Nos últimos três meses, a carne suína deu um refresco para o bolso do consumidor. De janeiro a março os preços de cortes tradicionais, como o lombo, chegaram a recuar em até 12,8% na capital. Sinal do aperto no orçamento, o consumidor tem feito ajustes no seu cardápio e optado por levar para casa produtos mais baratos, forçando a queda de preços.
Levantamento do Mercado Mineiro, aponta que nos últimos três meses o pernil sem osso, barateou em média 10,8%, sendo vendido no varejo a R$ 11,97, preço mais baixo que o filé de peito de frango (R$ 12,40), e menor também que a alcatra (R$ 23,8), por exemplo. A diferença cai ainda mais observando cortes suínos como a copa de lombo, encontrada em média a R$ 10,90 o quilo, preço parecido com o quilo da asinha de frango, que custa em média R$ 10,85.
No varejo, os cortes mais caros de carne têm sofrido alguma pressão de baixa, já que há um aumento da demanda pelos produtos mais baratos. Levantamento da Scot Consultoria mostra que a carne bovina, uma das preferidas do brasileiro, caiu 5,5% no atacado, de janeiro a março. Os cortes traseiros que são os mais caros recuaram 7,6% no período, enquanto os dianteiros, mais baratos, avançaram 1,6%, respondendo à maior procura do consumidor. “Os preços refletem um movimento do mercado em busca dos cortes mais baratos”, avalia Isabella Camargo, analista de mercado da Scot. Segundo a especialista, mesmo com a arroba do boi em alta, o preço está caindo no atacado, o que reflete uma dificuldade de escoamento dos frigoríficos.
Segundo o levantamento do Mercado Mineiro, em Belo Horizonte, a carne bovina recuou até 5,14% no período, como é o caso do quilo de filé mignon, que custava R$ 37,19 em janeiro e caiu agora para R$ 35,28. O quilo do contra-filé, recuou de R$ 26,71 para R$ 26,24, queda de 1,76%. Por outro lado houve aumento de 2,53% no quilo do acém, que custava em média R$ 15,39 subindo para R$ 15,78, respondendo a preferência do consumidor pelos produtos mais em conta.
Vendas aquecidas André da Mata, dono de seis açougues em Belo Horizonte e Betim, diz que na última semana, a venda recorde foi da carne suína que superou a bovina. Segundo ele, a demanda pelos suinos está sendo empurrada pelo encarecimento do boi. Ele comenta ainda que não houve queda no volume de vendas mas o tíquete médio do consumidor foi reduzido em 15% esse ano, isso porque as famílias têm feito ajustes.
Segundo a Associação dos Suinocultores de Minas Gerais (Assemg), enquanto os preços no varejo caíram até 12,8%, na produção o recuo no quilo do animal vivo foi bem maior, atingindo 28,5%. Antônio Ferraz, presidente da Assemg, diz que as vendas do produto começaram a esquentar somente na última semana, quando realmente o consumidor sentiu a queda nos preços, que demorou a chegar na ponta da cadeia. “Até então, o produto continuava caro”, cometa Ferraz. A expectativa da Associação é que a queda de preços esquente a demanda. A meta da suinocultura brasileira é aumentar o consumo do produto que hoje é de 15,5 quilo por habitante para 18 quilos por habitante/ano.
Mudanças no frio
A expectativa dos suinocultores mineiros é que o aquecimento do consumo que começou a dar mostras na última semana, possa reverter o quadro de preços a partir de maio. “Quando a temperatura cai a procura pela carne suína aumenta. Acreditamos que deve haver um crescimento dos preços a partir de maio, quando tradicionalmente o mercado interno fica aquecido aliado as exportações que também estão em alta, motivadas pela valorização do câmbio. Desde o início do ano, estamos trabalhando abaixo do custo, produzimos a R$ 4 para vender por R$ 3,50”, argumenta o executivo.
Já no caso da carne bovina a expectativa é de mais um trimestre de preços estáveis no varejo. “Como está havendo uma dificuldade na oferta de animais, mesmo com os preços em baixa no atacado, para o produtor houve alta de 6% no valor da arroba desde janeiro até agora”, diz Isabella Camargo. Nesse momento de mercado consumidor retraído e pouca oferta de carne bovina, as margens dos frigoríficos estão na ordem de 14,4%, abaixo da média histórica de 20%. “Por enquanto não há espaço para novas altas, mas como o ambiente do país está instável, é difícil fazer previsões de médio prazo.”
Em 2015, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o abate de bovinos caiu 9,6% motivado pela redução do consumo em 23 dos 27 estados brasileiros.
Veículo: Jornal Estado de Minas - MG