Dólar alto reduz perdas da balança comercial

Leia em 4min

                                          Déficit dos manufaturados cairá de US$ 109 bi para US$ 82 bi neste ano



BRASÍLIA - Dólar em alta e renda em baixa compõem a receita considerada ideal, por governo e especialistas, para a melhora das contas externas brasileiras na atual conjuntura. É nesse cenário de economia fraca — com importações caindo mais do que as exportações, e os gastos com viagens ao exterior encolhendo — que, no primeiro semestre de 2015, as contas externas apresentaram números mais tranquilizadores do que no ano passado. Destaca-se a virada no saldo da balança comercial que, nos seis primeiros meses deste ano, registrou um superávit de US$ 2,2 bilhões, contra um déficit de US$ 2,5 bilhões no mesmo período de 2014. Ou seja, a diferença chega a US$ 4,7 bilhões.

O resultado positivo, porém, tem mais a ver com a diminuição das compras internas do que com o aumento das exportações. Uma das exceções a essa regra é o setor de manufaturados, que vem conseguindo ampliar suas vendas. Cálculos da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), feitos a pedido do GLOBO, mostram que o impacto positivo do câmbio se dará diretamente nos produtos industrializados, em contraponto ao fraco desempenho das receitas obtidas com os embarques de commodities, responsáveis pela maior parte das exportações. Segundo a AEB, a balança de manufaturados sairá de um déficit recorde de US$ 109 bilhões em 2014 para um saldo negativo menor, em torno de US$ 82 bilhões, graças ao aumento das exportações de produtos como aviões, automóveis, autopeças e açúcar refinado.

— A participação dos produtos manufaturados na pauta de exportação será elevada de 35,6% em 2014 para 38,1% em 2015. Com a desvalorização do real frente ao dólar, as exportações dessa categoria de produtos serão parcialmente beneficiadas, em especial aquelas destinadas aos Estados Unidos — prevê o presidente da AEB, José Augusto de Castro.

Ele lembra que os países da América do Sul, tradicionais e principais importadores de manufaturados do Brasil, estão reduzindo suas importações, devido à queda das cotações de suas commodities exportadas.

ADVERTISEMENT
O problema em relação à balança é que o superávit deste ano é fruto de uma queda acentuada das importações e não do crescimento das exportações em geral. De acordo com Castro, o crescimento de 2,5% previsto pela OMC para o comércio mundial em 2015 e a queda de 15% estimada para as exportações brasileiras reduzirão para algo entre 0,98% e 1,02% nossa participação nas exportações mundiais. No ano passado, a parcela brasileira no total comercializado no mundo era de 1,18%, mas o índice já chegou a 1,42% em 2011.

— As condições de contínua piora em renda, crédito e confiança vêm elevando o risco de recessão da economia. O único canal que pode permitir alguma suavização do ciclo econômico é o setor externo, com queda das importações e aumento das exportações. O setor externo suaviza a desaceleração — diz o economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani.

AEB: SUPERÁVIT PODE CHEGAR A US$ 8 BI

Ele destaca que, quando o déficit em conta corrente cai, melhora a situação de risco e, com isso, a percepção em relação ao Brasil. Em sua opinião, o único motor do crescimento ao longo dos próximos trimestres é o setor externo.

— Neste ano e no próximo, a desvalorização da moeda e o crescimento global, especialmente dos EUA, ajudam as exportações. Além disso, a redução dos custos locais de produção eleva a competitividade externa, devendo colaborar com o setor no ano que vem — prevê.

Ele acrescenta que, do lado das importações, a queda no consumo doméstico e a alta do dólar reduziram fortemente os gastos no exterior. Assim, a melhora da balança em 2015 e 2016 está associada a uma queda das importações mais profunda e a uma leve melhora das exportações.

Publicidade

— Nossas estimativas indicam que a balança comercial deverá mostrar importante recuperação, saindo de um déficit de US$ 3,9 bilhões em 2014 para um superávit de US$ 6 bilhões neste ano e US$ 13 bilhões em 2016 — completa o economista.

O presidente da AEB espera um superávit comercial em torno de US$ 8 bilhões em 2015. Já os economistas da GO Associados projetam um saldo positivo de US$ 10,5 bilhões na balança comercial em 2015 e de US$ 13 bilhões em 2016. A GO também espera um déficit em transações correntes de US$ 81,1 bilhões este ano e de US$ 75 bilhões em 2016.

No primeiro semestre deste ano, as contas externas apresentaram um saldo negativo de US$ 36,7 bilhões, montante 20% inferior ao rombo registrado no mesmo período de 2014. A expectativa de fontes da área econômica é que em outubro o efeito da desvalorização do real frente ao dólar verificado desde 2014 passará a ser sentido integralmente.



Veículo: Jornal O Globo - RJ


Veja também

Consumismo à brasileira

Cerca de 75% dos brasileiros acreditam que o consumo exagerado pode prejudicar o planeta. Para 85% deles, o progresso n&...

Veja mais
Dólar e juros disparam com nova meta

Bolsa zera ganhos e passa a perder 0,4% no ano; entre as moedas emergentes, o real tem maior desvalorizaçã...

Veja mais
Preços derrubam exportações gaúchas em 9,8%

Mesmo com o aumento de 5,3% em volume negociado, o valor das exportações gaúchas caiu 9,8% no prime...

Veja mais
Percepção do consumidor sobre economia é a pior desde 2005, diz FGV

A percepção dos consumidores sobre a situação atual da economia é a pior desde setemb...

Veja mais
Mais 'realista', governo reduz meta fiscal para 0,15% do PIB neste ano

                    ...

Veja mais
Salário formal tem 1ª queda em 11 anos

                    ...

Veja mais
Rio, a capital da inflação: energia e comida fora de casa estão mais caras

                    ...

Veja mais
Belém registra menor inflação do País, aponta estudo do IBGE

                    ...

Veja mais
Prévia da inflação oficial tem maior taxa para julho desde 2008

                    ...

Veja mais