Para analistas, IGP-M trará alta agrícola

Leia em 3min 10s

A alta de grãos no mercado externo, aliada à depreciação cambial ocorrida desde maio, vai elevar os preços dos produtos agropecuários pela primeira vez desde dezembro de 2012 e acelerar o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), segundo economistas. Após apontar estabilidade em maio, a média de 15 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data projeta aumento de 0,72% do indicador em junho, que será divulgado hoje pela Fundação Getulio Vargas (FGV). As estimativas vão de 0,60% a 0,85%.

Adriana Molinari, da Tendências Consultoria, calcula que a média dos preços da soja na bolsa de Chicago subiu 4% de 21 de maio até 21 de junho contra a média do período anterior, comparação que corresponde à do IGP-M. Esse movimento, diz ela, será a principal fonte de pressão sobre o atacado e deve levar o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que responde por 60% do indicador geral, a subir 0,54%, ante queda de 0,3% em maio. Para o IGP-M, a expectativa de Adriana é de alta de 0,68% na medição atual.

Embora a desvalorização do real tenha sido considerável nos últimos dois meses, a economista avalia que a alta de commodities no mercado internacional, principalmente da soja, será preponderante para a variação de 1% projetada para os produtos agropecuários, após recuo de 1,98% na leitura anterior.

Em sua visão, questões pontuais estariam influenciando as cotações. "Os preços da soja captam problemas de oferta. Ainda que no Brasil a safra tenha sido alta, temos dificuldade de escoá-la para o mercado externo", diz. Como as novas safras no hemisfério norte ainda não foram colhidas, há um reflexo nos preços, que, para Adriana, é temporário.

No teto das projeções, Fernando Parmagnani, economista da Rosenberg & Associados, argumenta que boa parte da alta de 0,85% prevista para o IGP-M virá do movimento recente do câmbio. "Foi uma desvalorização muito intensa". Em suas projeções, o novo patamar do dólar terá efeito concentrado no indicador deste mês, principalmente nos preços agrícolas, que irão subir 1,5%. Parmagnani lembra que a soja também mostrou ascensão no mercado internacional, mas acredita que a tendência é de acomodação em patamares mais baixos nos próximos meses.

Segundo Luis Otávio de Souza Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil, as matérias-primas agrícolas vão pressionar o IGP-M na medição atual, para a qual prevê aumento de 0,73%. No médio prazo, no entanto, essa parte da inflação não preocupa tanto, mesmo com um câmbio mais depreciado. A subida da soja no mercado externo, afirma Leal, já está perdendo força com a expectativa de colheitas maiores nos EUA, o que pode compensar a escalada do dólar nas próximas leituras dos IGPs.

O IPA industrial, por outro lado, pode surpreender para cima em junho com o impacto do câmbio, que afeta diversos insumos do setor manufatureiro, pondera o economista do ABC. "Fora diesel e gasolina, todos os combustíveis e lubrificantes são cotados em dólar", observa Leal, que projeta avanço de 0,34% para 0,45% para os preços industriais.

Seguindo a trajetória do atacado, os economistas ouvidos esperam que Índice de Preços ao Consumidor-M (IPC-M), com peso 30% no indicador geral, ganhe fôlego em junho. A estimativa da Tendências é de alta de 0,40%, acima do 0,33% registrado em maio. Segundo Adriana, os reajustes de transporte público nas principais capitais do país, ainda que cancelados, foram válidos em boa parte do mês e irão mais que compensar a descompressão projetada para os alimentos.

Já divulgado pela FGV, o Índice Nacional de Custo da Construção-M (INNC-M), que representa apenas 10% do IGP, aumentou de 1,24% para 1,96% entre maio e junho, com alta de 0,56% para 0,58% na parte de materiais, equipamentos e serviços e variação maior, de 1,88% para 3,24%, nos custos de mão de obra, devido aos reajustes salariais concedidos em Brasília e São Paulo. (AM)



Veículo: Valor Econômico


Veja também

Manifestação piora cenário para o varejo

Os estragos e o fechamento antecipado de lojas provocados pelas manifestações desenham um cenário n...

Veja mais
Paraguai ataca Brasil na OMC por suspensão no Mercosul

O Paraguai resolveu denunciar sua suspensão no Mercosul diante dos demais 157 países-membros da Organiza&c...

Veja mais
China reclama de excesso de medidas antidumping contra seus produtos

A China, maior parceiro comercial do Brasil, questionou o país sobre a existência, ou não, de orient...

Veja mais
Milho brasileiro chega ao menor preço em três anos

SÃO PAULO - O preço do milho brasileiro atingiu esta semana seu menor patamar em três anos, aponta o...

Veja mais
CNA faz proposta para garantir oferta de feijão

BRASÍLIAA decisão da Câmara de Comércio Exterior (Camex) de zerar o imposto para importa&cced...

Veja mais
Aumento da classe média contribuiu para alta do comércio no Nordeste

SÃO PAULO - A expansão da classe média impulsionou o crescimento do varejo nas regiões Norte...

Veja mais
Pague Menos investe R$ 800 mi em 400 lojas

As Farmácias Pague Menos dão novo fôlego ao seu projeto de expansão orgânica e anunciam...

Veja mais
Estrangeiros não intimidam redes nacionais

O varejo ampliado (que inclui automóveis e material de construção) brasileiro teve 74,1% seu fatura...

Veja mais
EUA têm crescimento inferior ao esperado

O consumidor americano gastou menos do que se estimava inicialmente, pressionado por mais impostos, e a economia dos EUA...

Veja mais