PIB do primeiro trimestre cai 0,2% e acende sinal de alerta sobre recessão

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A confirmação da queda de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2019 – em relação ao quarto trimestre de 2018 – reforça o cenário de estagnação da economia e acentua o sinal de alerta sobre os riscos de um novo ciclo recessivo no País.

 

“Estamos vivendo um quadro de estagnação e com grandes dificuldades de impulsionar crescimento no curto prazo”, destaca Luana Miranda, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE).

 

Na comparação com o primeiro trimestre de 2018, o PIB do País cresceu 0,5%, e nos quatro trimestres encerrados em março avançou 0,9%, divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

Para Miranda, os principais entraves para a expansão sustentável e de longo prazo do PIB estão, hoje, em problemas históricos que envolvem a capacidade de oferta do País, como infraestrutura precária, complexidade tributária, baixa qualidade da mão de obra e pouca abertura comercial. Em boa parte, isso explica a forte dificuldade de recuperação da indústria e dos investimentos – os dois principais componentes que estão puxando o PIB para baixo.

 

Em relação ao quarto trimestre (na margem), o PIB industrial caiu pela segunda vez seguida (-0,7%), com destaque para a indústria extrativa (-6,3%), impactada negativamente pelo rompimento da barragem de Brumadinho, em janeiro, que derrubou a produção de minério de ferro.

 

A construção civil (-2,0%) e a indústria de transformação (-0,5%) também performaram mal, porém houve alta de 1,4% em eletricidade, gás, água e esgoto. Na comparação interanual (contra o primeiro trimestre de 2018), a indústria caiu 1,1%, puxada por quedas em extrativa (-3,0%), transformação (-1,7%) e construção civil (-2,2%), porém aumento de 4,7% em eletricidade.

 

Expectativas

 

O economista do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), José Ronaldo Souza Júnior, diz, por sua vez, que o resultado da indústria extrativa pode se reverter para o positivo a partir do segundo trimestre, com o início de operação de plataformas de petróleo. “A expectativa da Petrobrás é de alta de 7% na produção de petróleo e gás em 2019”, destaca Souza.

 

Esse fator, somada à leve expansão de vagas formais já vista em abril, pode ajudar o PIB do segundo trimestre a vir positivo. Porém, Souza lembra que o Ipea vem alertando sobre os riscos do País entrar em um novo ciclo recessivo.

 

“É difícil precisar quando viria essa nova recessão, mas nós temos problemas estruturais que, se não forem tratados devidamente, podem resultar em uma nova crise”, diz Souza. Para ele, o principal problema hoje é o endividamento crescente do setor público. “O nível elevado da dívida acaba afastando os investidores do Brasil”, considera Souza.

 

Segundo o IBGE, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, investimentos) registrou queda de 1,7% na margem e crescimento de 0,9% na comparação interanual. Com isso, a taxa de investimento fechou o primeiro trimestre de 2019 em 15,5% do PIB, acima do observado em igual período de 2018 (15,2%).

 

“Com esse resultado, nós estamos 27% abaixo do pico do nível de investimento pré-recessão [antes de 2014]. O retorno da confiança será super importante para retomada dos investimentos”, diz Miranda. “No curto e médio prazo, o crescimento do Brasil está muito dependente da confiança das empresas e dos consumidores. Por isso que a gente precisa reestabelecer, com urgência, a previsibilidade da política. Nossa atividade está dependendo muito dos rumos políticos”, destaca Miranda.

 

A projeção do Ibre é que o PIB do segundo trimestre cresça 0,4% na margem, porém Miranda diz que os dados de confiança preocupam. Para o ano, a instituição prevê expansão de 1,2% para o PIB.

 

Carlos Thadeu, economista-chefe da Ativa Investimentos, reforça que o Brasil está em processo de estagnação de sua economia, com uma capacidade de crescer de 0,5% a 1% este ano. “Mesmo com a aprovação da reforma da Previdência Social, há pouco espaço para crescer no curto prazo”, afirma Carlos Thadeu, ao considerar a elevada capacidade ociosa das empresas.

 

Mais positivos

 

Por outro lado, serviços, no lado da oferta, e consumo, na ótica da demanda, vieram positivos. Na margem, serviços cresceram 0,2%, com ajuda de Intermediação financeira e seguros (0,4%), Administração, saúde e educação pública (0,3%), Informação e comunicação (0,3%), Atividades imobiliárias (0,2%) e Outros serviços (0,4%). Já as quedas foram em Transporte, armazenagem e correio (-0,6%) e Comércio (-0,1%). Na relação interanual, serviços cresceram 1,2%.

 

A agropecuária, por sua vez, registra quedas na margem (-0,5%) e no ano (-0,1%). Pela ótica da demanda, o Consumo do Governo (0,4%) e o Consumo das Famílias (0,3%) tiveram taxas positivas. No setor externo, as exportações de Bens e Serviços caíram (-1,9%), enquanto as importações cresceram 0,5%, mostrou IBGE.

 

Fonte: DCI

 


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