Os sinais que apontam para recuperação mais robusta no mercado de trabalho

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A taxa de desemprego começou o ano passado em 12,7%, terminou o trimestre encerrado em novembro em 11,2% e foi para 11% nos últimos três meses do ano.

Esses dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), revelados na sexta-feira (31) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Apesar de ainda haver 11,6 milhões de desempregados, pela primeira vez desde o início da retomada, em 2017, a taxa de desocupação caiu junto com o número de desalentados (pessoas que desistiram de procurar emprego, por acharem que não encontrariam).

O contingente de pessoas desalentadas foi estimado em 4,6 milhões no trimestre de outubro a dezembro. Essa queda nos desalentados ainda não aparece na média anual, já que o movimento começou a ser visto só a partir de agosto, mas indica uma tendência para os próximos trimestres.

"A média ficou maior, porque o número cresceu muito no primeiro trimestre. Mas o fato de ter começado a diminuir nos últimos meses do ano mostra que pessoas que estavam há mais tempo fora do mercado de trabalho começaram a ser aproveitadas", diz Daniel Duque, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) na área de mercado de trabalho.

Ainda que tímido, esse movimento já começa a refletir uma melhora generalizada do mercado de trabalho, segundo o economista. "A minha expectativa agora é que a gente continue vendo uma população ocupada crescendo com menor esforço, em torno de 2% ou 2,5% e que a renda cresça mais lentamente, em torno de 1% como estávamos vendo em 2019?, diz.

Os números devem melhorar junto com a economia. A previsão para o crescimento de 2020 é de 2,31%, segundo o último Boletim Focus, aceleração em relação ao cerca de 1,1% registrados em 2019.


Esse processo de “reintegração” deve durar, pelo menos, até o começo de 2021, segundo Duque, e tem potencial de manter o rendimento médio do trabalhador mais baixo. “São pessoas com menor qualificação, menos experiência e, por isso, entram com uma renda menor”, diz. 

 

A previsão dele é que, ao fim dessa reincorporação, a renda passe a crescer a níveis mais elevados, de 2% a 3%. “Não vamos ver uma melhora no nível da renda em 2020. Em 2021, podemos ver melhora mais expressiva. Depois disso, tudo vai depender da continuidade do processo de recuperação”, diz. 

 

Outro motivo para esperança é o aumento de vagas formais. O número de empregados com carteira de trabalho assinada chegou a 33,7 milhões no último trimestre do ano, uma alta de 1,8% frente ao período de julho a setembro.

 

Isso significa um acréscimo de 593 mil pessoas no mercado. Em relação aos três últimos meses de 2018, esse aumento foi ainda mais expressivo, de 2,2%, ou 726 mil pessoas a mais.

 

É importante ressaltar, no entanto, que o contingente de empregados formalizados ainda está cerca de 3 milhões inferior ao recorde da série inciada em 2012, alcançado em 2014, quando foram registrados 36,7 milhões de trabalhadores formais. 

 

Dos grupos de atividades que tiveram aumentos no contingente de ocupados na comparação com o trimestre anterior, o IBGE destaca o setor de comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (2,1%, ou mais 376 mil pessoas); alojamento e alimentação (3,3%, ou mais 179 mil pessoas); e outros serviços (3,0%, ou mais 151 mil pessoas).

 

“A gente ainda não tinha visto um crescimento mais robusto das vagas formais no levantamento do IBGE, só no Caged”, diz Duque.

Em 2019, o saldo de vagas registradas pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, ficou em 644.079, o melhor resultado em seis anos.

 

Diferentemente dos dados do IBGE, que são mais amplos e vêm de uma pesquisa feita diretamente nos domicílios, o banco do Caged é alimentado mensalmente por informações dos estabelecimentos sobre contratos regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

 

Um número que continua em nível recorde e que ajudou na queda da taxa de desemprego é o da informalidade. Ainda há mais de 38 milhões de pessoas em vagas informais no Brasil, ou 41,1% da força de trabalho. 

O IBGE considera trabalhadores informais aqueles sem carteira, domésticos sem carteira, empregador sem CNPJ, conta própria sem CNPJ e trabalhador familiar auxiliar. 

 

Costuma-se dizer que o emprego é o último vagão do trem da economia, devido ao descompasso entre atividade e a necessidade de contratações. Na primeira metade do ano passado, um em cada quatro desempregados procuravam se recolocar no mercado há mais de dois anos, segundo o IBGE.

 

Esse contingente chegou a 26,2% dos desempregados e foi o maior patamar para um trimestre desde 2012. Se a tendência positiva se confirmar, isso pode significar o fim da espera para muita gente.


Fonte: Exame 

 


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