Oferta abundante faz preços do café caírem ao patamar de 2007

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Depois de superarem US$ 3 por libra-peso em 2011, os preços futuros do café na bolsa de Nova York voltaram aos níveis de US$ 1,20 nos últimos dias e ontem os papéis de segunda posição de entrega fecharam abaixo disso: US$ 1,1845. O patamar de US$ 1,20 é semelhante à média de 2007 e superior ao da crise dos anos 2000, quando o excesso de produção mundial derrubou as cotações.

Diante das últimas estimativas de colheita, consumo e estoques mundiais, o mercado parece conformado com o superávit que se apresenta. E o horizonte é negativo para as cotações internacionais e para os preços pagos ao produtor no Brasil, segundo analistas e representantes do setor - a menos que haja alguma intervenção do governo no mercado.

O patamar de US$ 1,20 que vinha sendo mantido na bolsa de Nova York também pode ser considerado uma média dos últimos dez anos, conforme Rodrigo Costa, diretor da Caturra Coffees, mas os custos de produção aumentaram. O custo operacional efetivo calculado pela Comissão de Café da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) em Manhumirim (MG), por exemplo, saiu de R$ 345,18 em 2011 para R$ 391,43 em 2012 (para a safra que está sendo colhida este ano), alta de 13,4%.

"Não acho que vai abaixo de US$ 1,10, mas também não acho que vai passar de US$ 1,30 [a libra-peso]", afirma Costa, sobre as cotações do produto em Nova York. Na sua avaliação, existe café disponível de várias origens, situação que surgiu como efeito dos preços altos que levaram os cafeicultores a segurar o produto. Além disso, as perspectivas são de safras volumosas no Brasil e Vietnã e recuperação da produção na Colômbia, segundo Costa. E no momento em que a oferta de café é abundante, a demanda por parte de torrefadores no exterior não é "agressiva", acrescenta.

Há quem esteja mais pessimista. Gil Barabach, analista da consultoria Safras & Mercado, vê risco de o café buscar patamares abaixo de US$ 1,20 e até caminhar para US$ 1 com a entrada da safra brasileira, que está sendo colhida. Há ainda a expectativa de que o ciclo 2014 seja maior que 2013 se o clima for favorável, além da entrada de safras de outros países. "Tudo isso está montando um cenário de crise", observa ele.

No mercado físico de café, a comercialização segue atrasada com os produtores relutantes em vender o produto a preços baixos e aguardando medidas do governo para "enxugar" o mercado. Segundo cálculos de Barabach, considerando preços deflacionados, o café tipo 6 do Sul de Minas, na base maio, foi cotado a R$ 307 por saca, o menor valor após o auge da crise do início da década passada (entre a segunda metade de 2001 e setembro de 2002). "O poder de compra só é maior que no período de crise. Estamos convergindo para a realidade de 2002", diz.

O que poderia conter essa queda, na sua opinião, seria uma entrada mais "ativa" do governo brasileiro no mercado. Na semana passada, o governo anunciou a distribuição dos recursos para o Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), que totalizam R$ 3,16 bilhões. Nesta semana, o ministro da Agricultura, Antônio Andrade, disse que o Conselho Monetário Nacional (CMN) deverá aprovar, na próxima reunião, mais R$ 390 milhões para leilões de Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (Pepro) ao segmento.

Outro fator que "pesa" sobre o mercado internacional de café é a estimativa de consumo menor que a produção mundial pelo quarto ano consecutivo, observa Rodrigo Costa, com base em dados divulgados semana passada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). De acordo com o órgão, a produção mundial em 2013/14 deve alcançar 146,3 milhões de sacas ante um consumo de 141,8 milhões de sacas e estoques finais de 30,5 milhões. Os estoques são estáveis frente à safra anterior, mas 5 milhões de sacas superior a 2011/12.

A percepção da maioria dos analistas de mercado é de que existe muito café estocado no Brasil. Mesmo após o anúncio da distribuição de recursos do Funcafé, com maior volume de dinheiro para estocagem, o mercado avalia que uma hora ou outra haverá oferta de café no mercado, segundo Thiago Cazarini, da Cazarini Trading Company. "Infelizmente o mercado analisa o volume".

De acordo com estimativas da Pharos Commodity Risk Management, os estoques finais no Brasil na safra 2012/13 atingem 11,818 milhões de sacas ante 6,542 milhões em 2011/12. Para 2013/14, a projeção para os estoques finais é de 12,05 milhões de sacas.

Ainda que as informações "baixistas" prevaleçam, representantes da cafeicultura estimam que não existe um volume muito grande de café no mercado, levando em conta os compromissos de exportação, o consumo nacional e a produção projetada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de 48,59 milhões de sacas em 2013/14.

Moris Mermelstein, da Pharos, acredita que os preços do café, em 2014, podem oscilar entre US$ 1,15 e US$ 1,40 por libra-peso, mas só devem se recuperar em 2015, como consequência do chamado ciclo do café: os preços altos dos últimos anos incentivaram investimentos e maior produtividade. Com o cenário atual, produtores deverão reduzir o uso de insumos, o que pode afetar a qualidade e o rendimento para as próximas duas safras. Por isso, a tendência, diz Mermelstein, é de que oferta e demanda se ajustem.



Veículo: Valor Econômico


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