Albras refaz estratégia e busca mercado interno

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Mudando sua vocação original de exportadora, a Alumínio Brasileiro, Albras, está voltando sua estratégia para a venda da produção de alumínio no mercado doméstico. O que estimulou essa guinada no foco da empresa foi o interesse em atender a crescente demanda interna. Esmagada - como todo o setor - entre a queda nos preços do alumínio e a alta dos custos de energia, a companhia vem operando com dificuldades, mas enxerga no crescimento do mercado brasileiro e nos possíveis incentivos do governo uma luz no fim do túnel.

"Estamos tentando internalizar a nossa produção. Temos disposição para isso", afirmou ao Valor, o presidente da empresa Luis Jorge Nunes. A companhia, que opera desde 1985, vendeu para no mercado brasileiro cerca de 32 mil toneladas no ano passado, das 460 mil toneladas da capacidade produtiva instalada no município de Barcarena, no Pará. Para 2012, as expectativas apontam para a duplicação desse movimento de internalização. Com uma produção estimada em 452 mil toneladas, a empresa deve entregar no mercado doméstico 70 mil toneladas.

A empresa recentemente assinou seu primeiro contrato com uma transformadora do Sudeste para o fornecimento de 36 mil toneladas do metal por ano. Além disso, conta com o aumento da demanda da já sua cliente Alubar. A fabricante de cabos e vergalhões para transmissão e distribuição de energia vai investir R$ 50 milhões para ampliar sua produção de 35 mil toneladas para 55 mil toneladas até fim de 2013. Segundo Nunes, há ainda outras negociações com empresas interessadas.

Isso significará uma inversão da estratégia em que se baseou o início das operações da empresa. Com investimentos brasileiro e japonês, a Albras foi formada para abastecer o Japão. Assim, 49% da produção é detida pelo NAAC (Nippon Amazon Aluminium), um consórcio de 17 empresas japonesas, entre tradings, bancos, consumidores e produtores de alumínio. Em 2011, 51% da Albrás, que pertencia à Vale, foi comprada pelo grupo norueguês Norsk Hydro.

Agora, os sócios devem flexibilizar a estratégia de vendas da companhia. "A relação com os investidores japoneses é flexível. Eles vão se adaptar para internalizarmos a produção", disse o executivo. Ele explica que o metal que vai para o Japão não precisa ser necessariamente da Albras. Há uma possibilidade, por exemplo, de os japoneses venderem no Brasil e comprarem alumínio de outro lugar. Hoje, a Norsk Hydro também exporta parte da produção a que tem direito, principalmente para transformadores da América do Sul, mas essa parcela deve diminuir.

"A estratégia de focar no mercado interno já era esperada. A demanda aqui teve bom crescimento nos últimos anos e tornou-se prioridade das empresas", explica Adjarma Azevedo, presidente da Associação Brasileira de Alumínio (Abal). Entre 2008 e 2011, o consumo doméstico de alumínio avançou mais de 27%, para 1,451 milhão de toneladas. Além disso, o governo desincentiva a exportação do alumínio, alegando que isso significaria exportar energia, uma vez que o processo produtivo do metal é intensivo em energia.

Todavia, a Albrás enfrenta dificuldades. Desde o ano passado, o crescimento da demanda por alumínio ficou mais fraco. "Hoje, o mercado doméstico está abastecido pelos produtores que já o atendiam. E está todo mundo com o pé no freio", diz Azevedo. A Abal, que antes previa que a demanda alcançaria a oferta neste ano, agora joga essa situação para fim de 2013. As projeções apontam para um crescimento de, no máximo, 3% no consumo de alumínio neste ano.

E é justamente deste crescimento que depende a Albras. No ano passado, a empresa registrou faturamento de R$ 1,733 bilhão. O lucro somou apenas R$ 29,7 milhões, em grande parte fruto de operações de hedge da empresa. "Neste ano não tenho hedge e eu ficarei feliz se conseguir atingir o 'break even' (ponto de equilíbrio, no qual o total de receitas é igual ao total de despesas)", enfatiza Nunes.

Uma das principais dificuldades da Albras é equacionar a questão de seu custo da energia. A fábrica depende do suprimento da hidrelétrica de Tucuruí. O fornecimento foi acordado em um contrato com a Eletronorte que vai até 2024. Segundo o executivo, hoje o custo da energia pelo contrato está no patamar dos US$ 72 o MWh, sendo que o dos concorrentes internacionais marcam em média US$ 40 o MWh. Já os preços do alumínio no mercado internacional caíram 23%, entre o início de 2011 e o pregão de ontem. "Não sobra nada. Está impossível investir no sustento da operação", disse o executivo.

Mesmo assim, a empresa não desenhou planos para fechar a fábrica - que emprega 1.180 funcionários - apesar de não desconsiderar o assunto. Como outros produtores, a Albras acredita que o governo vai lançar medidas para aliviar o setor. Nunes afirma que a queda nos juros e a melhora do câmbio já trouxeram algum alívio às operações da companhia neste primeiro semestre.


Veículo: Valor Econômico


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