Dólar segue em alta pressionado por nova medida

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O dólar continuou em alta na semana passada e chegou a registrar R$ 3,34 na sexta-feira. O câmbio foi pressionado, principalmente, pela redução da meta de superávit primário - economia para pagar os juros da dívida -, segundo especialistas consultados.

Silvio Campos Neto, economista da Tendência Consultoria, afirmou que a medida aumentou a percepção do mercado sobre o risco de rebaixamento da nota de crédito brasileira pelas agências de classificação de risco.

Na última quarta-feira o governo anunciou que a queda na arrecadação federal provocada pela retração na economia levou a equipe econômica a diminuir para R$ 8,74 bilhões - 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas no País) - a meta de superávit primário para este ano.

"O efeito natural disso é o aumento do risco e do próprio câmbio. O problema é que todas as agências de risco podem revisar a nota do Brasil. Talvez, não a nota, mas a perspectiva do País", disse Campos.

A economista Zeina Latiff, da XP investimentos, também destaca que, quando há risco de rebaixamento da nota de crédito do Brasil, há pressão na taxa de câmbio. Segundo ela, o mercado começa a "precificar" a mudança. "Com o risco de perder o grau de investimento, a taxa de câmbio é bastante sensível a isso", ponderou.

Para o presidente do Conselho Federal de Economia, Paulo Dantas da Costa, o câmbio é resultante de oferta e demanda. De acordo com o Banco Central, mais dólares saíram do que entraram no país neste mês, até o último dia 17. No período, o saldo negativo chegou a US$ 2,36 bilhões. Costa lembrou que a entrada de moedas estrangeiras diminui porque os residentes estão apostando menos na saúde econômica do país.

A redução da meta de superávit primário no período entre 2015 e 2018 foi, ainda, um dos fatores que levou o banco Morgan Stanley (que classificou a medida como "surpreendente") a rebaixar a sua recomendação do Brasil para underweight (desempenho abaixo da média do mercado).

Pesou ainda sobre a decisão, segundo o Morgan Stanley, o aumento da inflação até 2016 e a trajetória de alta dos juros.

Reação com juros

Apesar da revisão da meta, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, afirmou que a política monetária não deve reagir diretamente às revisões nas metas de superávit primário anunciadas pelo governo.

Segundo ele, entretanto, pode haver um impacto indireto por meio do câmbio. Ele explicou que o dólar reagiu à revisão da meta fiscal e que o câmbio é levado em conta nas projeções de inflação.

Barbosa afirmou, na sexta-feira, que a política fiscal ainda está contribuindo para o combate à inflação e que, mesmo com a revisão das metas de superávit primário, o impulso fiscal "é contracionista ou, no máximo, neutro", já que este ano o resultado primário deve ser melhor do que o déficit registrado em 2015.

Ao deixar evento na FGV, na sexta, ele declarou que é cedo para afirmar se essa alta do dólar será permanente. Ele argumentou que, à medida que o governo for explicando as ações fiscais, esse impacto no câmbio tende a ser revertido. Segundo ele, o mercado reage à política fiscal, mas também a indicadores econômicos do restante do mundo.



Veículo: Jornal DCI


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