Rio, a capital da inflação: energia e comida fora de casa estão mais caras

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                                          Alta de preços ultrapassa 10% em 12 meses


RIO - Com a escalada de preços, a inflação acumulada em 12 meses em duas regiões metropolitanas do país já ultrapassa a barreira dos dois dígitos. Rio de Janeiro e Curitiba registram alta de 10,04% e de 10,73%, respectivamente, na taxa em 12 meses até julho pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), indicador que funciona como prévia da inflação oficial. Em todo o país, o índice registrou alta de 9,25% em 12 meses até julho. Trata-se do maior resultado para a taxa acumulada desde dezembro de 2003, quando havia chegado a 9,86%.

Considerando apenas o mês de julho, o IPCA-15 registrou alta de 0,59% no país. No Rio, a taxa foi de 0,38%.

Diante do resultado, analistas estimam que o IPCA com dados fechados do mês de julho e de agosto, a inflação do país deve começar a flertar com uma taxa de 10%, considerando a taxa acumulada em 12 meses.

‘MAIS AFETADOS PELA CRISE’

No Rio, a energia elétrica respondeu por quase um quinto da inflação. A conta de luz subiu 54,39% em 12 meses até julho no Rio. Na média das demais regiões, a alta foi ainda mais expressiva no período, chegando a 59,38%.

Pai de dois filhos, o coordenador administrativo Waldir Fontes Soares, de 40 anos, viu o gasto com energia elétrica disparar nos últimos doze meses. A conta mensal de sua casa em Duque de Caxias, região metropolitana, mostra que o consumo da família se mantém praticamente o mesmo. O preço da fatura, porém, já é 70% maior.

— O que pesa no meu orçamento é a luz. A gente tem feito economia, minha mulher é rígida em relação aos gastos, mas ainda está alto — conta Soares.

Já o custo da refeição fora de casa subiu 13,77% em 12 meses no Rio, ante média nacional de 9,87%. Na prática, representou quase um décimo da alta de preços.

A auxiliar administrativa Ana Beatriz Mendes Barros, de 23 anos, mora com a mãe, no bairro de Santo Cristo, e paga apenas alguns gastos pessoais, como a faculdade de Psicologia, mas está atenta ao impacto da inflação mais alta no orçamento doméstico. As despesas com alimentação, especialmente fora de casa, e as compras essenciais no supermercado foram as que mais cresceram de um ano para o outro.

— Costumo comer fora pelo menos uma vez por semana e notei que está mais caro. A tendência é que os preços aumentem ou se mantenham como estão — aposta a estudante.

Outras fontes de pressão nos preços no Rio foram a alta de 13,33% em 12 meses de ônibus urbano e o aluguel residencial, que subiu 10,5% no período. Em todo o país, o aluguel ficou 9,34% mais caro em 12 meses.

— A taxa de inflação de 10% é uma marca pesada para o Rio. Aqui, não apenas temos perdido mais emprego e sido mais afetados pela crise do setor de petróleo, como a inflação é maior. Isso significa que a situação relativa é pior que nas demais regiões — afirma o professor da PUC-Rio Luiz Roberto Cunha.

Entre as regiões metropolitanas, a menor taxa em 12 meses foi registrada em Belo Horizonte, com alta de 7,86%. Em São Paulo, a inflação no período foi de 9,43%.

ANALISTAS VEEM INFLAÇÃO DE 9% AO ANO

Mesmo com o aumento de preços, economistas avaliam que a inflação do país deve desacelerar e fechar o ano na faixa dos 9%. Algumas projeções, porém, ainda estão sendo revistas. Os números estão muito acima do teto da meta do governo para este ano, de 6,5%.

— A inflação em agosto flerta com os 10%, mas não chega lá. As chances são mínimas e não trabalhamos com essa hipótese. De qualquer forma, as previsões já são ruins. A taxa de 10% é uma fronteira mais simbólica — afirma o economista da Rosenberg & Associados Leonardo França Costa.

A consultoria estima que o IPCA, o índice oficial de inflação do país, suba 0,4% em agosto. Caso a projeção se confirme, isso levaria a inflação em 12 meses ao patamar de 9,62%. Já a Tendências Consultoria prevê um resultado acumulado de 9,4% em agosto.

— Para chegar a 10%, teria que ocorrer algo muito dramático na inflação. O fato de duas regiões metropolitanas terem passado desse patamar mostra que a inflação é realmente disseminada, mas não acho que isso se estende para o IPCA geral — diz o economista da Tendências Marcio Milan.

Heron do Carmo, professor da FEA/USP, aponta que o pico da inflação em 12 meses será em agosto. A partir daí, espera-se desaceleração, até que fique em 9% em 2015. Para 2016, sua projeção é de uma taxa de 5%:

— Ainda vemos uma inflação corretiva, com reajuste de preços de energia, por exemplo. Mas tudo indica que teremos um recuo do resultado acumulado em doze meses a partir de setembro, o que deve ajudar a corroborar o cenário de uma inflação menor em 2016.



Veículo: Jornal O Globo- RJ


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