Família Schincariol volta ao comando

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A família Schincariol volta ao comando executivo da segunda maior fabricante de cerveja do país, após ter passado a gestão do negócio, há dois anos, ao executivo Fernando Terni. Adriano Schincariol é de novo o CEO do grupo e terá o primo Gilberto Schincariol Jr, na vice-presidência de Operações, o mesmo cargo que ocupava antes da profissionalização da empresa. "O mercado está turbulento, a crise começa a aparecer e queremos estar mais próximos da operação", disse Adriano, ontem ao Valor. 

 

E quando a crise passar? "Não temos data para voltar ao conselho de administração", respondeu Adriano, que ontem, na sede do grupo, em Itu (SP), parecia estar cheio de vontade de voltar a operar um negócio que deve ultrapassar neste ano vendas de R$ 4,5 bilhões, com 10,5 mil empregados distribuídos em 14 fábricas. 

 

Dirigindo uma BMW preta em meio aos galpões da fábrica de Itu, Adriano confirma que era ali mesmo que brincava com os primos "até os 13, 14 anos. Depois vinha também todos os dias, mas para trabalhar". Seus filhos, de quatro e seis anos, já visitam o lugar para irem se acostumando, diz ele, bem-humorado. Para quem imaginava que a contratação de Terni, em 2006, traria uma possível abertura de capital ou venda da empresa, Adriano diz que essas duas possibilidades estão fora de cogitação. "Toda hora tem gente que nos procura. Mas a gente não quer namorar com ninguém". A Schincariol é "uma empresa de controle familiar com gestão profissionalizada". 

 

Seu irmão Alexandre e o primo José Augusto continuam no conselho, presidido por Fernando Mitri, ex-presidente da IBM e membro dos conselhos da Positivo Informática e da Rede Paranaense de Comunicação. Mitri diz que o ideal seria um conselho de cinco pessoas, mas a contratação de mais dois membros não estão nos planos de curto ou médio prazo da Schincariol. 

 

A chegada de Terni, em 2006, ocorreu após um período turbulento na história da Schincariol. Adriano, com menos de 30 anos, assumiu o comando em 2003, após a morte inesperada de seu pai José Nelson. Dois anos depois, a empresa foi acusada de sonegar impostos, com abertura de processos judiciais contra sócios e funcionários. A linha de defesa da Schincariol é simples: as acusações não procedem. "Das 70 pessoas acusadas, 55 já estão fora do processo. Nós confiamos na Justiça e não vemos isso como um problema", diz o CEO do grupo. 

 

Terni, que antes da Schincariol havia trabalhado na fabricante de celulares Nokia, recebeu a reportagem do Valor ao lado de Adriano, José Augusto, Mitri e o diretor de relações institucionais Robin Castello. Parecia cansado e ontem planejava tirar férias ao lado da família. Ouviu elogios de Adriano, que considerou seu trabalho "excelente", e disse que não se arrependia de "absolutamente nada". Estruturar a equipe de gestão, instalar o sistema de software que integrou todas as áreas do grupo e comprar as cervejarias Baden-Baden, Devassa e Nobel foram os pontos altos, segundo Terni. "Estou um pouco triste de não estar com eles no próximo ano, que será um ano difícil". 

 

O lucro neste ano, assim como em 2007, sofrerá impacto das aquisições, da ampliação do sistema SAP e outros gastos. O investimento deve chegar a R$ 1 bilhão neste ano e incluiu assumir uma fatia maior da malha de distribuição. Há dois anos, 25% dessa estrutura estava nas mãos da Schincariol. Essa fatia hoje é de 30%. "Estávamos com problemas em algumas pontas da distribuição e para aumentar a rede própria tivemos que comprar caminhões e contratar motoristas e vendedores", explica Adriano. O lucro líquido em 2007 foi de R$ 114,1 milhões - 25% menor do que o de 2006. 

 

A crise financeira mundial, que secou o crédito para empresas no país, não preocupa Adriano. "Nosso endividamento é inferior a uma geração de caixa anual. Temos apenas a dívida junto ao BNDES, para construir fábricas. Não precisamos de banco para operar". Mas ele está preocupado, sim, com "a ponta do consumo". Se o consumidor começar a reduzir suas compras de cerveja, refrigerante, sucos e água - setores em que a empresa atua -, o cenário ficará mais difícil. Já existe pressão do lado dos custos, em especial das matérias-primas, como lúpulo e malte. Cerca de 70% dos insumos, lembrou Terni, têm seus preços dolarizados. 

 

A empresa mantém a estratégia de fortalecer-se no Norte e Nordeste, onde há duas concorrentes: AmBev, que tem quase 70% do mercado, e a Femsa, com 7,4%. A fatia da Schincariol em outubro é de 12,9%, considerando-se cerveja, água, refrigerante e sucos. As vendas de sucos de frutas, diz Adriano, vêm crescendo, mas o mercado de água, que parecia promissor, encolheu neste ano. O consumidor migrou da água com gás para o refrigerante com menos gás - um produto que a Schincariol não tem no portfólio. 

 

A volta de Adriano ao comando do grupo também mudou a holding, que faz a gestão financeira do negócio. Seu presidente será Zenilton Rodrigues de Mello, que já passou por multinacionais e empresas familiares como Garoto (comprada pela Nestlé), Vicunha, Abril e ETH/Odebrecht. 

 

Para o consultor de sucessão familiar Édio de Almeida Passos, da Bernhoeft, "a família (Schincariol) não vai encontrar a mesma empresa que deixou. Como eles vão lidar com isso é o atual desafio". Em sua opinião, " a melhor saída nesse caso, e que acontece com muita freqüência no setor de bebidas, é a administração híbrida: parte com a família, parte com profissionais." 

 

Veículo: Valor Econômico


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