Varejistas investem em robôs com aparência amigável

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Os robôs estão tomando uma quantidade cada vez maior de trabalho humano: eles estão em todos os lugares, desde fábricas até salas de estar, e agora também estão sendo introduzidos em ambientes públicos, como supermercados. As pessoas estão com medo de perderem seus empregos e, para amenizar essa angústia, varejistas estão investindo em dezenas de milhares de robôs com aparência amigável e nomes fofos.

É o caso do supermercado Giant na cidade de Harrisburg, Pensilvânia. Quando Tina Sorg, funcionária do estabelecimento, viu pela primeira vez a máquina, ela achou o robô estranho: programada para detectar derramamentos e detritos nos corredores, a máquina parecia uma impressora a jato de tinta com pescoço comprido. “Precisava de um pouco de personalidade”, disse Sorg, de 55 anos, que administra o departamento de bebidas da loja.

Então, durante um turno da noite, ela foi até uma loja de artes e artesanato nas proximidades, comprou um grande par de olhos arregalados e, quando ninguém estava olhando, colocou-os na parte superior do robô. Os olhos fizeram sucesso com os executivos da empresa e agora são uma característica padrão dos quase 500 robôs da empresa nos Estados Unidos.

Os varejistas dizem que o design de seus robôs não foi concebido para aliviar a angústia com a perda de empregos. A maioria dos robôs de varejo, entretanto, tem qualidades humanas suficientes para fazê-los parecer benignos, mas não para indicar que estão substituindo completamente os humanos. “É como a Mary Poppins”, disse Peter Hancock, professor da Universidade da Flórida Central, nos EUA, que estuda a história da automação. “Uma colher de açúcar derruba os robôs”.

Talvez nenhum outro varejista esteja lidando tão intensamente com os temas delicados da automação quanto o Walmart, o maior empregador privado dos EUA, com cerca de 1,5 milhão de trabalhadores. A empresa passou muitos meses trabalhando com a companhia Bossa Nova e com pesquisadores acadêmicos, para projetar um robô de escaneamento de prateleiras com o qual se espera que funcionários e clientes se sintam confortáveis.

O robô do Walmart foi projetado sem rosto porque seus desenvolvedores não queriam que os clientes pensassem que poderiam interagir com o dispositivo. Mas muitos dos robôs têm nomes, dados pela equipe da loja. Alguns também usam crachás. “Queremos que os funcionários tenham um apego a ele e o protejam”, disse Sarjoun Skaff, cofundador e diretor de tecnologia da Bossa Nova. O Walmart informou que planeja implementar os robôs em mil lojas até o final do ano. Hoje são 350.

Reação

No Walmart Supercenter, na cidade de Phillipsburg, em Nova Jersey, os funcionários batizaram o robô de WALL-E – uma escolha parcialmente inspirada no filme da Pixar que mostra um robô que coleta lixo em um planeta deserto. O robô pode trabalhar 365 dias por ano, escaneando prateleiras com câmeras de alta resolução para registrar itens fora de estoque. Ele faz uma pequena pausa entre os turnos para recarregar as baterias em uma estação de acoplamento.

O WALL-E completa sua rota sem a assistência de humanos, exceto quando fica preso no tapete da seção de medicamentos. Quando isso acontece, o gerente da loja, Tom McGowan, recebe um alerta pelo telefone, às vezes no meio da noite. Ele então liga para a loja e pede para alguém soltar o robô. McGowan disse que se referia à WALL-E como ele, mas que outros funcionários pensavam no robô como ela.

Alguns robôs, dizem as empresas de tecnologia, estão se adaptando perfeitamente às lojas. O Walmart e alguns shoppings nos EUA estão usando limpadores de piso autônomos que têm volante, assento confortável e até porta-copos – características que dão a impressão de que foram feitos para seres humanos que trabalham muitas horas limpando o chão, com uma xícara de café ao lado. A máquina pode ser acionada manualmente, para definir as rotas que percorrerá dentro da loja. Em seguida, um trabalhador só precisa tocar em uma tela e o dispositivo começa a funcionar por conta própria. Em cerca de 80% das vezes, não há humanos ao volante.

Antes de implantar o dispositivo nas lojas, a Brain Corp, empresa de San Diego que o desenvolveu, testou as reações dos clientes a uma máquina sem operador. A empresa descobriu que ninguém sentia falta dos humanos. “A maior reação que tivemos à máquina sem operador foi reação nenhuma”, disse Phil Duffy, vice-presidente de gerenciamento de produtos da Brain Corp.

Os varejistas dizem que os robôs são bons para seus trabalhadores. Eles liberam os funcionários de trabalhos repetitivos e propensos a lesões, como descarregar caminhões de entrega. Assim, os humanos podem se concentrar em tarefas mais gratificantes, como ajudar os clientes.

No Walmart Supercenter, na cidade de Phillipsburg, em Nova Jersey, alguns funcionários deram seu toque pessoal à automação que está transformando seus empregos. Os funcionários batizaram um descarregador de Grover e colocaram um cachorrinho de pelúcia em cima dele, como uma espécie de mascote. O robô, instalado recentemente, classifica automaticamente as caixas que chegam à loja e reduz de oito para quatro o número de trabalhadores necessários para esvaziar um caminhão de entrega. Agora, a tarefa ocupa apenas dois terços do tempo dos funcionários, tirando-os dos sufocantes confins do depósito e os levando para os corredores da loja, onde podem ajudar os clientes. O Walmart diz que o novo descarregador reduziu a rotatividade no depósito.

A automação ainda não reduziu a força de trabalho geral do Walmart, mas os executivos reconhecem que o número de posições nas lojas acabará por diminuir. A empresa diz que estava treinando muitos de seus funcionários para trabalhar em seus negócios de comércio eletrônico e serviços de saúde, ou mesmo para ajudá-los a se preparar para empregos fora do Walmart.

Sorg, que trabalha na Giant há 14 anos, não está preocupada. Enquanto outras pessoas se preocupam com robôs que tomam seus empregos, ela afirma que está fascinada pelo momento. O robô é conhecido hoje pelo nome Marty – uma porta-voz da empresa que desenvolveu o dispositivo conta que o robô de olhos arregalados ganhou o nome depois que um dos executivos do supermercado reparou que a máquina parecia com um funcionário chamado Marty, “alto, magro, reservado e pouco emotivo”. No Halloween, Sorg se vestiu de Marty para brincar com seus netos.


Fonte: Newtrade


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