queda acima de US$ 200 bilhões em comparação ao ano passado, para US$ 1,6 trilhão, por causa da enorme redução de fusões e aquisições nos países industrializados, num cenário de crise financeira internacional. Apesar da queda de mais de 10%, a entidade acha que o IED para países em desenvolvimento continuará "mais ou menos estável", pois o crescimento continuará elevado, apesar de ligeira redução. Para 2009, o secretário-geral da Unctad, Supachai Panitchpakdi, acha que os emergentes serão afetados não por falta de capital, mas pela redução no comércio, no rastro da desaceleração nos países industrializados. 

 

A pesquisa da Unctad com as 226 grandes empresas mostrou uma posição mais cautelosa em relação ao investimento direto entre 2008 e 2010. Apenas 21% das companhias têm planos de fazer grandes aumentos de inversões no período, abaixo dos 32% na enquete de 2007. Das empresas que participaram da pesquisa, 39% disseram que a crescente instabilidade financeira nos EUA já teve um impacto negativo nos seus planos de investimento para 2008 a 2010. A questão é que a enquete foi realizada entre abril e junho, e de lá para cá a crise se agravou muito. (Colaborou Assis Moreira) 

 

Veículo: Valor Econômico


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