A desaceleração do comércio varejista chama a atenção das empresas do setor, mas especialistas acreditam que os resultados devem ser encarados como voláteis, devido ao calendário e ao fato de vários segmentos ainda estarem com fôlego.
Apesar de o ritmo ter diminuído, pois as vendas do comércio varejista caíram 0,8% em maio ante abril, na série com ajuste sazonal, na comparação com maio de 2011 elas tiveram alta de 8,2%, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para não perder o fôlego até o final do ano, a tendência será investir mais em prazer aspiracional, ou seja, itens de consumo atraentes para clientes mais seletivos por conta do aumento da renda e da percepção de que os gastos devem ser mais direcionados ao bem-estar.
É o que aponta Julio Takano, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Equipamentos e Serviços para Varejo (Abiev), que costuma participar dos principais eventos internacionais do setor, como o da NRF (National Retail Federation), maior convenção de varejo do mundo realizada este ano em Nova York, junto de uma comitiva de 250 empresários brasileiros da GS&MD, consultoria de marketing para varejo.
"Há mais de 30 anos o mercado, nessa época, fala sempre a mesma coisa e parece que o mundo vai acabar em agosto. Sim, o brasileiro está mais cauteloso, mas não quer dizer que esteja sem dinheiro. A cautela faz com que ele gaste mais com beleza, bem-estar, prazer aspiracional. O consumidor moderno quer agora cuidar de si e esse atributo no ponto de venda vai ser o diferencial", comentou ele, ao DCI.
Para o executivo, o governo tem adotado ações para proteger a indústria nacional e isso tem atrapalhado o varejo. "O brasileiro tem ido muito mais aos Estados Unidos comprar coisas. É preciso atenção a isso por aqui. Mas há mercados muito fortes ainda. Regiões como a Norte e a Nordeste ainda são extremamente positivas", aponta Takano.
Adotar diversas medidas para que o varejo impulsione o crescimento econômico e não fique estagnado também seria uma ajuda à retomada do crescimento, acredita Claudio Felisoni, presidente do Programa de Administração do Varejo (Provar) da Fundação Instituto de Administração (FIA). Para ele, o setor varejista apresenta desaceleração por não existir mais a possibilidade do Brasil crescer seu Produto Interno Bruto (PIB) apenas com o consumo.
"Houve um certo esgotamento do consumo do País. O governo deve trazer um número maior de investimento privados. Para 2013, se o ritmo continuar nesse patamar, o varejo não vai crescer mais", afirma ele.
Atenção segmentada
Olhar com atenção sinais como a taxa de juros, que se vem reduzindo, o aumento de salário mínimo e o nível de emprego, que continuou forte, são quesitos a serem considerados, mesmo diante de indicadores como o da queda de 11,3% das vendas de materiais de construção na passagem de abril para maio, conforme informou o IBGE. No entanto, o resultado tende a ser pontual, pois no acumulado do ano, até maio, a atividade de materiais de construção acumulou alta de 11,1% no ano e de 8,7% em 12 meses.
Reinaldo Pereira, gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do Instituto lembra que o cenário de incertezas sobre a conjuntura internacional e a dificuldade de reaquecimento da atividade econômica brasileira podem explicar tais termômetros, afinal na comparação com maio de 2011, houve forte desaceleração nas vendas do segmento. Porém, em maio a alta foi de 3,6% nas vendas em relação a igual período de 2011, após altas de 13,0% em abril e de 17,0% em março.
Atividades
Assim como ajudou na desaceleração da inflação oficial, a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis, anunciada pelo governo em 21 de maio, deve ajudar na recuperação das vendas do varejo ampliado em junho. A queda de 0,7% das vendas do varejo na passagem de abril para maio pode ser revertida se os dados de aumento de vendas de veículos anunciadas pelo setor se confirmarem, disse Pereira, do IBGE. "A redução de IPI para automóveis foi em 21 de maio. Então não teve reflexo ainda no nosso índice [na Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) de maio]. Mas, para o índice de junho, provavelmente [o índice] deve capturar essas informações também", afirmou Pereira.
O analista estava referindo-se aos números favoráveis de vendas de automóveis em junho anunciados pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) e pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Em maio, as vendas de veículos e motos, partes e peças aumentaram 1,5% ante abril. Na comparação com maio de 2011, houve recuo de 2,5% no volume de vendas. Até maio, a atividade acumula perda de 0,8% no ano, mas registra expansão de 1,2% em 12 meses.
No resultado de 4,2% nas vendas do varejo ampliado em maio ante maio de 2011, a atividade de veículos teve um peso de cerca de 36%, contribuindo negativamente para a formação da taxa total. Já a atividade de hipermercados, supermercados e produtos alimentícios foi responsável por uma fatia em torno de 27%. "No varejo ampliado, os veículos têm peso grande, quase tanto quanto o de hipermercados e supermercados. O peso é calculado mês a mês, com base na receita", explicou o gerente do IBGE.
Veículo: DCI