Cervejarias contestam uso de garrafa de 1 litro da AmBev

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Empresas devem pedir à SDE que investigue lançamento no Rio Grande do Sul

Para cervejarias, garrafa personalizada da AmBev limita ação de outras marcas, pois vasilhame não pode ser usado por outras empresas

 

Duas semanas após ser condenada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) a pagar multa de R$ 352,6 milhões por prática de concorrência desleal, a AmBev volta a ser acusada por fabricantes de cerveja de inibir a concorrência com o lançamento da garrafa de um litro que leva o seu nome em relevo.

 

Fabricantes de cerveja que concorrem com a AmBev devem pedir à SDE (Secretaria de Direito Econômico) que investigue o uso dessa garrafa, principalmente no Rio Grande do Sul, segundo a Folha apurou.

 

A participação das marcas da AmBev (Skol, Antarctica, Brahma e Bohemia) no mercado gaúcho subiu muito rapidamente em três ou quatro meses com o lançamento da garrafa de um litro -os percentuais não foram revelados. Esse crescimento ocorreu, segundo fabricantes, porque a garrafa de um litro de cerveja chega a custar, em alguns locais, até menos do que a garrafa de 600 ml.

 

O novo vasilhame da AmBev repete, segundo fabricantes, prática já investigada pela SDE no caso da garrafa de 630 ml lançada pela companhia no Rio de Janeiro em março de 2008.

 

Com o nome grafado na garrafa, segundo concorrentes da AmBev, outras indústrias de cerveja ficam impedidas de utilizar o vasilhame, que tradicionalmente tem uso compartilhado pelas cervejarias no país.

 

Com garrafa personalizada, na avaliação de concorrentes, a AmBev, que é líder no mercado de cerveja, com cerca de 70% de participação, limita o uso de embalagens pelos concorrentes e aumenta os custos dos pontos de venda, que têm de separar os vasilhames.

 

Ao julgar investigação feita pela SDE, o Cade determinou que a garrafa personalizada da AmBev de 630 ml só pode ser usada no mercado do Rio de Janeiro com a marca Skol.

 

Com o vasilhame de um litro, a AmBev também limita as vendas de outras marcas de cervejas, segundo fabricantes. Afirmam que há informações de bares e supermercados do Rio Grande do Sul de que a AmBev, em uma ação promocional, nem cobra o vasilhame dos consumidores. Como a AmBev domina o mercado, o que acontece no Rio Grande do Sul é a mudança de hábitos de consumo, o que significa a troca da garrafa de cerveja de 600 ml pela garrafa de um litro, segundo fabricantes.

 

Garrafa livre
Em crítica à AmBev, a Abrabe (Associação Brasileira de Bebidas) publica hoje comunicado ao público para salientar a importância da liberdade de escolha da cerveja nos pontos de venda, situação que ficaria comprometida, diz, quando a garrafa é personalizada, como no caso da AmBev.

 

No texto, a Abrabe afirma que a liberdade de escolha na hora de tomar uma cerveja é garantida pela garrafa retornável, o que faz dela uma garrafa livre, que pode ser utilizada por todos os fabricantes. "A garrafa livre faz com que o bebedor de cerveja não seja refém de uma marca. Afinal, uma coisa é ser fiel a uma marca, e outra é ser prisioneiro", cita o texto.

 

A Abrabe tem à disposição dos fabricantes um projeto de garrafa de um litro para cerveja para ser compartilhado pelas indústrias do setor, inclusive pela AmBev. "A garrafa livre, como o próprio nome traduz, poderá ser utilizada por qualquer empresa da indústria cervejeira, em todo o país, reduzindo as barreiras a novos entrantes e preservando, sobretudo, a liberdade do consumidor", afirma Alexsandra Machado, diretora da Abrabe.

 

Fernando Rodrigues de Bairros, presidente da Afrebras (Associação dos Fabricantes de Refrigerantes do Brasil), que passou a representar oito fabricantes pequenos de cerveja, afirma que o uso de garrafa personalizada exclui outros concorrentes do mercado.

 

"O maior problema da conduta anticoncorrencial praticada pela AmBev é prejudicar o consumidor, uma vez que ele fica refém de uma só marca, sem possibilidades de escolha de outros produtos", afirma.

 

A garrafa de cerveja de um litro da AmBev, segundo ele, provocou uma "guerra de preços, já que, em alguns locais, o vasilhame tem preço menor ou igual ao da garrafa de 600 ml das concorrentes. Sem contar que muitas vezes os pontos de venda acabam aceitando somente garrafas da AmBev".

 

Consumidor é beneficiado, diz empresa

 

A AmBev informa, por meio de sua assessoria de imprensa, que "a estratégia da embalagem de um litro é oferecer ao consumidor uma embalagem diferenciada, com mais produto e por menos preço".

 

Trata-se, na avaliação da AmBev, "de inovação que não pretende substituir nenhuma embalagem existente no mercado, mas acrescentar outras opções de embalagem ao consumidor em nichos específicos. A diferenciação de produtos passa pela valorização e diferenciação de nossas embalagens".

 

Veículo: Folha de S.Paulo


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